domingo, 24 de janeiro de 2016

Irã, em 'nova era' no Oriente Médio?



Faz 36 anos que a imagem do Irã vem sendo denegrida, de maneira errada. Ao ponto do Ocidente inteiro ter sido convencido que os muçulmanos extremistas eram forçosamente xiitas. Só porque é a ala dominante entre os aiatolás que governam a República Islâmica desde que a revolução derrubou a ditadura do Xá, que servia os interesses ocidentais em detrimento dos nacionais e cometia barbaridades a fim de perpetuar-sel.
A ignorância é tanta e a propaganda anti-iraniana é tamanha, que o Congresso dos EUA, em 2011, chegou ao extremo de dar ouvidos a depoimentos absurdos, em uma subcomissão parlamentar que averiguava ameaças aos EUA causadas por atividades iranianas na América Latina.
Entre os perigos surreais repertoriados, estava um de uma demanda anódina do embaixador iraniano ao governo da Bolivia. A embaixada solicitava uma dúzia de vagas na escola internacional de La Paz (que fica a 6.225 km de Washington) para os filhos de seus diplomatas.
Ninguém entendeu se os deputados gringos consideravam perigoso os diplomatas iranianos terem filhos, que estes saíssem de casa, ou que fossem escolarizados como os filhos de qualquer cidadão ocidental. Mas este episódio virou uma das muitas anedotas que a paranóia e o egocentrismo estadunidense geram. Piadas sem graça, quando se sabe que são os EUA que põem em perigo a paz mundial com suas atividades ilícitas e escolhendo mal seus aliados acidentais.
O próprio Irã, há poucos dias, deparou-se com navios militares USA em suas águas territoriais. E como se não bastasse, quando Teerã  soltou, às pressas, os dez marines que detivera, não faltaram políticos (dentre eles a vassala da AIPAC, Hillary Clinton) nem jornalistas mal-intencionados para ousarem chamar o país ultrajado, o Irã, de agressor, no intuito de impedir o levantamento das sanções.
O incidente em questão aconteceu um pouco antes de Washington cumprir o compromisso assumido durante o acordo nuclear. Acordo louvado como "Dawn of a new era" nas relações entre o país 'bicho-papão' e a chamada comunidade internacional à qual Washington dá ordens.
Pergunto-me de que 'nova era' falam, já que concomitantemente ao fim das antigas sanções, os EUA impuseram uma nova  sanção balística de mísseis, o Irã continua sendo persona non grata na "international community" e a Casa Branca continua reclamando de suas supostas "atividades desestabilisadoras" no Oriente Médio.
Para bom entendedor, enquanto o Estado Judeu considerar o Irã seu inimigo número 1 (por ser o único sobrevivente dos que o desafiavam na questão palestina), faça os esforços que fizer, a República Islâmica jamais conseguirá vencer o estigma de "Eixo do Mal".
É Israel que invade, ocupa e massacra seus vizinhos, mas nem é questionado.
É Israel que desestabiliza o Oriente Médio com sua conduta imperialo-racista-expansionista, mas já tem cadeira cativa de vítima na grande mídia, na sala oval, e a tarja preta de fora-da-lei lhe é poupada.
(Aliás, apesar de seus comprovados crimes de guerra, Israel acabou de pedir ao seu padrinho-cúmplice de limpeza étnica um aumento da verba anual a US$5 - em vez dos 'míseros' 3 bilhões de dólares que já recebe para sua política genocida).
Sem contar que o Rogue State of Israel, cheio de bombas atômicas, nunca assinou o Tratado de Não-Proliferação nuclear. Documento este que é sempre usado para demonizar o Irã ainda mais.
No fim do Acordo, Obama e Cia cantaram uma vitória da diplomacia. Esquisito, quando se sabe que os diplomatas estadunidenses passaram anos travando uma guerra incansável contra o Irã, com a ajuda da imprensa. Guerra que começou em  1979 e prossegue nos bastidores, como os navios US flagrados no litoral iraniano atesta.
Aliás, o professor estadunidense Sayres Rudy acabou de dar uma conferência em que diz sem rodeios que a tal "international community, proudly and visibly collectively punished the Iranian population to achieve selective disarmament of the nuclear-unarmed Iranian state, although it remains targeted and threatened continually by nuclear powers. The beauty of sanctions for those who deploy them resides in their "seemingly bureaucratic, lawful, objective, transparent, and non-violent" nature, which provides a civilised veneer for what can amount to the decimation of populations."
Só para lembrar, a então secretary of state de Bill Clinton Madeleine Albright, disse, a propósito das sanções que seu país impusera ao Iraque: "The price is worth it". O preço, no caso, foi o empobrecimento do país, a derrubada de Saddam Hussein, e a emersão de el-Baghdadi e do Daesh. Preço cuja conta os EUa deixam sempre para outrem pagar. Neste caso, os iraquianos, os sírios e o mundo todo à mercê do terrorismo.

Voltando ao Irã, a primeira coisa que o país fez após receber a notícia que estava back on business, foi aumentar sua produção de petróleo a 500 mil barris diários e declarar sua determinação de recuperar seu mercado. Deixou os países do Golfo embasbacados, pois a decisão influencia a queda maior do preço do ouro negro, que se encontra a US$23 o barril, preço considerado irrisório para os nababos que o comercializam.
Nos tempos áureos, o Irã chegou a exportar 2.3 milhões de barris diários. Pretendem retomar este rítmo logo logo.
Com as novas perspectivas de abertura comercial, há uma expectativa de crescimento econômico de 4 a 5.5 por cento em 2016 e 2017, sobretudo graças ao negócio do petróleo, mas não apenas. Bilhões de dólares iranianos estavam 'confiscados' e ao serem devolvidos, trazem consigo uma corja de cartéis industrio-financeiros em busca de contratos milionários e de lucro fácil. Os primeiros vampiros a chegar foram Hewlett-Packard (a boicotar, por causa das colônias na Cisjordânia!), General Electric, Apple e Lenovo.

Inside Story: What's behind the falling price of oil?

Trocando em miúdos, nesta 'nova era', acho que em âmbito interno, a sociedade iraniana aproveitará a oportunidade para testar a abertura dos aiatolás.
A abertura de fronteiras comerciais e culturais trará um afluxo (espero) turístico que acabará provocando uma interação entre estrangeiros e nacionais benéficas para ambos os lados. Tanto para os iranianos, que vão ter mais troca quotidiana com ocidentais, quanto para estes, que terão a oportunidade de comprovar quão enganados foram durante todos estes anos em que acreditaram que no Irã residia o mal e que tinham de ter medo de seus 80 milhões de habitantes. População que por causa do bloqueio dos EUA, padece de alta inflaçao, e muitos deles, até de produtos e serviços básicos. O desemprego está na faixa de 11 por cento.
Uma das coisas que o estrangeiro compreenderá ao conhecer melhor o Irã, é que o regime dos aiatolás não é forte apesar da dinamicidade da oposição e sim por causa da ebulição da classe média instruída, que participa ativamente do destino do país - homens e mulheres - ao contrário das ditaduras árabes do Golfo.
Os iranianos resistem à tirania votando e se organizando socio-politicamente, em vez de explodirem prédios e matando inocentes.
A sociedade iraniana usufrui de uma prerrogativa democrática negada nas ditaduras dos sheiks, príncipes e emires árabes - a do sufrágrio universal. E é nas urnas que a sociedade tem repetido a seu supremo líder aiatolá Khameini pública e repetidamente sua determinação de resistência.
Ao eleger Rouhani, a população votou na segurança e na prosperidade de sua nação, sem mudar o status quo que, por enquanto, lhe garante o fundamental: a paz social, longe da barbárie de Daesh e Al-Qaeda. Os iranianos não votam para legitimizar um sistema mantido por teocratas octogenários fadados a passar o bastão a um governo democrático de maneira natural (como no nosso país-tropical) com o madurecimento da sociedade. Votam para uma transição pacífica para uma nação que respeite os valores básicos da revolução, antes desta ter sido sequestrada pelos aiatolás.

No âmbito externo, os estrangeiros entenderão que a supremacia regional do Irã é devida a seus adversários, e não a despeito da pressão que estes exercem sobre a República Islâmica. Nem Israel, nem Turquia, nem Arábia Saudita, separados ou reunidos, são páreo para a fina versão de poder intelectual persa. O poder regional do Irã vem do cálculo errado que seus adversários fazem da força e da qualidade do próprio poder.
O orçamento militar iraniano está longe do de seus antagonistas ou inimigos regionais financiados pelos Estados Unidos, porém, nenhum destes ousaria partir para um conflito direto (apesar das ameças estridentes de Netanyahu) por saber que jamais alcançará a vitória desejada. Por que? Por causa da margem de manobra sustentada pela fineza de raciocínio adquirida em séculos de cultura e de guerra após guerra do império persa, até os tempos modernos.
Alguns dizem que o calcanhar de Aquiles do Irã é a Síria e o apoio 'incondicional' dado a Bashar el-Assad. Eu não tenho tanta certeza. Quem viver verá o resultado interno e externo regional deste apoio. Já que no tocante à Síria, todas as potências ocidentais, todos os países árabes, todos os sírios envolvidos na guerra civil (que virou regional, se não planetária), estão com as mãos cobertas de sangue inocente.
As do Irã estão muito mais limpas do que as da Arábia Saudita, Turquia, Israel, França, Estados Unidos e de muitos sírios que querem, a qualquer preço, a cabeça de Assad para reinar em seu lugar, e sem dúvida, cometerem as mesmas atrocidades pelas quais o condenam.
De qualquer jeito, enquanto sunitas e xiitas não amadurecerem e suplantarem suas divergências inter-religiosas, as desavenças na região vão continuar. Apesar da preocupação dos príncipes sauditas ser mais de manter seu padrão de vida em detrimento de sua população castrada e submissa do que sua fé sunita. O obscurantismo reina nos palácios sustentados por pilhas de mortos e pelo ouro negro.

Al Jazeera UpFront: Saudi Arabia vs Iran - Who is to blame for the row?

Listening Post: Saudi Arabia vs Iran: Beyond the Sunni-Shia Narrative

Listening Post: Beyond sectarianism: The Saudi-Iran confrontation

PS. Eis alguns dos mitos e mentiras sobre o Acordo Nuclear:
Myth 1: the US has abandoned its regional allies for Iran
In response to the deal, US Senator Lindsey Graham warned, "It's incredibly dangerous for our national security, and it's akin to declaring war on Sunni Arabs and Israel by the P5+1 [five permanent UN Security Council members plus Germany] because it ensures their primary antagonist Iran will become a nuclear power and allows them to rearm conventionally."
The US and Iran have decreased decades-long bilateral tensions, but this deal is not in any way "akin to declaring war on Sunni Arabs and Israel".
Both Washington and Tehran have demonstrated that constructive and positive dialogue is possible.
The US and Iran, prior to this deal, proved that they could work as de-facto partners with mutual interests in combating the Islamic State in Iraq and Levant (ISIL).
That being said, the US and Iran are still at odds over Syria, and Washington has provided Riyadh with intelligence, weapons, and ships to partake in a naval blockade in the campaign against the Houthis in Yemen.
Likewise, the US has in no way abandoned other Gulf states, and will continue to count on them for stability in the energy market. Bahrain will remain America's base for its 5th fleet, and pre-existing regional relationships will remain a high priority.

Myth 2: lifting sanctions on Iran will threaten Israel
Echoing Graham's statement, Israeli Prime Minister Binyamin Netanyahu warned that " Iran will get hundreds of billions of dollars with which it will be able to fuel its terror machine".
By "terror machine", Netanyahu is referring to the Hizbollah and Hamas groups.
The lifting of sanctions on Iran will unlikely amplify any threat these two groups present to Israel. Hezbollah's threat to Israel is posed not by its rocket arsenal, but by an experienced group of fighters who can hold Lebanese territory if Israel attacks, as it did in 2006.
However, Hizbollah's manpower has been diminished as its military forces are now committed to the fighting against Daesh in Syria and Iraq; conflicts unlikely to conclude in the near future. Hezbollah is unlikely to provoke a war with Israel with its forces overextended.
Lifting the sanctions can provide Hezbollah with more Iranian financial and military support, but it does not create a surge in Hezbollah's manpower or fighting effectiveness, which requires years of training and combat experience.
The Iran-Hamas relationship suffered greatly when Hamas leadership was expelled from Syria for its failure to support Damascus and Tehran's joint efforts in suppressing the Syrian rebels after 2011.
Sanctions were in place on Iran during Israel's first Gaza War in 2008, yet those sanctions did not damage the ability of Iran to support Hamas.
Even though Iran-Hamas relations were frayed over Syria, Israel still perceived Hamas as a threat, demonstrated by the cruel Operation Protective Edge in the summer of 2014, which ironically led to a rapprochement between Iran and Hamas a few months later.
Netanyahu's speech merely seeks to encourage the atmosphere of fear in his country which has garnered widespread political support for himself and his expansionist governing tactics.
It is estimated that Israel has a nuclear offensive capability amounting 100-200 nuclear warheads - an arsenal which would clearly deter any hypothetical scenario were Iran ever seek to pursue the use of a nuclear weapon against them. Simply put, Iran is overwhelmingly outgunned.
Israel's unstated objection to the deal is that it leaves an Iranian nuclear infrastructure intact, giving Iran the potential to challenge Israel's nuclear monopoly in the region in the future, a monopoly which Israel has officially refused to declare.


Myth 3: Iran's nuclear programme will set off a nuclear arms race and further destabilise the region.
Prior to the deal, the US Speaker of the House of Representatives John Boehner said: "It would be naive to suggest the Iranian regime will not continue to use its nuclear programme, and any economic relief, to further destabilise the region."
Which is wrong. Destabilisation in countries like Yemen and Syria has resulted from the choices made by their political elites - not by Iran's intervention.
An influx of Iranian financial support to the government in Damascus or the Houthis in Yemen will not change the reality of the conflicts there.
Houthi rebels have been quite effective and have done remarkably well on their own without foreign aid. That being said, their lack of numbers drastically limit their ability to expand their circle of influence, regardless of outside help from a power such as Iran.
Furthermore, while Iran and Turkey support opposing proxies in the Syrian civil war, they both have to gain from the lifting of sanctions due to the politics of energy security. Lifting of sanctions would allow Turkey to resume trade with its neighbour Iran, and facilitate Ankara's dependence on Iranian natural gas, now that the relations with Russia went sour.
The reality of the region is clear: instability is rife, but no because of Iran. More likely because of The United States and Israel, and despite of Iran. And this instability is likely to continue regardless of Iranian intervention.
Steve Forbes, Chairman and Editor-in-Chief of Forbes Media, wrote: "From all that we now know the agreement will set off a chain reaction of nuclear proliferation in the most unstable region of the world."
The notion of an Iranian nuclear programme creating a domino effect in the region has been echoed by policy makers and media commentators who are unfamiliar with the dynamics of proliferation in the Middle East.
The nuclear arms race in the region began in the 1970s. Both Iraq and Syria sought their nuclear programmes in direct reaction to Israel's enormous development of nuclear capabilities.
It has been said that the Saudi Arabia and Turkey will be the next to hop on the nuclear bandwagon; however, neither country has the human capacity or scientific infrastructure to do so without extensive foreign support.
This support is extremely unlikely to be offered by an international system which is entirely committed to preventing further nuclear proliferation - particularly in the Middle East.

Unless the United States of America decides otherwise, under Israel's pressure, for God knows what short sightedness. If they do, they will commit one more crime against humanity. One more, in a long list that, I'm afraid, is not about to end no time soon. 

Artigos anteriores sobre o Irã: 19/02/12 - 29/09/13 - 30/11/14

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