No domingo, dia 02 de novembro de 2003, o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat (Abu Ammar) apresentou a plataforma de governo do novo Primeiro Ministro Ahmed Qurei (Abu Ala), que estava para ser substituído no Conselho Legislativo da Palestina.
E aproveitou para declarar-se pronto para retormar o diálogo com o governo de Ariel Sharon.
Na semana anterior o Primeiro Ministro de Israel dissera mais ou menos o mesmo.
Palavras vazias, pois no dia 05 a IDF voltou a investir Tulkarm e Nablus, ao norte da Cisjordânia. Atiraram na meninada que se defendia jogando pedras nos soldados. Mais de 14 meninos sofreram ferimentos graves, mas mesmo assim a IDF "jurava" que só utilizara as balas de borracha como efeito dissuasivo.
No fim da investida três palestinos jaziam sem vida.
Três dias depois a família de Mohammed el-Qayed, de 10 anos, o enterraria junto com mais seis compatriotas adultos e crianças. Todos mortos na segunda semana de Ramadão (nono mês do calendário islâmico durante o qual os muçulmanos praticam seu jejum ritual).
No dia 07, a ONG francesa Médecins du Monde denunciou em relatório público que Israel entravava o socorro aos palestinos feridos. "As barragens impedem os doentes, baleados, parturientes, crianças, idosos, recém-nascidos, ambulâncias de acederem aos hospitais e centros de tratamento."
Enfim, a denúncia repetia o que era de conhecimento público. Ou melhor, dos jornalistas que cobriam o conflito e os observadores estrangeiros que observavam, observavam, e deixavam por isso.
Ariel Sharon, de costas quentes, deu de ombros.
A ONU não disse nada sobre estes assuntos específicos, mas condenou a demolição de residências e "ordenou" que esta prática, contrária à Convenção de Genebra, "parasse imediatamente".
Deu a ordem, porém, não tomou nenhuma medida preventiva nem punitiva contra a infração que Israel cometia. Portanto, Ariel Sharon voltou a dar de ombros e continuou sua investida de usurpação de terra dos palestinos.
Como seus ataques eram em várias frentes, no dia 10 transgrediu de outrou jeito a Convenção de Genebra. Deportou o resistente palestino Kamal Idris de Hebron para Gaza, onde os caterpillars trabalharam bastante nesse dia violando a lei de não demolição de moradia. Demoliram mais de vinte. Passando em cima das casas de família como os lavradores passam em suas lavouras o arado.
Nessa onda, soldados da IDF mataram um senhor de 62 anos, um menino de 12, feriram gravemente um adolescente e prenderam mais um monte de gente. Dentre elas, importantes autoridades religiosas.
No dia seguinte a ONU retomou a palavra. Desta vez não foi para recriminar nada e sim para divulgar um relatório de seu Departamento Humanitário.
Este precisava que a cerca/muro que Israel estava construindo na Cisjordânia estava tirando 14,5% a mais do território palestino e afetando cerca de 680 mil habitantes. "Este muro vai isolar progressivamente 274 mil palestinos que vivem em 122 cidades e cidadezinhas.
Outros 400 mil palestinos que moram a leste da cerca de cimento armado terão de atravessá-la diariamente para ir à escola, ao trabalho e para aceder a suas roças.
Apenas 11% do traçado total de 680 km do muro respeitará a fronteira de 1967. Em alguns trechos ele invadirá até 22 km do território palestino."
O relatório foi lido, lavrado em ata, e foi para o arquivo.
Nada foi feito concretamente para bloquear o roubo de terra e as barragens que impediam/dem os palestinos de irem à escola e ao trabalho.
No dia seguinte, dia 11, foi a vez do suiço Jean Ziegler, investigador da ONU do Direito de alimentação, divulgar em Nova York suas descobertas.
Ziegler demonstrou com dados e fatos que Israel exercia uma estratégia política semelhante à do apartheid aplicado na África do Sul - então internacionalmente condenado e combatido com boicotes de toda ordem.
"61 por cento dos palestinos são mantidos em sub-alimentação crônica e 85 por cento são totalmente dependentes de ajuda alimentar externa," mostrou Ziegler. "A situação nos territórios ocupados é semelhante à de alguns países da África como o Tchad. A necessidade de segurança que Israel exprime é compreensível. Mas a segurança não deve ser invocada para toda medida que o país toma. Israel tem de garantir o direito à alimentação nos territórios que ocupa."
Aí o governo de Ariel Sharon bombardeou Jean Ziegler de insultos mais ou menos fortes.
Quanto à ONU, deixou por isso.
No mesmo dia que Ziegler apresentava seu relatório em Nova York, em Ramallah, os deputados palestinos aprovaram por 48 votos a favor, 13 contra e 5 abstenções os novos ministros e secretários do governo de Ahmed Qurei (Abu Ala).
Aisha, viúva de Ismail Abu Shanab, que o Shin Bet assassinara poucas semanas atrás, fazia parte do Ministério.
Abu Ala aproveitou a visibilidade midiática para dirigir-se publicamente a Ariel Sharon. "Estendo-lhe a mão com sinceridade a fim de chegarmos a um cessar-fogo e poupar civis de ambos os lados. E respeitar os palestinos e seu presidente."
Dirigiu-se também a seus compatriotas resistentes, "acabem com os atos de violência e com o caos que reina em nossos territórios."
A resposta de Sylvan Shalom, ministro das Relações Exteriores de Israel, foi que só reconheceria o governo de Ahmed Qurei como "parceiro real se ele agir contra os grupos armados." Não garantiu nenhuma folga na campanha israelense de assassinatos e nem uma possível trégua da IDF.
A única ação concreta foi um tapa na cara das Nações Unidas com o anúncio da construção de uma nova extensão do muro além da Linha Verde.
Uma manifestação na Cisjordânia seguiu o anúncio e a IDF a reprimiu com cassetada e bala.
As centenas de pessoas que manifestavam era uma miscelânia de pacifistas palestinos, israelenses e estrangeiros.
No dia em que celebramos a Proclamação da República, o jornal israelense Yedot Ahronot publicou uma entrevista explosiva com quatro ex-diretores do Shin Bet (Serviço de Inteligência interna de Israel).
Nela, Avraham Shalom (1981-86), Yaakov Peri (1988-94), Carmi Gilon (1995-96), Ami Ayalon (1996-2000) criticaram acerbamente a política de Ariel Sharon nos Territórios palestinos ocupados.
"A ocupação destrói o moral da nação e mina a economia do país. O prosseguimento da ocupação fecha todas as perspectivas de futuro para a populaço jovem," disseram em uníssono.
Para eles, "os colonos têm de preparar-se para o inevitável, o fim da ocupação e o desmantelamento das implantações".
Preconizaram então "começar o desmantelamento das colônias na Faixa de Gaza, onde residem 7.000 colonos em um território super-populado por 1.2 milhões de palestinos. Se Israel não chegar a um acordo com os palestinos, a retirada tem de ser unilateral."
No mesmo dia em que os israelenses mais bem informados sobre a situação real botavam a boca no trombone, a Corte Suprema de Tel Aviv, por unanimidade, condenou a censura da Comissão Israelense de Cinema do filme JENIN JENIN, de Mohamad Bacri, que narrava o bombardeio da cidade palestina em 2002.
O mesmo filme fora desprogramado na França no dia 1° de abril. Sucumbindo às pressões do lobby judeu, a TV franco-alemã ARTE o tirara do programa na última hora.
Foi passado no Brasil?
No domingo, dia 16, um grupo de parlamentares, o ex-ministro Yossi Beilin e dois deputados do Partido Trabalhista, Amram Mitzna e Avraham Burg, entregaram a Ariel Sharon uma cópia da Iniciativa de Genebra, plano de paz não oficial pronto para ser assinado no dia 1° de dezembro em Calvin, na Suiça.
Foram impressas e distribuídas pelo correio 1.9 milhões de cópias em hebraico, 200 mil em árabe e 100 mil em russo (para os "colonos importados", analfabetos em hebraico).
Na segunda, o Quarteto para o Oriente Médio pressionou Israel para desmantelar as colônias que obstaculavam a implementação do Road Map, e Abu Ala pediu para os grupos palestinos de resistência calarem as armas e darem um tempo para o poeira baixar.
Porém, dois de seus compatriotas haviam sido mortos na véspera em Rafah, na Faixa de Gaza, e os choros nos enterros abafaram suas palavras.
Na quarta-feira, dia 18 de novembro, o Ministro da Energia de Israel Joseph Paritzky concluiu um acordo com o Ministério de Energia palestino em relação ao aprovisionamento de eletricidade.
Desde 1967 que Israel tomou posse dos centros de abastecimento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Tanto de água quanto de eletricidade.
Desde então, além de controlar ambas como bem lhe apraz, cortando e/ou regrando à vontade, cobra/va um preço exorbitante às empresas, às famílias e aos órgãos administrativos palestinos.
Já os "colonos" judeus instalados nas invasões sempre beneficiaram de tarifas "preferenciais" bem abaixo da que os palestinos pagam. E para eles, nem a água nem a eletricidade são regradas.
Uma das reclamações dos palestinos é/era que a IDF bombardeava sistematicamente as redes de eletricidade e os centros de abastecimento em energia e água. Onerando ainda mais a Autoridade Palestina e deteriorando ainda mais a qualidade de vida dos palestinos.
No dia 18, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina baseada na Síria) matou dois soldados da IDF em uma embuscada perto de Belém.
A IDF descontou no mesmo dia nos civis em Rafah.
Bombardearam o sul da Faixa de Gaza "para destruir túneis de contrabando", dinamitaram oito residências, e deixaram para trás seis feridos graves.
No dia 20 o Ministro das Relações Exteriores de Israel rejeitou publicamente o apelo do Quarteto para que maneirasse.
Foi pena, pois o Hamas e o Jihad Islâmico da Faixa de Gaza concordaram em participar de negociações de paz marcadas para o mês de dezembro no Cairo.
No mesmo dia, em visita a Roma, Ariel Sharon mostrou que estava se lixando até para o Vaticano. Fez uma desfeita ao Papa fazendo ouvidos moucos à vontade que João Paulo II manifestou de encontrá-lo, embora tivesse espaço de sobra em sua agenda.
Isto porque João Paulo II, no sermão da missa do Angelus no domingo, declarara que "A construção de um muro de separação entre o povo israelense e o povo palestino é visto por muitos como novo obstáculo ao caminho de uma convivência pacífica. Na verdade, a Terra Santa não precisa de muros e sim de pontes."
Mas contruir pontes não era o forte do Primeiro Ministro de Israel. Ariel Sharon não dialogava com quem discordava de seus meios e de seus atos.
Enquanto isso a ONU continuava sua maratona de resoluções infrutíferas. O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a proposta da França, Chile e Rússia de apoiar o Road Map, cujo objetivo era "resolver o conflito de uma vez por todas até 2005" por etapas bem determinadas.
Desta vez foi Ehud Olmert, então vice-Primeiro Ministro que fez pouco caso das Nações Unidas declarando: "Pode ser que retomemos as negociações com este novo governo palestino sobre o Road Map, mas não por causa da resolução do Conselho de Segurança, pois Israel não se sente comprometido com esta resolução."
Irrelevava esta e todas as decisões tomadas pelas Nações Unidas desde a auto-proclamação de seu Estado nas fronteiras que traçara, em vez das fronteiras legais traçadas pela ONU.
Nesse dia 21 de novembro, saiu a proibição antecipada para o dia do fim do Ramadão, que os muçulmanos concluem com uma oração na mesquita. Somente os homens de mais de 45 anos e as mulheres de mais de 35 foram autorizados a cumprir este ritual no dia 25.
No dia 22, milhares de manifestantes saíram às ruas do campo de refugiados de Jabalyia, na Faixa de Gaza, para protestar contra a renúncia palestina ao direito de retorno dos refugiados, um dos capítulos da Iniciativa de Genebra.
Três dias depois o Hamas rejeitaria oficialmente a Iniciativa de Genebra pelas mesmas razões.
No dia 27 três civis palestinos, inclusive uma mãe de família, foram assassinados na Faixa de Gaza perto de uma invasão judia.
Por coincidência, chegou de Washington uma das poucas notícias que podiam abalar Ariel Sharon.
Os Estados Unidos ameaçavam diminuir 10% do patrocínio do combate à Intifada - correspondentes a US$ 290 milhões - caso Ariel Sharon não concordasse com suas exigências de frear a colonização e o muro nos territórios palestinos ocupados.
Vale lembrar que em 2003, George W. Bush dera US$1 bilhão a mais aos israelenses para o combate à Intifada.
(Os EUA ajudam Israel anualmente com US$3 bilhões. Dentre os quais, US$2.1 bilhões em armamento. Contando as doações privadas, Israel recebe dos EUA uma média de US$10 bilhões anuais.)
No dia 28 a IDF admitiu o "erro" da morte dos três civis citados acima, mas justificou o engano com o argumento da necessidade de proteger os colonos.
Quanto a Ariel Sharon, na entrevista coletiva anual dedicada à imprensa israelense, repetiu que não pararia a construção do muro de separação de jeito nenhum.
"Nós estamos acelerando a construção e não pararemos porque é vital para a segurança do Estado."
Ele falou grosso em Tel Aviv. Em Nova York seu embaixador na ONU, após receber críticas abundantes, retirou um projeto de resolução apresentado no dia 29 de outubro à Comissão Social, Cultural e Humanitária em que pedia a "proteção das crianças israelenses vítimas da violência dos palestinos."
Tal projeto fora apresentado em oposição a uma resolução - aprovada na semana precedente - que criticava as consequências nefastas das operações militares israelenses para as crianças palestinas.
O observador palestino na ONU dissera então que a resolução que os israelenses tentavam esvaziar fora aprovada não apenas por causa das 500 crianças palestinas mortas e as milhares feridas durante a Intifada, "e sim porque são todas as crianças palestinas que são privadas de todos os direitos enumerados na Convenção da Infância."
Aliás, nesse ínterim, em mais um "erro" da IDF, seis palestinos estavam sendo enterrados. Inclusive um adolescente de 15 anos e um menino de nove.
Os conflitos do mês de novembro terminaram no dia 29 com a declaração de Ariel Sharon que desmantelaria as invasões-assentamentos judeus na Faixa de Gaza por impossibilidade de garantir a segurança dos colonos.
Anunciou também que abriria outras na Cisjordânia.
Esta parte do final do discurso foi divulgada como aquelas letrinhas de contrato de vendedor ou empresário mala.
A primeira parte do desmantelamento saiu em letras garrafais na imprensa como se fosse um presente de Sharon, e não parte da estratégia para um posterior bombardeamento.
A segunda parte da expansão na Cisjordânia perdeu-se em algum lugar entre a declaração, os repórteres e as matérias publicadas nos jornais. No mundo inteiro, conta-se nos dedos de uma mão quem "pensou" em divulgá-la.
Na semana anterior o Primeiro Ministro de Israel dissera mais ou menos o mesmo.
Palavras vazias, pois no dia 05 a IDF voltou a investir Tulkarm e Nablus, ao norte da Cisjordânia. Atiraram na meninada que se defendia jogando pedras nos soldados. Mais de 14 meninos sofreram ferimentos graves, mas mesmo assim a IDF "jurava" que só utilizara as balas de borracha como efeito dissuasivo.
No fim da investida três palestinos jaziam sem vida.
Três dias depois a família de Mohammed el-Qayed, de 10 anos, o enterraria junto com mais seis compatriotas adultos e crianças. Todos mortos na segunda semana de Ramadão (nono mês do calendário islâmico durante o qual os muçulmanos praticam seu jejum ritual).
No dia 07, a ONG francesa Médecins du Monde denunciou em relatório público que Israel entravava o socorro aos palestinos feridos. "As barragens impedem os doentes, baleados, parturientes, crianças, idosos, recém-nascidos, ambulâncias de acederem aos hospitais e centros de tratamento."
Enfim, a denúncia repetia o que era de conhecimento público. Ou melhor, dos jornalistas que cobriam o conflito e os observadores estrangeiros que observavam, observavam, e deixavam por isso.
Ariel Sharon, de costas quentes, deu de ombros.
A ONU não disse nada sobre estes assuntos específicos, mas condenou a demolição de residências e "ordenou" que esta prática, contrária à Convenção de Genebra, "parasse imediatamente".
Deu a ordem, porém, não tomou nenhuma medida preventiva nem punitiva contra a infração que Israel cometia. Portanto, Ariel Sharon voltou a dar de ombros e continuou sua investida de usurpação de terra dos palestinos.
Como seus ataques eram em várias frentes, no dia 10 transgrediu de outrou jeito a Convenção de Genebra. Deportou o resistente palestino Kamal Idris de Hebron para Gaza, onde os caterpillars trabalharam bastante nesse dia violando a lei de não demolição de moradia. Demoliram mais de vinte. Passando em cima das casas de família como os lavradores passam em suas lavouras o arado.
Nessa onda, soldados da IDF mataram um senhor de 62 anos, um menino de 12, feriram gravemente um adolescente e prenderam mais um monte de gente. Dentre elas, importantes autoridades religiosas.
No dia seguinte a ONU retomou a palavra. Desta vez não foi para recriminar nada e sim para divulgar um relatório de seu Departamento Humanitário.
Este precisava que a cerca/muro que Israel estava construindo na Cisjordânia estava tirando 14,5% a mais do território palestino e afetando cerca de 680 mil habitantes. "Este muro vai isolar progressivamente 274 mil palestinos que vivem em 122 cidades e cidadezinhas.
Outros 400 mil palestinos que moram a leste da cerca de cimento armado terão de atravessá-la diariamente para ir à escola, ao trabalho e para aceder a suas roças.
Apenas 11% do traçado total de 680 km do muro respeitará a fronteira de 1967. Em alguns trechos ele invadirá até 22 km do território palestino."
O relatório foi lido, lavrado em ata, e foi para o arquivo.
Nada foi feito concretamente para bloquear o roubo de terra e as barragens que impediam/dem os palestinos de irem à escola e ao trabalho.
No dia seguinte, dia 11, foi a vez do suiço Jean Ziegler, investigador da ONU do Direito de alimentação, divulgar em Nova York suas descobertas.
Ziegler demonstrou com dados e fatos que Israel exercia uma estratégia política semelhante à do apartheid aplicado na África do Sul - então internacionalmente condenado e combatido com boicotes de toda ordem.
"61 por cento dos palestinos são mantidos em sub-alimentação crônica e 85 por cento são totalmente dependentes de ajuda alimentar externa," mostrou Ziegler. "A situação nos territórios ocupados é semelhante à de alguns países da África como o Tchad. A necessidade de segurança que Israel exprime é compreensível. Mas a segurança não deve ser invocada para toda medida que o país toma. Israel tem de garantir o direito à alimentação nos territórios que ocupa."
Aí o governo de Ariel Sharon bombardeou Jean Ziegler de insultos mais ou menos fortes.
Quanto à ONU, deixou por isso.
No mesmo dia que Ziegler apresentava seu relatório em Nova York, em Ramallah, os deputados palestinos aprovaram por 48 votos a favor, 13 contra e 5 abstenções os novos ministros e secretários do governo de Ahmed Qurei (Abu Ala).
Aisha, viúva de Ismail Abu Shanab, que o Shin Bet assassinara poucas semanas atrás, fazia parte do Ministério.
Abu Ala aproveitou a visibilidade midiática para dirigir-se publicamente a Ariel Sharon. "Estendo-lhe a mão com sinceridade a fim de chegarmos a um cessar-fogo e poupar civis de ambos os lados. E respeitar os palestinos e seu presidente."
Dirigiu-se também a seus compatriotas resistentes, "acabem com os atos de violência e com o caos que reina em nossos territórios."
A resposta de Sylvan Shalom, ministro das Relações Exteriores de Israel, foi que só reconheceria o governo de Ahmed Qurei como "parceiro real se ele agir contra os grupos armados." Não garantiu nenhuma folga na campanha israelense de assassinatos e nem uma possível trégua da IDF.
A única ação concreta foi um tapa na cara das Nações Unidas com o anúncio da construção de uma nova extensão do muro além da Linha Verde.
Uma manifestação na Cisjordânia seguiu o anúncio e a IDF a reprimiu com cassetada e bala.
As centenas de pessoas que manifestavam era uma miscelânia de pacifistas palestinos, israelenses e estrangeiros.
No dia em que celebramos a Proclamação da República, o jornal israelense Yedot Ahronot publicou uma entrevista explosiva com quatro ex-diretores do Shin Bet (Serviço de Inteligência interna de Israel).
Nela, Avraham Shalom (1981-86), Yaakov Peri (1988-94), Carmi Gilon (1995-96), Ami Ayalon (1996-2000) criticaram acerbamente a política de Ariel Sharon nos Territórios palestinos ocupados.
"A ocupação destrói o moral da nação e mina a economia do país. O prosseguimento da ocupação fecha todas as perspectivas de futuro para a populaço jovem," disseram em uníssono.
Para eles, "os colonos têm de preparar-se para o inevitável, o fim da ocupação e o desmantelamento das implantações".
Preconizaram então "começar o desmantelamento das colônias na Faixa de Gaza, onde residem 7.000 colonos em um território super-populado por 1.2 milhões de palestinos. Se Israel não chegar a um acordo com os palestinos, a retirada tem de ser unilateral."
No mesmo dia em que os israelenses mais bem informados sobre a situação real botavam a boca no trombone, a Corte Suprema de Tel Aviv, por unanimidade, condenou a censura da Comissão Israelense de Cinema do filme JENIN JENIN, de Mohamad Bacri, que narrava o bombardeio da cidade palestina em 2002.
O mesmo filme fora desprogramado na França no dia 1° de abril. Sucumbindo às pressões do lobby judeu, a TV franco-alemã ARTE o tirara do programa na última hora.
Foi passado no Brasil?
No domingo, dia 16, um grupo de parlamentares, o ex-ministro Yossi Beilin e dois deputados do Partido Trabalhista, Amram Mitzna e Avraham Burg, entregaram a Ariel Sharon uma cópia da Iniciativa de Genebra, plano de paz não oficial pronto para ser assinado no dia 1° de dezembro em Calvin, na Suiça.
Foram impressas e distribuídas pelo correio 1.9 milhões de cópias em hebraico, 200 mil em árabe e 100 mil em russo (para os "colonos importados", analfabetos em hebraico).
Na segunda, o Quarteto para o Oriente Médio pressionou Israel para desmantelar as colônias que obstaculavam a implementação do Road Map, e Abu Ala pediu para os grupos palestinos de resistência calarem as armas e darem um tempo para o poeira baixar.
Porém, dois de seus compatriotas haviam sido mortos na véspera em Rafah, na Faixa de Gaza, e os choros nos enterros abafaram suas palavras.
Na quarta-feira, dia 18 de novembro, o Ministro da Energia de Israel Joseph Paritzky concluiu um acordo com o Ministério de Energia palestino em relação ao aprovisionamento de eletricidade.
Desde 1967 que Israel tomou posse dos centros de abastecimento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Tanto de água quanto de eletricidade.
Desde então, além de controlar ambas como bem lhe apraz, cortando e/ou regrando à vontade, cobra/va um preço exorbitante às empresas, às famílias e aos órgãos administrativos palestinos.
Já os "colonos" judeus instalados nas invasões sempre beneficiaram de tarifas "preferenciais" bem abaixo da que os palestinos pagam. E para eles, nem a água nem a eletricidade são regradas.
Uma das reclamações dos palestinos é/era que a IDF bombardeava sistematicamente as redes de eletricidade e os centros de abastecimento em energia e água. Onerando ainda mais a Autoridade Palestina e deteriorando ainda mais a qualidade de vida dos palestinos.
No dia 18, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina baseada na Síria) matou dois soldados da IDF em uma embuscada perto de Belém.
A IDF descontou no mesmo dia nos civis em Rafah.
Bombardearam o sul da Faixa de Gaza "para destruir túneis de contrabando", dinamitaram oito residências, e deixaram para trás seis feridos graves.
No dia 20 o Ministro das Relações Exteriores de Israel rejeitou publicamente o apelo do Quarteto para que maneirasse.
Foi pena, pois o Hamas e o Jihad Islâmico da Faixa de Gaza concordaram em participar de negociações de paz marcadas para o mês de dezembro no Cairo.
No mesmo dia, em visita a Roma, Ariel Sharon mostrou que estava se lixando até para o Vaticano. Fez uma desfeita ao Papa fazendo ouvidos moucos à vontade que João Paulo II manifestou de encontrá-lo, embora tivesse espaço de sobra em sua agenda.
Isto porque João Paulo II, no sermão da missa do Angelus no domingo, declarara que "A construção de um muro de separação entre o povo israelense e o povo palestino é visto por muitos como novo obstáculo ao caminho de uma convivência pacífica. Na verdade, a Terra Santa não precisa de muros e sim de pontes."
Mas contruir pontes não era o forte do Primeiro Ministro de Israel. Ariel Sharon não dialogava com quem discordava de seus meios e de seus atos.
Enquanto isso a ONU continuava sua maratona de resoluções infrutíferas. O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a proposta da França, Chile e Rússia de apoiar o Road Map, cujo objetivo era "resolver o conflito de uma vez por todas até 2005" por etapas bem determinadas.
Desta vez foi Ehud Olmert, então vice-Primeiro Ministro que fez pouco caso das Nações Unidas declarando: "Pode ser que retomemos as negociações com este novo governo palestino sobre o Road Map, mas não por causa da resolução do Conselho de Segurança, pois Israel não se sente comprometido com esta resolução."
Irrelevava esta e todas as decisões tomadas pelas Nações Unidas desde a auto-proclamação de seu Estado nas fronteiras que traçara, em vez das fronteiras legais traçadas pela ONU.
Nesse dia 21 de novembro, saiu a proibição antecipada para o dia do fim do Ramadão, que os muçulmanos concluem com uma oração na mesquita. Somente os homens de mais de 45 anos e as mulheres de mais de 35 foram autorizados a cumprir este ritual no dia 25.
No dia 22, milhares de manifestantes saíram às ruas do campo de refugiados de Jabalyia, na Faixa de Gaza, para protestar contra a renúncia palestina ao direito de retorno dos refugiados, um dos capítulos da Iniciativa de Genebra.
Três dias depois o Hamas rejeitaria oficialmente a Iniciativa de Genebra pelas mesmas razões.
No dia 27 três civis palestinos, inclusive uma mãe de família, foram assassinados na Faixa de Gaza perto de uma invasão judia.
Por coincidência, chegou de Washington uma das poucas notícias que podiam abalar Ariel Sharon.
Os Estados Unidos ameaçavam diminuir 10% do patrocínio do combate à Intifada - correspondentes a US$ 290 milhões - caso Ariel Sharon não concordasse com suas exigências de frear a colonização e o muro nos territórios palestinos ocupados.
Vale lembrar que em 2003, George W. Bush dera US$1 bilhão a mais aos israelenses para o combate à Intifada.
(Os EUA ajudam Israel anualmente com US$3 bilhões. Dentre os quais, US$2.1 bilhões em armamento. Contando as doações privadas, Israel recebe dos EUA uma média de US$10 bilhões anuais.)
No dia 28 a IDF admitiu o "erro" da morte dos três civis citados acima, mas justificou o engano com o argumento da necessidade de proteger os colonos.
Quanto a Ariel Sharon, na entrevista coletiva anual dedicada à imprensa israelense, repetiu que não pararia a construção do muro de separação de jeito nenhum.
"Nós estamos acelerando a construção e não pararemos porque é vital para a segurança do Estado."
Ele falou grosso em Tel Aviv. Em Nova York seu embaixador na ONU, após receber críticas abundantes, retirou um projeto de resolução apresentado no dia 29 de outubro à Comissão Social, Cultural e Humanitária em que pedia a "proteção das crianças israelenses vítimas da violência dos palestinos."
Tal projeto fora apresentado em oposição a uma resolução - aprovada na semana precedente - que criticava as consequências nefastas das operações militares israelenses para as crianças palestinas.
O observador palestino na ONU dissera então que a resolução que os israelenses tentavam esvaziar fora aprovada não apenas por causa das 500 crianças palestinas mortas e as milhares feridas durante a Intifada, "e sim porque são todas as crianças palestinas que são privadas de todos os direitos enumerados na Convenção da Infância."
Aliás, nesse ínterim, em mais um "erro" da IDF, seis palestinos estavam sendo enterrados. Inclusive um adolescente de 15 anos e um menino de nove.
Os conflitos do mês de novembro terminaram no dia 29 com a declaração de Ariel Sharon que desmantelaria as invasões-assentamentos judeus na Faixa de Gaza por impossibilidade de garantir a segurança dos colonos.
Anunciou também que abriria outras na Cisjordânia.
Esta parte do final do discurso foi divulgada como aquelas letrinhas de contrato de vendedor ou empresário mala.
A primeira parte do desmantelamento saiu em letras garrafais na imprensa como se fosse um presente de Sharon, e não parte da estratégia para um posterior bombardeamento.
A segunda parte da expansão na Cisjordânia perdeu-se em algum lugar entre a declaração, os repórteres e as matérias publicadas nos jornais. No mundo inteiro, conta-se nos dedos de uma mão quem "pensou" em divulgá-la.
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
Only now, when I talk to guys who were my soldiers as a deputy company commander, do I realize what really went on then. That people were taking stuff and we didn't know about it at all. It depends on the severity of cases. Whatever was known was severely punished. Really. What do I mean by punished? We did everything that should be done. The battalion commander referred them to Military Police Investigations, and they investigated and inquired.
Were their punishments severe or light?
I can't judge that. Let whoever judged decide. I think that punishments given soldier who did that were not severe enough.... A person took money out of a Palestinian's ID. The Palestinian had some money he'd earned. He has no wallet, sticks everything inside his ID. So the dumb soldiers…
The soldier took the ID?
For inspection, and inside there was money, so he took the money. You get it? He's not stupid, that Palestinian. He complained, he discovered it was missing and it was looked into. So this whole subject came up. We need to take their money? I don't even know how much was in there. I think it was 150-200 shekels. The soldiers got a 30-day jail sentence. Something like that. I don't even know if actually in jail or just a suspended sentence.
What else was looted?
Stuff from people's homes, photo-maps of Palestine, knives.
Guys took them as souvenirs? For their own use? Both?
Souvenirs. No one would do anything about those. People took blankets. What would you do with a woolen blanket from a Palestinian home, which sorry to say is all stinking and disgusting on top of everything else, but what do you need it for? They took those.
Money? Electrical appliances?
I don't think they had so many expensive complex gadgets, but I think there were all sorts of souvenirs taken.
Were there company lootings? Gear for the company, or stuff that the whole company would pick up?
Not in my own company. Perhaps in others. I don't know this personally so I can't tell you, but I think there were. People took all sorts of things - everyone knew about it – for their companies. Depoimento de um tenente da IDF
Were their punishments severe or light?
I can't judge that. Let whoever judged decide. I think that punishments given soldier who did that were not severe enough.... A person took money out of a Palestinian's ID. The Palestinian had some money he'd earned. He has no wallet, sticks everything inside his ID. So the dumb soldiers…
The soldier took the ID?
For inspection, and inside there was money, so he took the money. You get it? He's not stupid, that Palestinian. He complained, he discovered it was missing and it was looked into. So this whole subject came up. We need to take their money? I don't even know how much was in there. I think it was 150-200 shekels. The soldiers got a 30-day jail sentence. Something like that. I don't even know if actually in jail or just a suspended sentence.
What else was looted?
Stuff from people's homes, photo-maps of Palestine, knives.
Guys took them as souvenirs? For their own use? Both?
Souvenirs. No one would do anything about those. People took blankets. What would you do with a woolen blanket from a Palestinian home, which sorry to say is all stinking and disgusting on top of everything else, but what do you need it for? They took those.
Money? Electrical appliances?
I don't think they had so many expensive complex gadgets, but I think there were all sorts of souvenirs taken.
Were there company lootings? Gear for the company, or stuff that the whole company would pick up?
Not in my own company. Perhaps in others. I don't know this personally so I can't tell you, but I think there were. People took all sorts of things - everyone knew about it – for their companies. Depoimento de um tenente da IDF
Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,