Bombardeio de Gaza na noite do atentado perto do Resort israelense do Mar Morto em Eilat, no Vale do Jordão |
Quem quebrou a trégua entre Israel e a Palestina?
Quando na Cisjordânia invasores extremistas de colônias como Yitshar fazem operações terroristas contra a população palestina, Israel, como um todo, é responsabilizado?
Não que eu saiba.
Velório de uma criança palestina bombardeada |
Vira e mexe faço esta pergunta. Vira e mexe o governo de Netanyahu usa um subterfúgio qualquer para tentar destruir o moral e a vida em Gaza.
Apesar do Hamas e da Brigada Qassam (sua Força Armada) terem logo negado qualquer participação na operação que ignoravam, a IDF (exército de Israel), mesmo sabendo que o responsável foi o grupo independente Popular Resistence Comitte – PRC (Comitê de Resistência Popular, que é uma pedra no sapato do próprio Hamas) e resolveu vingar-se, como sempre, na população inteira de Gaza com bombardeios ininterruptos da Faixa.
Agentes israelenses limpando um foguete em Ashdod |
Um dos prédios destruídos em Gaza, nos últimos três dias |
Como eu disse na semana passada, Netanyahu estava louco para encontrar uma desculpa para voltar a bombardear Gaza e distrair a atenção do movimento social interno que estava assumindo proporções incontroláveis. Pronto. Agora tem o escudo da retaliação para a escalada de violência e de distração nacional, e além disso, não para de gritar, bem alto, para a Comunidade Internacional só ouvir o seu lado.
E no mundo todo o atentado do Mar Morto é legitimamente condenado.
Só que até agora a comunidade internacional irreleva a morte dos civis em Gaza e o fato de Israel ter quebrado a trégua sem pestanejar.
E por seu lado, indignado com as perdas humanas, o Hamas confirma que a trégua, após a violência do ataque inesperado, virou história.
Aí me põem a pulga atrás da orelha e eu faço a pergunta básica dos criminologistas: Com a próxima votação da ONU do reconhecimento do Estado da Palestina, quem ganha com o crime?
O jornalista israelense Uri Avnevy aliás lembra que em 1982, o então ministro da defesa de Israel Ariel Sharon tinha decidido atacar os palestinos refugiados na Síria e no Líbano. E por isto foi a Washington pedir a bênção que foi condicionada a uma “provocação credível”. Alguns dias depois, como por milagre, o grupo liderado por Abu Nidal, inimigo mortal de Yasser Arafat, cometeu um atentado frustrado contra o embaixador israelense em Londres e esta ação foi interpretada como a “provocação credível” que valeu a Sharon o apoio estadunidense à agressão que ficou conhecida como a primeira guerra do Líbano. E à carnificina nos campos de refugiado de Sabra e Shatila.
Na quinta-feira, Netanyahu foi salvo pelo gongo militar em uma hora em que parecia que os protestos internos fossem empurrá-lo à demissão, como aconteceu com Golda Meir e como a coalição entre Netanyahu e Ehud Barak (antes de virar casaca) teve de ser quebrada anos atrás.
O ministro de extrema-direita Avigdor Lieberman (invasor de carteirinha, residente de uma colônia na Cisjordânia) passou a semana apavorando os compatriotas com o “banho de sangue” que os palestinos estão preparando para o dia 20. Dia da votação na ONU e em que várias passeatas multi-nacionais de celebração pacífica estão previstas na Cisjordânia e nas fronteiras com o Líbano e a Síria. O objetivo de Lieberman é que os jovens deixem as tendas plantadas na alameda Rothschild (que incomodam o governo todo dia), parem as reivindicações e empunhem fusis e canhões.
É a estória do inimigo comum que se fabrica a fim de promover uma reunião doméstica furtiva. Recurso que já gerou, mundo afora, tantos conflitos para acobertar erros políticos.
À esquerda, no resort israelense de Eilat, perto de onde aconteceu o atentado, a juventude dourada passeia devidamente policiada. À direita, um menino gazauí limpa o quintal de bomba recém-jogada. Por pouco a família inteira teria sido dizimada, como outras tantas em bombardeios noturnos passados.
É a estória do inimigo comum que se fabrica a fim de promover uma reunião doméstica furtiva. Recurso que já gerou, mundo afora, tantos conflitos para acobertar erros políticos.
Os egípcios voltaram às ruas e desta vez foi para gritar contra o vizinho. O embaixador foi retirado de Tel Aviv em seguida.
O Egito, que se debate entre a era Mubarak da cumplicidade criminosa com o governo de extrema direita israelense e a da solidariedade com a Palestina não quer e não pode ser dar ao luxo de complicar a situação interna.
Quanto a Netanyahu e seus cúmplices de extrema-direita, estão todos regozijantes com a desculpa esfarrapada que encontraram para fazer o que mais gostam: expandir suas invasões na Cisjordânia e bombardear a Faixa de Gaza.
Interpretação da lenda de David e Golias em pintura de 1914 de Albert Weisgerber |
A história dos vencedores pinta Golias como um mastodonte contra um David corajoso e miúdo – e a ficção começa neste ponto.
Estudados, viajados e vividos sabem que naquela região, gigantes são pura fantasia.
E sabe-se bem que para preservar seus compatriotas dos invasores fugitivos do Egito, Golias propôs uma luta entre os dois líderes.
Litografia David e Golias, de Osmar Schindler |
Todos conhecem mais ou menos o desfecho bíblico e a lenda de David e Golias, em que o primeiro foi sacralizado e o segundo ficou na história como um Hulk morenado.
Toda aquela parte espertinha, em que Golias espera que David se levante para começar a luta e é surpreendido com a esperteza de David, que em vez de orar estava arquitetando o plano de jogar-lhe areia nos olhos para derrubá-lo com uma estilingada e matá-lo traiçoeiramente deitado, parece irrelevante para os que usam David como exemplo de vitória do mais fraco contra o mais forte que o ameaça ou oprime.
Já Gustave Doré preferiu retratar David com o troféu da vitória: a cabeça de Golias |
Já que no final do combate desleal, David não cumpriu a palavra e saqueou a Palestina, forçando a população a refugiar-se onde?
Isto mesmo.
Na Faixa de Gaza.
Onde os Filistinos ficaram conhecidos sob o nome latino de Filisteus. Que, diga-se de passagem, no Aurélio e em todos os dicionários do mundo influenciado pelos vencedores, virou um insulto – “burguês de espírito vulgar e estreito”...
Com a derrubada do templo de Jerusalém pelos romanos no fim do Século I, a fuga das autoridades israelitas e o abandono das terras tiradas de Golias, os filistinos foram saindo de Gaza e voltando a expandir-se.
E dezoito séculos mais tarde... David voltou pelas mãos da ONU.
E no século XXI, o governo israelense de extrema direita é o David contemporâneo, espertinho, espoliador, expansionista.
E a Palestina é Golias, mas não o brutamonte que se imagina. O Golias de dimensão humana que não é reconhecida.
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/; http://www.bigcampaign.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário