A Operação israelense Wrath of God/Bayonet, criada por Golda Meir em 1972 para dizimar a интеллигенция / inteligentsia palestina e a liderança político-operacional da OLP, continuou na década de 80 com a mesma 'diligência'.
Continuou também com a mesma impunidade do terrorismo de Estado que Israel pratica através da IDF e dos grupos para-militares que a geraram implementando um projeto de 'limpeza' dos nativos a fim de criar um "estado judeu" "puro" em cima dos escombros de uma nação palestina pré-existente, e em cima de sangue, muito sangue inocente e muito sofrimento. Como o Daesh/ISIL/Estado Islâmico está fazendo agora no Iraque e na Síria em nome de um pseudo-direito contestável, contestado e forçado goela abaixo das populações desses dois países por vias bárbaras.
Na hásbara oportunista dos atentados de Paris, os sionistas andam tentando isentar-se de seu papel terrorista dando-o aos palestinos oprimidos por sua potência militar máxima. Por isso resolvi focar as próximas semanas essencialmente na sequência histórica da cruel e ilegal ocupação israelense da Palestina para que se entenda melhor o porquê da Terceira Intifada.
Continuou também com a mesma impunidade do terrorismo de Estado que Israel pratica através da IDF e dos grupos para-militares que a geraram implementando um projeto de 'limpeza' dos nativos a fim de criar um "estado judeu" "puro" em cima dos escombros de uma nação palestina pré-existente, e em cima de sangue, muito sangue inocente e muito sofrimento. Como o Daesh/ISIL/Estado Islâmico está fazendo agora no Iraque e na Síria em nome de um pseudo-direito contestável, contestado e forçado goela abaixo das populações desses dois países por vias bárbaras.
Na hásbara oportunista dos atentados de Paris, os sionistas andam tentando isentar-se de seu papel terrorista dando-o aos palestinos oprimidos por sua potência militar máxima. Por isso resolvi focar as próximas semanas essencialmente na sequência histórica da cruel e ilegal ocupação israelense da Palestina para que se entenda melhor o porquê da Terceira Intifada.
1981
Junho: No dia 1°, outro diplomata palestino foi assassinado na Europa. Naim Khader (ao lado), representante da OLP na Bélgica. Os palestinos logo acusaram Israel do crime, mas ficou por isso. Naim era um homem de paz cuja palavra de ordem era 'reconciliação' para a formação de dois Estados vizinhos vivendo em paz.
Em 2001, foi-lhe prestada homenagem e a televisão francesa a registrou: http://www.sonuma.be/archive/lassassinat-de-na%C3%AFm-khader
Agosto: No dia 04, Abu Daoud, comandante do Black September que admitira publicamente ter participado do plano de ataque em Munique, foi baleado no bar de um hotel de Varsóvia, mas sobreviveu ao atentado.
1982
Março: No dia 1°, foi a vez de Nabil Wadi Aranki ser assassinado em outra capital europeia. Em Madri.
Junho: No dia 17, o Mossad executou dois executivos da OLP em atentados separados em Roma.
Nazeyh Mayer, um dos gerentes do escritório da OLP em Roma, foi baleado na porta de sua casa.
Kamal Husain, o outro gerente do escritório da OLP, foi morto por uma bomba posta embaixo do assento de trás de seu carro. Morreu saindo da casa de seu companheiro recém-assassinado. O Mossad instalou a bomba no carro de Kamal enquanto ele estava dentro do prédio ajudando a polícia na investigação do assassinato de Nazeyh. Sem que ninguém visse os agentes do Esquadrão da Morte?
Julho: No dia 23, Fadl Dani, diretor do escritório da OLP em Paris foi executado do mesmo jeito.
1983
Agosto: No dia 21 outro alto executivo da OLP, Mamoun Meraish foi assassinado em seu carro por dois agentes do Mossad que o balearam de uma motocicleta.
1986
Junho: No dia 10, Khaled Ahmed Nazal, secretário geral da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, outra facção componente da OLP, foi assassinado na porta do hotel em Atenas com quatro tiros na cabeça.
Outubro: No dia 21 o Esquadrão da Morte explodiu também em Atenas Munzer Abu Ghazala, membro do comitê executivo do Conselho Nacional Palestino.
Abril: No dia 16, a Operation Wrath of God atingiu outro próximo de Yasser Arafat. Um amigo íntimo, leal, o braço direito do líder da OLP: Khalil Ismain al-Wazir, kunya - Abu Jihad (ao lado com Abu Ammar).
A estocada em Abu Ammar foi dolorosa. Incapaz de atingi-lo pessoalmente devido à sua mobilidade constante, à competência de sua guarda pessoal e o costume de só enfrentar forças desproporcionalmente inferiores, a IDF e o Mossad resolveram atacá-lo indiretamente executando Abu Jihad. Já falei nele na História do conflito que venho desenrolando desde 2011, mas vou repetir uma palavrinha sobre ele porque era pessoa cara a Arafat e peça mestra na OLP e no Fatah.
Khalil nasceu em 1935 em Ramla, na Palestina. Seu pai, Ibrahim al-Wazir, era merceeiro e a família viveu em harmonia até 1948, até a Naqba. Quando as brigadas para-militares judias invadiram Ramla e Lydda matando, destruindo e forçando ao êxodo cerca de 70 mil nativos, a família de Khalil estava na fila de palestinos que perderam a casa, a cidade, os pertences acumulados em gerações a custa de trabalho árduo, mas que conseguiram conservar a vida e marchavam para o exílio inexorável. Em sua tragédia familiar que era a mesma de centenas de famílias anônimas, os al-Wazir tiveram a sorte de conservar a vida. Indigentes da noite para o dia, de coração partido e com a semente da revolta criando raízes no âmago dos meninos, engrossaram outras filas no caminho do refúgio na Faixa de Gaza onde encontrariam centenas de indigentes conjunturais que, como eles, haviam sido amputados de moradia, direitos e nacionalidade.
Khalil tinha 13 anos quando seus pais se instalaram com os filhos no campo de refugiados de Bureij e os matricularam na escola do UNRWA, órgão da ONU responsável por refugiados. Sua revolta crescia todos os dias quando ao acordar em sua residência precária se lembrava de como e porquê a vida de sua família, e de tantas outras, fora destruída por invasores estrangeiros que tinham massacrado impiedosamente conhecidos e amigos diante de seus olhos e tantos outros compatriotas cujas histórias ouvia de seus novos vizinhos que chegavam ao campo de refugiados com relatos horrendos e com o horror nos olhos.
Khalil começou a militar na resistência ao entrar no Segundo Grau. Era um líder nato e na escola formou um grupo juvenil de fedayin** para azucrinar os soldados israelenses estacionados nas proximidades de Gaza e na Península do Sinai.
Ele tinha 19 anos quando conheceu Yasser Arafat em 1954. Arafat tinha 25. Os dois jovens carregavam em si a mesma rebeldia e os mesmos ideais de rever sua pátria autônoma e livre, como a tinham conhecido antes da invasão bárbara.
Khalil estava cursando arquitetura na Universidade de Alexandria quando foi preso pela primeira vez aos 20 anos, por ativismo. A detenção foi curta, mas ao ser solto foi direto para um campo de treinamento militar no Cairo, em 1956. Era a sombra de Arafat como mostra a foto ao lado mais tarde com Nasser.
No ano seguinte Khalil foi detido de novo durante mais tempo por suas atividades de fedayin e desta vez, ao sair abandonou a universidade porque já perdera o fio do curso e entendido que recuperar sua pátria era mais importante do que projetar imóveis cujos dias estavam contados como os de sua casa demolida em Ramla. De qualquer jeito não poderia continuar o curso mesmo que quisesse, pois foi expulso do Egito para a Arábia Saudita, onde começou a dar aula. De lá foi para o Koweite em 1959 onde continuou a ensinar e de onde estabeleceu contato com regimes comunistas e países árabes.
Nesse ínterim estreitara seus laços com Yasser Arafat e outros resistentes exilados com os quais no mesmo ano fundou o Fatah - acrônimo revertido de harakat at-tahir al-watani al-Filastini / Movimento Nacional de Libertação da Palestina - laico de centro-esquerda.
Graças a seu talento de comunicador e sua facilidade para escrever, em 1960 mudou-se para Beirute para dirigir a revista mensal Filastinuna, Nida' al-Hayat / 'Nossa Palestina, a chamada para a vida'. Dois anos depois instalou-se na Argélia cujo presidente Ahmed Ben Bella abrira as portas a Yasser Arafat, Farouk Kadoumi (Abu al-Lutf, um dos poucos companheiros de Yasser Arafat desde 1958 que sobreviveu à "limpeza" dos líderes combativos do Fatah. Fiel a seus ideais, é uma pedra no sapato da turma de Mahmoud Abbas) e outros líderes históricos da OLP, inclusive Abu Jihad.
Foi ele que abriu o primeiro escritório do Fatah e o campo de treinamento militar em Argel. Participou da delegação do Fatah a Pequin em 1964 e foi encarregado de expor as ideias de seu partido aos líderes chineses inclusive a Zhou Enlai, então "primeiro ministro" de Mao Tse-Tung cuja simpatia conquistou para a causa palestina.
Diz a lenda que o Che, Guevara, ficou encantado com Abu Jihad quando esteve em Argel. Os sobreviventes da velha guarda gostavam de lembrar este fato que mencionavam com orgulho toda vez que falavam em seu companheiro assassinado.
Abu Jihad era outro palestino super-dotado e em seu caso de talentos variados. Por isso virou o factotum sofisticado do Fatah assumindo altas responsabilidades. Além de comunicação, foi encarregado do recrutamento e treinamento de fedayin para a ala armada do Fatah, al-Assifa / a Tempestade, que passou a chefiar. Foi então que recrutou Abu Ali-Iyad (outra figura proeminente da OLP) que chefiaria a al-Assyfa na Síria e na Jordânia (onde foi assassinado em 1971 durante o Setembro Negro (Blog 01/01/12). Aliás, foi Abu Jihad que se encarregou do fornecimento de armas e medicamento a seus compatriotas durante a perseguição sanguinária do rei Hussein da Jordânia.
Após a derrota, ele foi para Beirute com os demais sobreviventes do Fatah. Foi então que integrou a OLP onde organizou várias operações da resistência contra Israel antes e durante a invasão do Líbano em 1982. Organizou a defesa de Beirute, mas os fedayin foram derrotados pela IDF - já um exército que dispunha das armas mais sofisticadas da época, como hoje.
Quando seus inimigos ocuparam o Líbano, a OLP teve de exilar-se alhures. Desta vez foram todos para a Tunísia. Abu Jihad primeiro passou dois anos em Amman antes de juntar-se aos camaradas em Tunis, de onde organizou comitês universitários nos territórios palestinos ocupados. Comitês que seriam a espinha dorsal das forças palestinas na Primeira Intifada. De cuja liderança foi privado por ter sido assassinado em Tunis, aos 52 anos, no dia 16 de abril de 1988, às 2 horas da madrugada, em casa. Foi surpreendido dormindo.
Para este assassinato também o Esquadrão da Morte do Mossad recorreu à IDF. O comandante das tropas especiais que o mataram foi o assassino profissional Ehud Barak. Ele e seus subordinados foram para Tunis de navio pesqueiro disfarçados de pescadores libaneses sequestrados para suas identidades serem roubadas para os terroristas acederem ao prédio da OLP sem alarde.
No dia 21 de abril Abu Jihad foi enterrado em Yarmouk, o campo de refugiados palestino na Síria considerado a capital dos palestinos da diáspora e hoje tristemente massacrado pelos selvagens do ISIL.
Abu Jihad casara-se em 1962 com Intissar al-Wazir. Teve cinco filhos. Duas mulheres - Iman e Hanan - e três homens - Jihad, Bassem e Nidal. Yasser Arafat não se esqueceu do amigo e levou sua família de volta para Gaza logo após a assinatura dos Acordos de Oslo. Na primeira oportunidade nomeou sua viúva ministra em 1996. Intissar, kunya, Umm Jihad, foi a primeira mulher a ocupar um ministério na Palestina e é deputada do Fatah. Seu filho Jihad é o atual diretor da Autoridade Monetária Palestina.
Em 2013 Israel reconheceu oficiosamente o assassinato liberando a entrevista que o oficial Nahum Lev da Sayeret Matkal deu a Ronen Bergman. Sem nenhuma repercução jurídica.
Na época do assassinato de Abu Jihad o United States Deprtment of State condenou sua morte como um "act of political assassination" e o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 161 condenando "the aggression perpetrated against the sovereignty and territorial integrity of Tunisia", sem mencionar Israel como autor do crime.
E ficou por isso. Em 2012, consciente de sua impunidade, Israel admitiu o assassinato
Junho: No dia 1°, outro diplomata palestino foi assassinado na Europa. Naim Khader (ao lado), representante da OLP na Bélgica. Os palestinos logo acusaram Israel do crime, mas ficou por isso. Naim era um homem de paz cuja palavra de ordem era 'reconciliação' para a formação de dois Estados vizinhos vivendo em paz.
Em 2001, foi-lhe prestada homenagem e a televisão francesa a registrou: http://www.sonuma.be/archive/lassassinat-de-na%C3%AFm-khader
Agosto: No dia 04, Abu Daoud, comandante do Black September que admitira publicamente ter participado do plano de ataque em Munique, foi baleado no bar de um hotel de Varsóvia, mas sobreviveu ao atentado.
1982
Março: No dia 1°, foi a vez de Nabil Wadi Aranki ser assassinado em outra capital europeia. Em Madri.
Junho: No dia 17, o Mossad executou dois executivos da OLP em atentados separados em Roma.
Nazeyh Mayer, um dos gerentes do escritório da OLP em Roma, foi baleado na porta de sua casa.
Kamal Husain, o outro gerente do escritório da OLP, foi morto por uma bomba posta embaixo do assento de trás de seu carro. Morreu saindo da casa de seu companheiro recém-assassinado. O Mossad instalou a bomba no carro de Kamal enquanto ele estava dentro do prédio ajudando a polícia na investigação do assassinato de Nazeyh. Sem que ninguém visse os agentes do Esquadrão da Morte?
Julho: No dia 23, Fadl Dani, diretor do escritório da OLP em Paris foi executado do mesmo jeito.
1983
Agosto: No dia 21 outro alto executivo da OLP, Mamoun Meraish foi assassinado em seu carro por dois agentes do Mossad que o balearam de uma motocicleta.
1986
Junho: No dia 10, Khaled Ahmed Nazal, secretário geral da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, outra facção componente da OLP, foi assassinado na porta do hotel em Atenas com quatro tiros na cabeça.
Outubro: No dia 21 o Esquadrão da Morte explodiu também em Atenas Munzer Abu Ghazala, membro do comitê executivo do Conselho Nacional Palestino.
1988
Fevereiro: No dia 14 o Mossad assassinou Abu al Assan Qasim e Hamdi Adwan em Limassol, no Chipre. O terceiro desta lista, Marwan Kanafami, escapou por pouco.Abril: No dia 16, a Operation Wrath of God atingiu outro próximo de Yasser Arafat. Um amigo íntimo, leal, o braço direito do líder da OLP: Khalil Ismain al-Wazir, kunya - Abu Jihad (ao lado com Abu Ammar).
A estocada em Abu Ammar foi dolorosa. Incapaz de atingi-lo pessoalmente devido à sua mobilidade constante, à competência de sua guarda pessoal e o costume de só enfrentar forças desproporcionalmente inferiores, a IDF e o Mossad resolveram atacá-lo indiretamente executando Abu Jihad. Já falei nele na História do conflito que venho desenrolando desde 2011, mas vou repetir uma palavrinha sobre ele porque era pessoa cara a Arafat e peça mestra na OLP e no Fatah.
Khalil nasceu em 1935 em Ramla, na Palestina. Seu pai, Ibrahim al-Wazir, era merceeiro e a família viveu em harmonia até 1948, até a Naqba. Quando as brigadas para-militares judias invadiram Ramla e Lydda matando, destruindo e forçando ao êxodo cerca de 70 mil nativos, a família de Khalil estava na fila de palestinos que perderam a casa, a cidade, os pertences acumulados em gerações a custa de trabalho árduo, mas que conseguiram conservar a vida e marchavam para o exílio inexorável. Em sua tragédia familiar que era a mesma de centenas de famílias anônimas, os al-Wazir tiveram a sorte de conservar a vida. Indigentes da noite para o dia, de coração partido e com a semente da revolta criando raízes no âmago dos meninos, engrossaram outras filas no caminho do refúgio na Faixa de Gaza onde encontrariam centenas de indigentes conjunturais que, como eles, haviam sido amputados de moradia, direitos e nacionalidade.
Khalil tinha 13 anos quando seus pais se instalaram com os filhos no campo de refugiados de Bureij e os matricularam na escola do UNRWA, órgão da ONU responsável por refugiados. Sua revolta crescia todos os dias quando ao acordar em sua residência precária se lembrava de como e porquê a vida de sua família, e de tantas outras, fora destruída por invasores estrangeiros que tinham massacrado impiedosamente conhecidos e amigos diante de seus olhos e tantos outros compatriotas cujas histórias ouvia de seus novos vizinhos que chegavam ao campo de refugiados com relatos horrendos e com o horror nos olhos.
Khalil começou a militar na resistência ao entrar no Segundo Grau. Era um líder nato e na escola formou um grupo juvenil de fedayin** para azucrinar os soldados israelenses estacionados nas proximidades de Gaza e na Península do Sinai.
Ele tinha 19 anos quando conheceu Yasser Arafat em 1954. Arafat tinha 25. Os dois jovens carregavam em si a mesma rebeldia e os mesmos ideais de rever sua pátria autônoma e livre, como a tinham conhecido antes da invasão bárbara.
Khalil estava cursando arquitetura na Universidade de Alexandria quando foi preso pela primeira vez aos 20 anos, por ativismo. A detenção foi curta, mas ao ser solto foi direto para um campo de treinamento militar no Cairo, em 1956. Era a sombra de Arafat como mostra a foto ao lado mais tarde com Nasser.
No ano seguinte Khalil foi detido de novo durante mais tempo por suas atividades de fedayin e desta vez, ao sair abandonou a universidade porque já perdera o fio do curso e entendido que recuperar sua pátria era mais importante do que projetar imóveis cujos dias estavam contados como os de sua casa demolida em Ramla. De qualquer jeito não poderia continuar o curso mesmo que quisesse, pois foi expulso do Egito para a Arábia Saudita, onde começou a dar aula. De lá foi para o Koweite em 1959 onde continuou a ensinar e de onde estabeleceu contato com regimes comunistas e países árabes.
Nesse ínterim estreitara seus laços com Yasser Arafat e outros resistentes exilados com os quais no mesmo ano fundou o Fatah - acrônimo revertido de harakat at-tahir al-watani al-Filastini / Movimento Nacional de Libertação da Palestina - laico de centro-esquerda.
Graças a seu talento de comunicador e sua facilidade para escrever, em 1960 mudou-se para Beirute para dirigir a revista mensal Filastinuna, Nida' al-Hayat / 'Nossa Palestina, a chamada para a vida'. Dois anos depois instalou-se na Argélia cujo presidente Ahmed Ben Bella abrira as portas a Yasser Arafat, Farouk Kadoumi (Abu al-Lutf, um dos poucos companheiros de Yasser Arafat desde 1958 que sobreviveu à "limpeza" dos líderes combativos do Fatah. Fiel a seus ideais, é uma pedra no sapato da turma de Mahmoud Abbas) e outros líderes históricos da OLP, inclusive Abu Jihad.
Foi ele que abriu o primeiro escritório do Fatah e o campo de treinamento militar em Argel. Participou da delegação do Fatah a Pequin em 1964 e foi encarregado de expor as ideias de seu partido aos líderes chineses inclusive a Zhou Enlai, então "primeiro ministro" de Mao Tse-Tung cuja simpatia conquistou para a causa palestina.
Diz a lenda que o Che, Guevara, ficou encantado com Abu Jihad quando esteve em Argel. Os sobreviventes da velha guarda gostavam de lembrar este fato que mencionavam com orgulho toda vez que falavam em seu companheiro assassinado.
Abu Jihad era outro palestino super-dotado e em seu caso de talentos variados. Por isso virou o factotum sofisticado do Fatah assumindo altas responsabilidades. Além de comunicação, foi encarregado do recrutamento e treinamento de fedayin para a ala armada do Fatah, al-Assifa / a Tempestade, que passou a chefiar. Foi então que recrutou Abu Ali-Iyad (outra figura proeminente da OLP) que chefiaria a al-Assyfa na Síria e na Jordânia (onde foi assassinado em 1971 durante o Setembro Negro (Blog 01/01/12). Aliás, foi Abu Jihad que se encarregou do fornecimento de armas e medicamento a seus compatriotas durante a perseguição sanguinária do rei Hussein da Jordânia.
Após a derrota, ele foi para Beirute com os demais sobreviventes do Fatah. Foi então que integrou a OLP onde organizou várias operações da resistência contra Israel antes e durante a invasão do Líbano em 1982. Organizou a defesa de Beirute, mas os fedayin foram derrotados pela IDF - já um exército que dispunha das armas mais sofisticadas da época, como hoje.
Quando seus inimigos ocuparam o Líbano, a OLP teve de exilar-se alhures. Desta vez foram todos para a Tunísia. Abu Jihad primeiro passou dois anos em Amman antes de juntar-se aos camaradas em Tunis, de onde organizou comitês universitários nos territórios palestinos ocupados. Comitês que seriam a espinha dorsal das forças palestinas na Primeira Intifada. De cuja liderança foi privado por ter sido assassinado em Tunis, aos 52 anos, no dia 16 de abril de 1988, às 2 horas da madrugada, em casa. Foi surpreendido dormindo.
Para este assassinato também o Esquadrão da Morte do Mossad recorreu à IDF. O comandante das tropas especiais que o mataram foi o assassino profissional Ehud Barak. Ele e seus subordinados foram para Tunis de navio pesqueiro disfarçados de pescadores libaneses sequestrados para suas identidades serem roubadas para os terroristas acederem ao prédio da OLP sem alarde.
No dia 21 de abril Abu Jihad foi enterrado em Yarmouk, o campo de refugiados palestino na Síria considerado a capital dos palestinos da diáspora e hoje tristemente massacrado pelos selvagens do ISIL.
Abu Jihad casara-se em 1962 com Intissar al-Wazir. Teve cinco filhos. Duas mulheres - Iman e Hanan - e três homens - Jihad, Bassem e Nidal. Yasser Arafat não se esqueceu do amigo e levou sua família de volta para Gaza logo após a assinatura dos Acordos de Oslo. Na primeira oportunidade nomeou sua viúva ministra em 1996. Intissar, kunya, Umm Jihad, foi a primeira mulher a ocupar um ministério na Palestina e é deputada do Fatah. Seu filho Jihad é o atual diretor da Autoridade Monetária Palestina.
Em 2013 Israel reconheceu oficiosamente o assassinato liberando a entrevista que o oficial Nahum Lev da Sayeret Matkal deu a Ronen Bergman. Sem nenhuma repercução jurídica.
Na época do assassinato de Abu Jihad o United States Deprtment of State condenou sua morte como um "act of political assassination" e o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 161 condenando "the aggression perpetrated against the sovereignty and territorial integrity of Tunisia", sem mencionar Israel como autor do crime.
E ficou por isso. Em 2012, consciente de sua impunidade, Israel admitiu o assassinato
Em seguida, advogados e jornalistas tunisianos deram queixa de Israel por atividades terroristas em seu território, mas não conseguiram justiça.
1992
Junho: No dia 08 o chefe de Inteligência da OLP Atef Bseiso, de 44 anos, foi morto por uma rajada de balas de dois assassinos em Paris, em pleno bairro de Montparnasse.
Junho: No dia 08 o chefe de Inteligência da OLP Atef Bseiso, de 44 anos, foi morto por uma rajada de balas de dois assassinos em Paris, em pleno bairro de Montparnasse.
Yasser Arafat logo acusou o Mossad, Israel se fez de bobo e a França engoliu o sapo. Gordo, pois o assassinato aconteceu em visita oficial do diretor de segurança externa da OLP à França.
Na época surgiu o boato que o serviço secreto francês revelara ao Mossad informações sobre a chegada de Bseiso de Berlin em Paris. Foi baleado na rua na frente de testemunhas. Uma delas declarou que uma jovem de cabelo curto preto empurrou Atef contra o carro do qual ele estava saindo enquanto um homem jovem de cabelo comprido anelado esvaziou o revóver no pescoço e no peito dele. Todos os depoimentos foram unânimes, os revóveres que os assassinos usaram tinham um saco preso para recolher os cartuchos das balas. Quando os guarda-costas de Atef reagiram, atiraram na mão de um dos assassinos e quando o outro ia atirar no outro assassino a mulher o apunhalou no pescoço e fugiu com seu colega no carro cinza que esperava ao lado pronto para arrancar.
O governo francês limitou-se a lançar um comunicado chamando o assassinato de "deplorable". Nos bastidores admitiram que o trabalho era dos "sweet tourists from Hell", se referindo aos dois agentes do Mossad. Os palestinos forneceram à polícia francesa até o nome dos assassinos: "We are sure it is the work of Zionist assassins called Gilli and Ranan", mas ficou por isso, embora ambos fossem conhecidos. A tal Gilli era uma agente canadense e o tal Ranan, recrutados na Columbia University em 1983 onde foi treinado por um diretor do Mossad chamado Meir Amit. Os dois foram promovidos rapidamente pra a Unidade Kidon, agência israelense de "caça" e assassinato. Eles operavam fora de Nova York, na California e na Europa. Acabaram se instalando perto de um resost em Pune, na India, com nomes em sanscrito, onde a mistura de nacionalidades e nomes diferentes permitiram que se locomovessem com mais facilidade sem levantar suspeita.
Apesar da Inteligência da OLP ser precisa, Israel disse que era "dubious and imaginative" sugerindo que o assassinato deveria ser furto de rivalidade internas.
Até Youssef Ibrahim do NYTimes na época descartou esta hasbara. E era pouquíssimo provável que sem a ajuda do serviço secreto francês ou no mínimo um vazamento de informação os agentes do Mossad tivessem conseguido levar a cabo o atentado. Ate foi assassinado apenas 6 horas após chegar em paris. Nem os jornalistas sabiam de seu itinerário. Seus colegas da OLP estavam horrorizados: "The speed with which exact information of his whereabout was gotten and the degree of professionalism with which it was carried out demands a logistical support suystem that extermist organizations simply do not possess." Disse o óbvio, a ouvidos moucos.
O assassinato de Atef Bseiso foi um golpe duro no esforço da OLP de construir uma relação diplomática na França e na Europa.
Mossad Killing Techniques (3x10'')
Notas
* Kunya - Teknímico comum na Jordânia, Síria, Líbano, Palestina, para referir-se aos pais pelo nome do filho primogênito. No caso Abu (pai) ou Umm (mãe) de.... Como por exemplo, Abu Ammar (Yasser Arafat); Abu Mazen (Mahmoud Abbas); Umm Jihad (Inssitar al-Wazir); etc. São usados sempre na vida social e profissional. Como o patronímico é a referência nominal na Rússia, como por exemplo, Mikhail Sergueievitch (filho de Serguei; para Gorbatchev) e Vladimir Vladimirovitch (filho de Vladimir; para Putin).
** Fedayin (singular, feda'i - quem arrisca a vida voluntariamente / aquele que se sacrifica). Termo que os Ismaelitas adeptos do 'Velho da Montanha' fundador do Estado Alamût usavam na Idade Média.
Aliás este dissenssor xiita indiano criou, sem querer, um adjetivo que se proliferaria nas línguas greco-romanas: assassino, proveniente da palavra árabe asâs, base/fundamento. Este senhor Hassan ibn al-Sabbah chamava seus seguidores de assassiyun - literalmente, 'quem é fiel a assas', ou seja, à base ou ao fundamento da fé. Palavra mal-entendida pelos ocidentais durante as cruzadas que a interpretaram à sua maneira, já que designava os combatentes que os matavam.
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