domingo, 15 de novembro de 2015

Beirute, Paris, Gaza, Hebron, terrorismos e o valor da vida


O terrorismo moderno tem duas faces. A de grupos para-militares (Al-Qaeda, Al-Nusrah, Daesh/ISIS/ISIL) que matam e destroem para obter um Estado e o de país já auto-determinado (Israel  e sua IDF).
Os primeiros são muçulmanos, datam de 14 anos, e em sua nova versão, três anos, atuam in loco e fora de seu perímetro, por golpes esporádicos e reivindica servidão a um califado que resgate o esplendor des impérios orientais que desmoronaram durante as Cruzadas e as guerras mundais por terem tomado o partido de Hitler, o errado. O protagonista desta novela islâmica é o Daesh, e suas pretensões, como se sabe, são de reconstituir o Levant em  Iraque, Síria e pedaços daqui e de acolá no Oriente Médio. Seus métodos são expeditivos e sua mensagem é clara: Quem não aderir a nossas ideias por bem, aderirá por mal ou virará cadáver.
O segundo terrorismo data de 67 anos, é quotidiano e reivindica servidão ao sionismo que cobiça um Grande Israel com fronteiras do Jordão ao Mar Mediterrâneo sem os nativos palestinos a serem dizimados pela força das armas de maneira também expeditiva e através de recursos furtivos mais sofisticados que os exterminem na surdina.
Hoje em dia o Daesh e a IDF protagonizam as maiores barbaridades do planeta. E como já disse anteriormente, são os únicos exércitos que aliciam jihadistas estrangeiros.
Na semana passada, a IDF concretizou mais uma etapa de sua limpeza étnica transformando Hebron em gueto de fato além de continuar sua 'limpeza' (termo que eles usam desde 1948) na Cisjordânia e na Faixa de Gaza sob indiferença geral. 
O Daesh também mudou a marcha de seu carro com dois ataques fora de seu perímetro de combate (Síria e Iraque).
Na quinta-feira dia 13 cometeu dois atentados suicidas coordenados na hora de ponta no bairro populoso e movimentado de Burj al-Barajneh, no sul de Beirute, matando 48 pessoas e deixando cerca de duzentos feridos.
No dia seguinte triplicou os atentados em Paris, perto do estádio e em vários lugares do 11° bairro (a cidade é constituída de 20) cheio de restaurantes, bares e casas de espetáculo.
Embora pareçam dissossiados, o modus operandis é semelhante porque ambas operações atingiram o objetivo de causar pânico, instabilidade e deixar marcas. Em Beirute o Daesh atacou um bairro residencial de dia, na hora de ponta. Em Paris, atacou um bairro de balada de jovens e de menos jovens na sexta-feira à noite.
Atacou duas cidades expressivas em mundos diferentes mas que se interligam culturalmente.
Beirute e Paris são duas cidades expoentes. A primeira, no Oriente Médio; a segunda, no Ocidente.
Paris é a capital turístico-cultural ocidental. Beirute é a capital financeiro-cultural oriental. Ambas cidades são cosmopolitas e representam um savoir vivre com características próprias. Atacar Paris é atacar o ocidente. Atacar Beirute é um pouco como atacar a porta que o Ocidente tem no Oriente, ao ver desses extremistas que diminuem o mundo e o classificam em categorias sectárias e reduzidas.
A única diferença entre as duas operações terroristas do Daesh da semana passada foi que a primeira, em Beirute, foi divulgada nos países árabes em destaque e passou quase desapercebida na mídia ocidental.
A segunda, em Paris, ganhou manchetes destacadíssimas da grande mídia e das redes sociais das quais se alimenta hoje a burguesia e os jovens (e menos jovens) que são incapazes de concentrar-se em mais de 3 linhas.

É mais uma prova da teoria que os isarelenses vêm demonstrando desde 1948 e multiplicada desde 1967: Há vidas que valem muito mais do que outras. É um fato vergonhoso mas inegável.
O Brasil é o meu país; sou brasileira de corpo e alma até a raiz dos cabelos. Mas Paris é minha segunda cidade, pela qual tenho um carinho especial. Apesar disso, lamento compungidamente as operações do Daesh aqui e em Beirute com a mesma intensidade; como lamento diariamente os atos abomináveis que o estado terrorista de Israel comete na Palestina. Pois, felizmente ou infelizmente, valorizo a vida de todo ser humano, conhecidos e desconhecidos, como a minha e a dos meus entes queridos.
Além de ser amoral, a prática dos dois pesos e duas medidas geram injustiça e promovem desigualdades que fomentam ressentimentos difíceis de apagar.
Por outro lado, o terrorismo visa aterrorizar, abalar os valores do aterrorizado. A arma contra ele é não se deixar amedrontar e viver.

Passando ao concreto, um jihadista do Daesh entrar em Beirute é fácil porque o Líbano está inundado de estrangeiros com ou sem estatuto de refugiados, está sem presidente há meses e literalmente desgovernado.
Mas a Paris, como chegaram? A teoria mais plausível é a da rota belga. Comprovada pela multa esquecida em um dos carros (VW Polo) de placa belga que transportaram os terroristas (segundo todas as testemunhas).
Ora, atos de terrorismo e crime comum só podem ser resolvidos através de indícios. E estes decorrem de negligências ou/e descuidos que podem ocorrer até em planos minuciosos e 'perfeitos'. Um dos terroristas que mataram 129 pessoas em Paris e feriram dezenas mais foi multado em Molenbeek, em Bruxelas. Este bairro é repertoriado na polícia como antro de miséria e de terroristas. O que leva à constatação também simples e comum neste tipo de ato: os serviços de informação da França e da Bélgica pisaram na bola feio.
Há pouco Molenbeek fora descrita por um jornalista belga como um "den of terrorists", onde os chamados 'retornados' da Síria e do Iraque se instalam ao voltar para a Europa ou fazem pausa para se 'organizarem'.
Molenbeek é hoje o que o Harlem era 40 anos atrás (pelo menos no imaginário popular). De dia a vida parece normal porque aloja majoritariamente famílias honestas e trabalhadoras, mas é moradia de salafistas clandestinos extremistas e de células terroristas que a polícia identifica, mas não consegue chacoalhar.
Per capita, a Bélgica é o país que mais exporta jihadistas para o Daesh (para a IDF, são os Estados Unidos). E Molenbeek é o ninho desses indivíduos. É um bairro tão esquisito (para os padrões europeus) que os bruxelenses chamam seus moradores de "zinneke", que significa 'híbrido'.
O marroquino Ayoub el-Khazzani, de 25 anos, que sacou sua kalashnikov e abriu fogo no trem em agosto morou lá.
O francês de origem argelina Mehdi Nemmouche, de 29 anos, que matou três pessoas em um museu de Bruxelas também morou lá durante certo tempo.
Um dos participantes da bomba de Madri em 2003, idem.
A descoberta da multa confirmou a presença em Bruxelas de um dos cidadãos franceses que participaram da carnifica e a partir daí foi fácil apreender os três outros que escaparam antes de cruzarem a fronteira.
Em seguida, a polícia belga teve de tomar a providência que devia ter tomado desde que Malenbeek virou a matriz europeia da empresa terrorista do Daesh, deu três blitz no bairro e o porta-voz da Promotoria belga declarou que "Multiple arrests and search warrants have been executed. These operations are still ongoing as we speak".
A pergunta que me fazem é 'como é possível que estes extremistas estivessem soltos?!'. Pois é. Pelo menos um dos participantes deste ataque coordenado em Paris era francês, nascido em 1985, morava em um subúrbio popular e era suspeito de extremismo desde 2010... Mas o antro europeu é mesmo Molenbeek, em Bruxelas, na Bélgica.
Um homem de 51 anos do Montenegro detido na Alemanha com explosivos e armas de assalto, faz parte desta rede.
Por outro lado, dois participantes do atentado em Paris detinham passaportes sírios, de um homem nascido em 1990 e outro nascido em 1980. Ambos tinham conexões com o Daesh. Entraram na Europa pela Grécia como refugiados ou roubaram passaportes de verdadeiros refugiados, para regozijo do Front National. Porém as aparências podem enganar por causa do tráfico de passaportes ser ótimo para terroristas de todas as nacionalidades. Vide Israel, que usou este meio para locomover seus agentes durante a operação Bayonnet nas décadas de 70 até início de 90.
Os adultos sírios e iraquianos solteiros que têm ideologia progressista estão lutando para defender seus países da praga que é o Estado Islâmico. Os demais podem ser suspeitos.

Molenbeek e outos antros terroristas continuam sendo os ninhos mais nocivos. Pois para um ataque da dimensão do de Paris, com a frieza e profissionalismo que a operação foi executada, é preciso uma coordenação física. Sem tais abrigos, as células extremistas viram um polvo sem tentáculos e sem meios de agir.
Por outro lado, bombardear não leva a nada. A única ação militar eficaz é a de botar tropas no solo. O resto é maquiagem.
Mas vai chegar uma hora em que ter-se-á de dialogar com el-Baghdadi  porque não dá mais para ignorar o assentamento do Daesh no Iraque, seu avanço na Síria e seu aliciamento de perdidos e fanáticos estrangeiros por internet, como faz com facilidade.
Derrotar o Daesh/ISIS/ISIL significa primeiro cortar o apoio de empresários e governos que negociam com ele, inclusive a Arábia Saudita e parar de criar mais raiva. É justamente por causa de bombardeios e intervenções no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na própria Síria que o Daesh existe e ganha terreno dia a dia.
Bombas nunca resolvem nada. Nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo.
Só o diálogo erradica os males.
Al Jazeera: Interactive - Enemy of Enemies: The Rise of ISIL


A boa notícia da semana foi a União Europeia (após meses de intervenção de lobbies sionistas para bloquear a medida e embora esta continue ligada às criminosas Elbit Systems e Israeli Aerospace Industries) ter ilegalizado oficialmente o que Israel produz nas colônias criando um código diferente.
Que o boicote prolifere e vigore!

Inside Story:  What's behind Israel's ban on Islamic Movement? Israeli-Palestinians call the ban persecution, an attempt to cover up Israel's security shortcomings.  

AJ+: A 'normal' day in Hebron

Enquanto isso, na Palestina, a Intifada continua, e com repressão cada vez mais violenta.
Eis o mapeamento da resistência: https://siddadel.ushahidi.io/views/map/

Mapping the dead in the intifada.

E eis os últimos artigos de Gideon Levy no Haaretz: 
What diplomatic freeze? Things are boiling in Israel and PalestineThere hasn’t been a single day when things have been frozen here, diplomatically or otherwise, for at least 20 years. And there won’t be – not while the occupation continues. 
To understand what 'to neutralize' means, look at this broken Palestinian manA young Palestinian participates in a tumultuous demonstration, Israeli undercover men knock him to the ground and shoot him point-blank. The result: Mohammed Ziada, 19, is partly paralyzed and wheelchair-bound. 
Norman Finkelstein: Why I believe in passports

Address the Root Cause of Violence: End the prolonged Israeli occupation and oppression of Palestinians.

War with Isis: Britain must learn from past mistakes before joining the civil war in SyriaIn Basra and Helmand province the outcome for Britain was humiliation limited only by the size of the forces engagedPatrick Cockburn.

Soldados da IDF disfarçados invadiram hospital em Hebron para executar um palestino que um invasor/colono judeu baleara. Israel executes Palestinian in hospital roomAli Abunimah.
So these are Israel’s new heroes? Israel’s recent military operations in Palestinian hospitals are a blatant violation of the Geneva Convention, and make you wonder how low the country can sink. .
Abby Martin interviews Max Blumenthal about the current intifada

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