A imagem do escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett é a do Teatro do Absurdo, das poucas palavras, dos dramas humanos calados e profundos.
Na segunda guerra mundial Beckett deixou a boa vida de Dublin em 1940 para entrar na Resistência francesa na qual representou o papel de correio na Paris ocupada pelos nazistas.
Depois retomou a escritura e sua peça Esperando Godot provocou um choque na dramaturgia em 1948 conseguindo o que era até então impossível. Uma estória em que nada acontece com e entre as duas personagens Vladimir e Estragon durante todo o primeiro ato, e como se a genialidade de manter a platéia atenta a um vácuo não lhe bastasse, no segundo ato repete a dose e deixa os protagonistas do espetáculo, palco e platéia em fase, esperando por nada até a cortina fechar.
Seu primeiro livro, Murphy, foi recusado por 36 editoras antes de ser publicado... Ao ser informado do seu Prêmio Nobel literário em 1969 suspirou e disse: Que catástrofe! Quem sabe antevendo a banalidade em que o Nobel da Paz cairia quarenta anos mais tarde ao ser atribuído de maneira precipitada...
Faz quatro anos que um milhão e quinhentos mil gazauís vêm protagonizando Vladimir e Estragon em larga escala em uma peça com vários atos absurdos que se repetem em uma espera de víveres e de ajuda que nunca acaba.
Faz quatro anos que um milhão e quinhentos mil gazauís vêm protagonizando Vladimir e Estragon em larga escala em uma peça com vários atos absurdos que se repetem em uma espera de víveres e de ajuda que nunca acaba.
A sabotagem feita no Saoirse |
Vigília no Stefano Chiarim |
Se Beckett não tivesse morrido em 1989 estaria na Flotilha da Liberdade II – Stay Human, que tenta dirigir-se a Gaza.
O barco dele seria o Saoirse http://irishshiptogaza.org/?p=715, sabotado há pouco em porto grego.
Junto com o ítalo-holandês Stefano Chiarim que está sendo consertado e vigiado noite e dia por tripulantes e passageiros irritados com o “terrorismo internacional” praticado pela Grécia em nome de Israel e dos EUA.
O barco dele seria o Saoirse http://irishshiptogaza.org/?p=715, sabotado há pouco em porto grego.
Resistência no Audacity of Hope |
Mas nem todos os estadunidenses são insensíveis e sectários, é claro.
O navio que ostenta a bandeira deste país, o Audacity of Hope, carrega dezenas de ativistas entre os mais determinados. Também foi bloqueado na Grécia.
O navio que ostenta a bandeira deste país, o Audacity of Hope, carrega dezenas de ativistas entre os mais determinados. Também foi bloqueado na Grécia.
Aliás, a embaixada grega em Tel Aviv anunciou sem vergonha que sua Guarda Marítima está fazendo tudo para evitar que os barcos lá ancorados deixem o porto para integrar a Flotilha a tempo. Está bloqueando no porto todos os navios que por lá transitam e chegou a pôr o capitão do navio estadunidense atrás das grades.
Primeiro pensou-se que fosse só para espantar os humanistas determinados, mas não, sua acusação é grave, de pôr a vida de seus passageiros em risco.
As autoridas gregas estão apelando para a ignorância sem nenhum constrangimento e sem piedade.
Será que querem resolver o problema do rombo financeiro da Grécia sujando as mãos de lama alheia?
A do Mar Morto é escura e cola.
Primeiro pensou-se que fosse só para espantar os humanistas determinados, mas não, sua acusação é grave, de pôr a vida de seus passageiros em risco.
Polícia grega contendo manifestantes pró-Flotilha |
Será que querem resolver o problema do rombo financeiro da Grécia sujando as mãos de lama alheia?
A do Mar Morto é escura e cola.
Pois é, os participantes da Flotilha estão até recebendo treinamento de resistência à provocação e para abordagem pacífica.
Porém não estavam preparados para a postura duvidosa da Grécia, do presidente da ONU nem da sabotagem que os Estados que não podem ser chamados de terrorista praticam sem pestanejar.
Após Israel ousar desafiar a imprensa internacional com banimento de 10 anos aos que embarcarem na Flotilha, devíamos ter imaginado que tudo o mais fosse possível e provável.
Mas o nosso sindicato internacional em Jerusalém saiu em defesa dos colegas estrangeiros e está pressionando as autoridades israelenses para que voltem atrás. Por que a ONU, que é muito mais potente (?) não teria a mesma coragem de desafiar os todo poderosos e em vez de dar bronca nos ativistas deixasse a Flotilha em paz?
Já se sabe que não ajuda. Então que pelo menos não atrapalhe.
Ataque da Flotilha no ano passado
Dando um pulo para a direita no mapa mundi para abordar uma linha paralela de terrorismo de Estado, na semana passada houve um Colóquio anti-terrorismo de dois dias em Teerã que reuniu delegados de 6 países para discutir medidas de colaboração contra atentados.
Mahmoud Ahmadinejad e as eminências não tão pardas que estão de olho em seu reinado |
O maniqueísmo do Colóquio foi quase risível, caso se pudesse rir de terrorismo. Os delegados iranianos apontaram para os estados terroristas ocidentais conhecidos com dedos hirsutos e esqueceram as vítimas da Revolução islâmica de 1979. De lá a cá, o regime executou sumariamente centenas de prisioneiros do grupo adversário Mojahedin e em 1988, milhares de homens e mulheres opositores ao regime foram enforcados por ordem do Aytatollah Khomeini, sem contar as prisões aleatórias e as torturas que ainda não pararam.
A prisão de Guantánamo que continua funcionando |
Quanto a Mahmoud Ahmadinejad, seus dias no poder parecem estar contados. É seu amigo do peito e braço direito no governo Esfandiar Rahim-Mashae que talvez consiga o que seus concidadãos revoltados não conseguiram com passeatas. O amigo da onça tem metido os pés pelas mãos (de propósito, dizem) deixando o presidente com má fama no lugar errado. Demitiu inclusive dois ministros “intocáveis” e acabou irritando Sayed Ali Khamenei, o líder do conselho de Aiatolás que constitui a eminência parda.
Em Teerã nas rodas dos poderosos especula-se sobre seu sucessor em voz alta. Aliás, segundo os locais, Ahmadinejad ganhou em 2005 apertado e não se esperava que terminasse o mandato, pois o Conselho de Aiatolás não achava que tinha estatura presidenciável. Só não foi logo descartado porque percorreu o interior do país conquistando grande popularidade. É mesmo querido em todos os povoados, mas emTeerã é "quase" persona non grata.
Seus sucessores potenciais são um dos três aliados recentemente presos por corrupção – Ali Asghar Parhiskar, Ali-Reza Moqimi, Mohammed Sharif Malekzadeh; o atual ministro das Relações Exteriores Ali Akbar Salehi e, por incrível que pareça, o próprio Esfandiar Rahim-Mashaee, cuja filha é nora de quem? De Ahmadinejad.
Se o presidente cair e o “amigo” Mashaee for empossado, este golpe de mestre de estado vai ficar na estória. Em Teerã o Golpe já virou piada antes de ser efetivado.
Na Síria, o regime ficou mais isolado após o sucesso popular das passeatas de ontem, de norte a sul do país fechado a cadeado. Desde a adesão da bela Aleppo à marcha dita pró-democrata que o poder do presidente Bashar al-Assad tem se esvaziado. A população já começa a acreditar que nada consegue conter o movimento em direção a uma suposta liberdade. A cada novo enterro (mais de mil pessoas já morreram nas mãos das forças militares) a procissão é multiplicada e a palavra de ordem agora além de Tahrir (Liberdade) é diretamente contra Bashar.
Este demorou demais a entender que não era intocável, e que a propaganda dos EUA é implacável. Talvez fosse bom negociar agora com as forças de oposição nacionais, para não chorar mais tarde. Os Estados Unidos vão fazer tudo para destituí-lo, como Gaddafi (erros geopolíticos crassos), mesmo que desestabilizem a região inteira neste processo de defender seus interesses a curto prazo.
Este demorou demais a entender que não era intocável, e que a propaganda dos EUA é implacável. Talvez fosse bom negociar agora com as forças de oposição nacionais, para não chorar mais tarde. Os Estados Unidos vão fazer tudo para destituí-lo, como Gaddafi (erros geopolíticos crassos), mesmo que desestabilizem a região inteira neste processo de defender seus interesses a curto prazo.
E no vizinho do litoral que conseguiu a duras penas acalmar-se, a instabilidade volta a rondar.
Seis anos atrás o primeiro ministro do Líbano Rafiq Hariri morreu em um atentado no litoral de Beirute junto com 21 outros libaneses. Uma queixa foi formalizada junto à ONU e um Tribunal Especial foi organizado para investigar o assassinato.
Seis anos atrás o primeiro ministro do Líbano Rafiq Hariri morreu em um atentado no litoral de Beirute junto com 21 outros libaneses. Uma queixa foi formalizada junto à ONU e um Tribunal Especial foi organizado para investigar o assassinato.
Desde então, o Tribunal encontrou vários culpados.
Os primeiros foram agentes nacionais de segurança que foram presos e depois libertados.
Depois foram sírios cujas identidades não foram divulgadas. Mais tarde também inocentados.
Sítio da explosão que matou Hariri e mais 21 pessoas |
Quatro nomes foram divulgados e o que encabeçou a lista foi o de Mustapha Badraddin, o chefe de operações militares do Hezbollah.
Embora a imprensa libanesa já tivesse bordado esta eventualidade, a notícia caiu um Beirute como uma bomba relógio em contagem regressiva para detonar.
A ONU lançou mandados de prisão para o quarteto sem pensar (?) nas conseqüências deste ato.
Acontece que o Hezbollah é um partido devidamente constituído, tem vários parlamentares democraticamente eleitos, e além do mais, tem dezoito dos trinta ministérios no governo de coalizão formado pelo atual presidente do Conselho Najib Mikati (bilionário sunita amigo íntimo do presidente da Síria). Mikati precipitou-se à televisão para dizer que a ONU havia declarado suspeita e não dado veredito de culpabilidade.
A maior comunidade religiosa no Líbano é a xiita, à qual pertence o Hezbollah; a segunda é a sunita, à qual pertencia Hariri; a terceira é cristã (39%). Elas vivem em um equilíbrio frágil duramente conquistado.
Bombardeio do Líbano em 2006 |
Sem solidarizar-me com Nazrallah, longe disso, sou obrigada a admitir que a contra-informação que visa intoxicar em vez de informar é algo usado (mais amiúde do que se imagina) sem vergonha para manipular a opinião pública e/ou limpar a barra dos donos do mundo na hora em que precisam.
Desta vez, quem ganha com a desestabilização do Líbano?
Desta vez, quem ganha com a desestabilização do Líbano?
Um colega jornalista baseado em Beirute diz que no Líbano todo mundo é inocente e todo mundo é culpado.
O que não dá à ONU o direito de condenar a população inteira ao caos.
No final das contas, na lógica do colega inglês, todos nós no mundo inteiro somos inocentes e culpados, já que, com conhecimento de causa, permitimos que um país ocupe e espolie outro de terra e de água sem dizer nem fazer nada.
No caso de Hariri, ou os altos funcionários da ONU vivem em outro planeta ou estão realmente seguindo uma agenda particular na qual a estabilidade do Líbano não está anotada e está longe de ser prioritária.
Manifestação em Istambul de apoio à Flotilha da Liberdade Stay Human |
FLOTILHA DA LIBERDADE STAY HUMAN: http://www.freedomflotilla.eu/;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey: http://youtu.be/ET6U54OYxGw;http://youtu.be/kmBnvajSfWU; http://youtu.be/GO5Cay6GUkM;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Ações do BDS Movement em Aukland: http://youtu.be/N6k7DaW4xmA;
http://www.bigcampaign.org/
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