Esta semana foi marcada no dia 15 por um assassinato político que tem um significado mais dramático do que todos os mortos bombardeados, baionetados, metralhados e outros “ados” nos últimos meses nos países árabes.
O assassinado é o jornalista italiano Vittorio Arrigoni, prezado e respeitado por todos os que conheciam suas qualidades humanas e seu combate incansável pelos Direitos Humanos, mas desconhecido para o mundo até virar cadáver.
Vittorio foi assassinado em Gaza, justamente na terra pela qual combatia através do Movimento Internacional de Solidariedade.
Vittorio tinha 36 anos e desde 2008, quando foi preso por Israel por ter chegado no primeiro barco que tentou quebrar o bloqueio para levar víveres a Gaza, ia e voltava à Faixa onde era querido e altamente considerado por seu trabalho humanitário pacífico junto às ONGs Free Gaza e Solidariedade Internacional.
Vittorio é o primeiro estrangeiro morto em Gaza desde que o Hamas assumiu o controle em 2007. Até a semana passada, Israel era que assassinava jornalistas e militantes - Rachel Corry, James Miller, Raffaele Ciriello e Tom Rundall.
Vittorio foi sequestrado há alguns dias por uma célula extremista para ser negociado contra a libertação de um Salafista, preso pelo Hamas em março. Quando o Hamas foi resgatá-lo no esconderijo doze horas antes de expirar o prazo, encontrou-o enforcado.
Após anos de ocupação territorial, espoliação hídrica, humilhação quotidiana nos check-points na Cisjordânia; bloqueio interminável e injustificável, bombardeios sistemáticos e marginalização do Hamas cuja força política foi se esvaindo com a miséria e as perdas das famílias que o partido não consegue salvar, Israel e os EUA, finalmente, conseguiram fabricar verdadeiros terroristas em Gaza.
É uma péssima notícia para quem busca a paz.
Desde o sequestro do jornalista da BBC Alan Johnson, em 2007, pelos Salafistas, parecia que o Hamas retomara o controle e que a Faixa estava segura (nas horas em que os israelenses não bombardeavam). Mas não. De fato, enquanto a IDF (exército israelense) matava civis e militantes do Hamas, um monstro crescia nas entranhas sombrias de Gaza.
Estes extremistas sim podem ser chamados de terroristas porque têm o terror como regra de combate sem causa. São eles que quebram tréguas e tentam desintegrar a autoridade do Hamas e disseminar o pânico na Faixa.
A mensagem dos Salafistas e seus comparsas que consideram o Hamas moderado foi clara: estamos na Faixa para ficar. Mas será que neste caso foram manipulados? O que realmente ganham com este assassinato?
Vittorio fazia mais por Gaza do que nenhum deles nunca fez e jamais fará. Ele estava por todo lado informando dos horrores para despertar consciências ocidentais e sua sinceridade e entusiasmo, além do conhecimento profundo da Faixa, conquistava adeptos à causa.
Vittorio fazia mais por Gaza do que nenhum deles nunca fez e jamais fará. Ele estava por todo lado informando dos horrores para despertar consciências ocidentais e sua sinceridade e entusiasmo, além do conhecimento profundo da Faixa, conquistava adeptos à causa.
Os gazauís ficaram chocados e pedem que uma rua e uma escola sejam batizadas com o nome de Vittorio, que desculpas formais sejam transmitidas aos italianos e à sua família e que lhe seja dada a nacionalidade póstuma palestina.
Os ativistas do Hamas também estão abalados. Alguns gazauís questionam inclusive o porquê da execução de Vittorio ter ocorrido justamente agora, quando outra flotilha está sendo organizada para tentar quebrar o bloqueio e levar víveres, remédios e materiais hospitalares e de construção a Gaza, em maio.
Tawihid wa Jihad, o militante do “Exército Salafista do Islã” cuja liberdade estava sendo negociada, é acusado de atentados em hotéis no Sinai, mas negou responsabilidade na morte de Vittorio.
Tawihid wa Jihad, o militante do “Exército Salafista do Islã” cuja liberdade estava sendo negociada, é acusado de atentados em hotéis no Sinai, mas negou responsabilidade na morte de Vittorio.
As teorias conspiratórias de Shin Bet, Mossad, vão ficar para outra hora. Esta, a de agora, é do Vittorio, executado por este corpúsculo que vem gangrenando Gaza e é favorecido por cada bombardeio da IDF, por cada dia a mais de bloqueio que agrava a situação de precariedade e incentiva o caos.
Vittorio era um idealista que escolheu o combate pela causa palestina por convicção ética, por ter uma visão nítida do Bem e do Mal e do que é e não é moral.
Vittorio era uma pessoa rara. Destas que deixam um rastro, uma passagem, e inspiram dezenas, centenas e quem sabe, milhares.
Vivo, ele era extraordinário.
Morto, vai virar um motor de engajamento solidário.
Vivo, ele era extraordinário.
Morto, vai virar um motor de engajamento solidário.
A matéria de hoje é em sua homenagem.
Uma pessoa como ele gostaria que até sua morte servisse para algo, como sua vida levou conforto e solidariedade a um povo marginalizado pela comunidade internacional.
Já serviu, Vittorio.
Para abrir os olhos dos gazauís e para que os holofotes foquem Gaza e mostrem que terrorismo não é uma palavra que possa ser banalizada e usada de maneira errada. Que confundir Resistência com Terrorismo é no mínimo ignorância crassa, para não dizer oportunismo arriscado.
Terrorismo é assassinato premeditado como a campanha israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, violência gratuita para mostrar uma força que no fundo é fraca. Tanto o terrorismo oriundo de um bando de inconsequentes quanto o de um Estado irresponsável.
Para abrir os olhos dos gazauís e para que os holofotes foquem Gaza e mostrem que terrorismo não é uma palavra que possa ser banalizada e usada de maneira errada. Que confundir Resistência com Terrorismo é no mínimo ignorância crassa, para não dizer oportunismo arriscado.
Terrorismo é assassinato premeditado como a campanha israelense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, violência gratuita para mostrar uma força que no fundo é fraca. Tanto o terrorismo oriundo de um bando de inconsequentes quanto o de um Estado irresponsável.
Resistência é o combate artesanal quotidiano contra um ocupante, um inimigo titânico que esmaga sem piedade.
Vittorio era um resistente impregnado daquela coragem que faz o mundo avançar e sem a qual a vida não representa nada.
Vittorio é morto.
Mas não é tarde para corrigir os erros que culminaram no caixão que a família recebeu na Itália.
Mas não é tarde para corrigir os erros que culminaram no caixão que a família recebeu na Itália.
A situação da Faixa de Gaza é literalmente insuportável.
Não tem água, não tem comida, não tem remédio, não tem material de construção para levantar as repartições públicas, residências e comércios destruídos pelos bombardeios de 2009 e os demais, constantes, até a semana passada.
A morte de Vittorio deixou a Faixa de luto e desesperançada.
A morte de Vittorio deixou a Faixa de luto e desesperançada.
Centenas de famílias saíram às ruas com lágrimas nos olhos em uma procissão fúnebre que o homenageava.
A indignação é geral, palpável.
Todos exigem além da punição dos culpados, segurança para os estrangeiros que entram na Faixa e mudanças políticas e administrativas radicais.
A indignação é geral, palpável.
Todos exigem além da punição dos culpados, segurança para os estrangeiros que entram na Faixa e mudanças políticas e administrativas radicais.
Nem que seja por interesse próprio, Israel tem de interromper o bloqueio e deixar os gazauís respirarem.
Um pouco de humanidade! Por enquanto, um pouquinho já basta.
A humanidade de Agidea Prata é do tamanho da do filho Vittorio.
A mãe, de luto fechado mas aberta às causas válidas, anunciou neste sábado que participará da Flotilha de Libertação de Gaza, em maio.
“Quero ver a Gaza que meu filho amava e pela qual se sacrificou. Quero conhecer as pessoas boas que moram lá e em quem meu filho Vik sempre falava”.
A mãe, de luto fechado mas aberta às causas válidas, anunciou neste sábado que participará da Flotilha de Libertação de Gaza, em maio.
“Quero ver a Gaza que meu filho amava e pela qual se sacrificou. Quero conhecer as pessoas boas que moram lá e em quem meu filho Vik sempre falava”.
A Flotilha da Liberdade se dirigirá à Faixa em maio, como no ano passado em que no dia 30 Israel atacou os barcos em águas internacionais matando nove pessoas e ferindo 54. Na impunidade.
A Flotilha humanitária deste ano ostentará o nome do livro-símbolo de Vittorio Arrigoni: Stay Human, com o qual acabou de ser batizada.
Obrigada, Vittorio.
Sua vida foi curta, mas exemplar; justa.
Deus o guarde.
Sua vida foi curta, mas exemplar; justa.
Deus o guarde.
GAZA, STAY HUMAN : http://guerrillaradio.iobloggo.com/1853/gaza-stay-human-di-vittorio-arrigoni
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/
Lowkey: http://youtu.be/GO5Cay6GUkM
Mariângela, mais uma vez vc ilumina uma questão que o mundo todo insiste em deixar na escuridão.
ResponderExcluirVittorio não se foi sozinho.
Com ele, se vai um pedaço importante da coragem e liberdade de todos que acreditam num mundo melhor.
Obrigado por não nos deixar esquecer que enquanto dividimos ovos de páscoa, o povo palestino ainda divide as esperanças...