Talvez tenha sido por causa dessa indiferença à arquitetura histórica que os imigrantes tenham destruído tantos vilarejos ancestrais e sítios arqueológicos. Além de transformarem as cidades em matadouros. Os nativos que sobreviviam ao genocídio escapavam com a a chave de casa, símbolo de nacionalidade e propriedade que passaria de pai pra filho no exílio alimentando a esperança de um dia retornar à terra natal.
David Ben-Gurion não foi apenas o primeiro governante de Israel. Foi também o precursor das práticas violentas e dos discursos de hierarquização "humana" entre nativos e imigrantes que seus sucessores repetiriam até Binyamin Netanyahu, culminando com o Israeli Project (Blog 08/08/14) contemporâneo.
A retórica era parte da estratégia calculada de aproveitar o choque do holocausto para inverter a noção de perseguido e perseguidor; de vítima e algoz; de ocupante e ocupado. Esta estratégia de guerra ludibriou os dirigentes cristãos europeus e americanos, induzidos a assumir a culpa de Hitler e permitir que a história se repetisse com judeus ocupando o papel invertido do que ocupara sob o jugo nazista.
Apesar do clima propício ao revanchismo cego. Alguns judeus esclarecidos não se deixaram enganar pela hasbara (propaganda) e condenaram a punição coletiva do povo palestino, inocente dos crimes nazistas. Dois destes seres humanos eram o que havia de melhor em seus campos profissionais e usaram sua celebridade e influência para sacudir os ocidentais anestesiados pela culpabilidade dos campos de concentração recém-liberados pelo Exército Vermelho soviético (embora em vez dos soldados russos os filmes de Hollywood mostrem os marines neste papel que não representaram na realidade).
Estes dois judeus eminentes que olharam e enxergaram o genocídio que estava acontecendo na Palestina foram a filósofa Hannah Arendt e o físico Albert Einstein.
Suas mentes excepcionais enxergaram que de presas passivas, os judeus que emigraram para a Palestina se transformaram em impiedosos predadores; de ovelhas, a lobos vorazes de presas afiadas e instinto de vingança sanguinária. Contra seus compatriotas europeus que haviam cruzado os braços? Não, contra um povo que, além de isento de culpa, combatera em favor dos aliados para libertá-los dos campos em que Hitler os enclausurara.
Não. Não precisava ter a inteligência desses dois brilhantes alemães para entender o óbvio. Mas precisava ter a coragem que distingue as pessoas comuns das extraordinárias. A coragem de fazer a coisa certa quando a maioria absoluta se conforma com a coisa errada.
A coisa certa na época era unir pensamento, palavra a ato, e escrever a carta aberta ao lado, que os dois e outros imigrantes judeus nos EUA mandaram para o New York Times, que a publicou em dezembro de 1948. Nesta missiva onde a pena de Arendt é visível, denunciam as abominações que os "grupos terroristas" sionistas estavam cometendo na Palestina.
Em 1950, o grito de alerta ainda ressoava e continuava a refletir o que estes intelectuais pensavam assim como a realidade no terreno, imutável. Só que as brigadas "terroristas" haviam sido institucionalizadas na Israeli Defensive Forces - a IDF, que continuava a atuar de maneira bárbara nos territórios ocupados em toda i/legalidade.
Depois das operações de limpeza de 1948 e 49, David Ben Gurion apresentou da seguinte maneira a Operation Retributions que fragmentava a limpeza étnica inclemente: "We have the power to set a high price for our blood, a price which would be too high for the Arab communities to bear."
O preço alto era o que Hitler estabelecera na França contra a resistência - por exemplo, após o atentado contra Julius Ritter, o alemão responsável da requisição de franceses para trabalhos forçados na Alemanha, 50 resistentes foram fuzilados; o preço da vida ou simplesmente da segurança de um ocupante variava entre 10 a 88 franceses civis ou combatentes na resistência.
Os imigrantes judeus importariam consigo as horrendas práticas nazistas, inclusive a de hierarquização do valor da vida como fizera Hitler. Ben Gurion queria mostrar a ferro e fogo que um judeu valia mais, muito mais, do que um nativo cristão ou muçulmano. A superioridade de raça, de credo, era a noção predominante que a Operation Retributions tentou aplicar na terra que os israelitas re-conquistavam com a mesma esperteza e a mesma violência que David usara três mil anos antes contra Golias e seu povo filistino.
Esta noção de hierarquia humana foi a pedra fundamental na construção do Estado de Israel e na destruição da Nação palestina.
A Operação Retributions durou seis anos. Como foi prolífica em massacres, fragmenta-la-ei em dois blogs para que não fiquem muito longos.
1951:
A Operation Retributions começou com o que ficou conhecido como Al-Hamma incident.
Durante o Império Romano, Al-Hamma era conhecida como Emmatha e era sítio turístico de famosas estações térmicas consideradas terapêuticas devido a seu alto conteúdo de sufur. Além dos balneários e banhos públicos, os romanos construíram um anfiteatro e outros edifícios à altura dos recursos naturais da região. Emmatha ficou de pé durante séculos.
Um terremoto causou estragos que foram restaurados no ano 633 DC, durante o reino de Muawiyah I no Califado Umayyad que sucedeu a morte de Maomé. O restaurador aproveitou para adicionar novos prédios que desmoronaram, na maioria, durante o terremoto dos Golã em 749. Foram reconstruídos e de novo destruídos pelo terremoto de 1033. (Hoje excavações arqueológicas descobriram ruínas abertas ao público. Israel acaparou-se do local a fim de privar os palestinos desta mais valia turística).
No recenseamento de 1922, a população de Al-Hammah consistia de 984 cristãos e muçulmanos e de 28 judeus. Em 1936 os palestinos cederam a concessão dos banhos ao empresário libanês Sulayman Nasif que revitalizou a estação balneária que floresceu como na época romana voltando a atrair muitos turistas e migrantes nativos.
O Hagannah "despopulou" o vilarejo de seus habitantes em 1949, mas com a Naqba correndo solta na Galileia, posteriormente, muitos palestinos voltaram e outros chegaram em busca de refúgio. Ao ponto da população cristã e muçulmana chegar a 2.200. O que desagradou bastante Ben Gurion e Moshe Dayan. Sua frota aérea recém-constituída veio a calhar na operação de expulsão desses "intrusos".
As razões da "limpeza" eram as mesmas, matar o máximo de nativos e "confiscar" seus bens móveis e imóveis que os imigrantes judeus cobiçavam para uso próprio.
Esta "oportunidade" chegou no dia 04 de abril de 1951. Apesar da ONU ter vedado a presença de militares israelenses nessa área, nesse dia o comandante da recém-formada IDF no Norte resolveu despachar para lá uma patrulha disfarçada de policiais. A resistência reagiu e matou os sete soldados. Em retaliação, no dia seguinte, quatro avões militares bombardearam a delegacia da cidade e uma base síria em Al Hadid, já que os sírios foram tidos como culpados. Duas mulheres foram mortas e seis pessoas ficaram feridas.
Como a IDF não podia admitir publicamente que desrespeitara a ONU, não pôde revidar com mais um massacre. Ben Gurion resolveu, após ser repreendido pelos bombardeios, mudar de estratégia e proceder à expulsão paulatina dos habitantes por intermédio de terrorismo quotidiano. A perseguição foi implacável; até os últimos palestinos não aguentarem mais os maus-tratos e partirem deixando para trás história e propriedades constituídas por seus antepassados.
Esta operação foi apelidada de "Incidente" porque não atingiu o objetivo de imediato. Não por questões militares ou humanísticas e sim para não danificar os bens materiais que Israel queria recuperar em bom estado. Tanto para os imigrantes judeus ocuparem casas montadas quanto para o governo explorar a infra-estrutura turística sem gastos.
(Na década de 90, via-se o seguinte ao entrar na cidade confiscada. O parque turístico Hamat Gader predominava com piscinas, uma represa e seu estacionamento moderno. A mesquita deserta ainda estava de pé com seu minaret e colunas de mármore intactas. Outras construções antigas, de basalto escuro característico da Galileia antiga, se mantinham, assim como a estação ferroviária (ao lado) que ostentava o nome do vilarejo extinto em sua fachada. Havia mais três imóveis desertos perto da estação e várias casas em pedaços. A Al Hamma de hoje perdeu toda alma.)
Beit Jala raid, foi uma das mini-operações da Retributions. Foi em "resposta" à agressão de uma imigrante judia em Jerusalém, embora não houvesse nenhuma prova que um palestino fosse autor do crime. Muito pelo contrário. Mas isto não importava. Foi desculpa para uma punição coletiva.
Foi outra prática israelense que data dos primórdios de seu Estado: a punição coletiva - crime de guerra e contra a humanidade que nos territórios palestinos ocupados foram estabelecidas como estratégia de limpeza étnica a curto, médio e longo prazo, como se não fosse contrária à Convenção de Genebra.
No dia 04 de dezembro de 1951, a jovem imigrante judia Lea Feistinger foi estuprada, assassinada e seu rosto desfigurado. Seu corpo foi encontrado em uma caverna dentro da cease fire line determinada pela ONU. Por isso, a investigação foi dirigida pelo major Loreaux em nome da Mixed Armistice Commissions (MAC). Como o Major não encontrou nenhum indício que o criminoso fosse palestino e sim que parecia um crime passional, transmitiu a investigação à polícia israelense para que investigasse como um crime comum e não político.
Mas a IDF tomou as rédeas da investigação e desconsiderando o relatório do oficial da ONU, declarou que o criminoso era palestino e que era de Beit Jalla.
Um batalhão entrou no vilarejo no dia 06 de janeiro de 1952 e dinamitou três casas sem avisar as famílias. Nove pessoas morreram no atentado. Um jovem casal, uma mãe e seus quatro filhos de 6 a 14 anos, e mais duas pessoas.
Do ar, caíram panfletos "explicando" este crime: "On 4/12/1951 some persons from among the inhabitants of Beit Jala killed a Jewish girl in the neighbourhood of Bayit VeGan, after committing against her an unpardonable crime. What we have done now is the penalty for that ugly crime. We shall not stand idly by in the face of such crimes. In our quiver there are always arrows for [such criminals]. Let those who can, heed this warning..."
O major Hutchison,d a MAC, investigou a reclamação da Jordânia contra esta punição coletiva injustificável e no final os investigadores da ONU determinaram que os israelenses haviam usado inclusive metralhadoras no atentado, antes de dinamitar as casas. Mas não repreenderam Israel por nada.
Em 1953, o cônsul estadunidense em Jerusalém declararia que os israelenses nem investigaram a possibilidade mais lógica do crime ter sido cometido pelo namorado da moça, outro judeu imigrante, e não por um palestino: "It was never shown that the act was not committed by her Israeli boyfriend".
O embaixador britânico em Tel Aviv chamou o atentado israelense de "simple reprials, degigned to make Arab infiltration umpopular in the Arab villages", e comparou os ataques da IDF aos da Inglaterra contra os egípcios na área do Canal de Suez.
Nem o crime da IDF nem o da jovem Lea foram punidos.
1953:
Operation Shoshana: Esta operação ficou conhecida na Palestina como o Massacre de Qybia. Foi um dos "fragmentos" mais sangrentos da Operação Retributions.
Aconteceu em outubro de 1953. O comandante foi Ariel Sharon (foto ao lado), que ficaria conhecido na Palestina como General Bulldozer. Aos 25 anos, Sharon já era o aprendiz de carniceiro que minha geração conheceria. Invadiu Qybia com dois batalhões originários do Hagannah - paratroop brigade e a Unit 101. Em seis horas, seu batalhão exterminou 69 moradores. Dos primeiros 42 corpos encontrados, 38 eram de mulheres e dois de crianças. No final das contas, mais de dois terços dos mortos eram mulheres e crianças. E fez juz a seu futuro apelido destruindo 45 casas, uma escola, uma mesquita, o posto de saneamento, a central elétrica, a delegacia.
Este massacre em Qybia foi em "retaliação" ao ataque ao vilarejo Al-Abbasiyya, que após a Naqba os novos proprietários chamaram de Yehud. No dia 12 de outubro, um desconhecido jogou uma granada em uma casa matando a uma mulher e seus dois filhos. A identidade do autor do crime não foi descoberta, mas mesmo assim, a punição coletiva aprendida com os nazistas foi aplicada em seguida.
Sharon seguiu as diretivas de Ben Gurion e no dia 14, cobrou 23 vidas palestinas por cada vida judia perdida dois dias antes.
O ataque começou às 21:30, quando as famílias estavam reunidas e desprevenidas, seguindo a mesma estratégia que a IDF mantém até hoje. Primeiro, os cerca de 300 soldados sitiaram o vilarejo bloqueando as saídas. Em seguida, usaram torpedos Bangalore para romper as cercas que protegiam o povoado e minaram as vias de acesso para impedir que resistentes acorressem em socorro de seus compatriotas e evitar que os habitantes que conseguissem escapar do sítio sobrevivessem.
Concomitantemente, outro batalhão sitiou Budrus - também para impedir possível reação de socorro e resistência - e pelo menos 25 torpedos foram lançados nesta cidade vizinha para manter a população ocupada e amendrontada enquanto agiam na cidade ao lado.
Enquanto isso, em Qybia, as tropas de Sharon invadiram a cidade em três frentes, encontrando pouca resistência facilmente dominada devido à desproporção de homens e de arsenal.
A fim de ganhar tempo, em vez de inspecionar as residências, os soldados dinamitaram dezenas de casas sem evacuá-las e as construções acima mencionadas. Não perderam nenhum soldado. Este processo de destruição durou até de madrugada, quando Sharon decidiu que a operação fora cumprida com sucesso.
Em seu diário e no vídeo abaixo, Ariel Sharon escreveu que recebera ordens expressas de inflingir o máximo de danos à cidade: "The orders were utterly clear: Qibya was to be an example for everyone'. Documentos da época indicam que Sharon ordenou pessoalmente às suas tropas de proceder "maximal killing and damage to property". Relatórios pós-operacionais relatam que os soldados entraram nas casas jogando granadas e atirando nas famílias.
Os observadores da ONU que chegaram em seguida, viram cadáveres estendidos nos cômodos de entrada, marcas de balas nas portas de casas demolidas, e concluíram que os residentes foram forçados a permanecer dentro de casa enquanto eram exterminados. A descrição de um deles foi a seguinte: 'Bullet-riddled bodies near the doorways and multiple bullet hits on the doors of the demolished houses indicated that the inhabitants had been forced to remain inside until their homes were blown up over them.'
O Primeiro Ministro de Israel tomou a decisão do massacre junto com seu Ministro da Defesa, o imigrante ucraniano Pinhas Lavon. Nenhum dos dois se arrependeu e Ben Gurion declarou inclusive ter usado a força necessária para mostrar aos palestinos que Israel estava no Oriente Médio para ficar e que sua política de "limpeza" continuaria custasse o que custasse.
Mas este preço pareceu caro à recém criada Organização das Nações Unidas. Estas, no dia 15 de outubro, aprovou uma Resolução condenando o ataque como uma quebra do artigo III do Acordo de armistício.
O Ministro das Relações Exteriores de Israel Moshe Sharett desaprovara e foi o único que exprimiu choque pelo resultado. Escreveu em seu diário no dia 16 de outubro: "Now the army wants to know how we [the Foreign Ministry] are going to explain the issue. In a joint meeting of army and foreign ministry officials Shmuel Bendor suggested that we say that the army had no part in the operation, but that the inhabitants of the border villages, infuriated by previous incidents and seeking revenge, operated on their own. Such a version will make us appear ridiculous: any child would say that this was a military operation".
Apesar de seu comentário, no dia 19, Ben Gurion optou pela atitude que pontuaria a hasbara. Ousou isentar a IDF de culpa alegando que o ataque fora realizado por civis israelenses e não por soldados. Seu comunicado foi um insulto a mais à ONU: "None deplores it more than the Government of Israel, if ... innocent blood was spilled ... The Government of Israel rejects with all vigor the absurd and fantastic allegation that 600 men of the IDF took part in the action... We have carried out a searching investigation and it is clear beyond doubt that not a single army unit was absent from its base on the night of the attack on Qibya." E a seus compatriotas, disse na radio para que a notícia atravessasse as fronteiras: "The [Jewish] border settlers in Israel, mostly refugees, people from Arab countries and survivors from the Nazi concentration camps, have, for years, been the target of (...) murderous attacks and had shown a great restraint. Rightfully, they have demanded that their government protect their lives and the Israeli government gave them weapons and trained them to protect themselves. But the armed forces from Transjordan [Palestinian refugees] did not stop their criminal acts, until [the people in] some of the border settlements lost their patience and after the murder of a mother and her two children in Yahud, they attacked, last week, the village of Kibya across the border, that was one of the main centers of the murderers' gangs. Every one of us regrets and suffers when blood is shed anywhere and nobody regrets more than the Israeli government the fact that innocent people were killed in the retaliation act in Kibya. But all the responsibility rests with the government of Transjordan that for many years tolerated and thus encouraged attacks of murder and robbery by armed powers in its country against the citizens of Israel."
(A hasbara estava em marcha com o discurso que seria usado de década em década até virar o Israeli Project. Ben Gurion ensinou a desculpabilizar o ocupante e culpar o ocupado. Na época, culpava os chamados "transjordanianos", hoje, o Hamas.)
Nem que os observadores ocidentais quisessem, teriam conseguido defender esta versão dos fatos, devido à extensão dos danos materiais e humanos que só poderiam ter sido causados por armas pesadas. Ninguém acreditou na mentira e o historiador israelense Avi Shlaim analisou o comportamento do Primeiro Ministro em um e seus livros: "This was not Ben-Gurion's first lie for what he saw as the good of his country, nor was it to be the last, but it was one of the most blatant."
(E o mais digno de nota é que David Ben Gurion estabeleceu, já no início de Israel, uma linha de discurso e de conduta para todos os primeiros ministros até nossos dias. De um a outro, todos foram visceralmente impregnados desta cultura da distorção da verdade, da expansão territorial, da paranóia securitária e da criminalização da vítima).
Ainda sob influência de Einstein e Arendt, europeus e americanos judeus condenaram o massacre e o jornal estadunidense The National Jewish Post, chegou a publicar em editorial do dia 30 de outubro: Qibya was in effect another Lidice and no United States person who was living at the time of this detestable Nazi wiping out of an entire village will forget the world’s horror at that act.'
Até os EUA reagiram. Seu State Department exprimiu "deepest sympathy for the families of those who lost their lives" e se disse convencido que os responsáveis "should be brought to account and that effective measures should be taken to prevent such incidents in the future." Descreveu a operação como "shocking" e confirmou a suspensão (temporária) de sua ajuda econômica a Israel, interrompida no dia 18 de setembro por não estar cumprindo os Acordos do Armistício de 1949 com os países árabes vizinhos. (Uma das infrações era de agredir e matar refugiados palestinos desarmados que tentavam retornar à sua terra natal em busca de familiares perdidos durante a Naqba. Outros eram assassinados nas zonas desmilitarizadas ao locomover-se à procura de familiares refugiados na Faixa de Gaza. E uma minoria de resistentes armados precariamente que tentavam recuperar o que lhes fora surrupiado. Outra infração era a de atravessar as fronteiras jordanianas e sírias à caça de refugiados palestinos com a desculpa de se protegerem.)
Retorno temporário de sobrevientes |
Uri Avnery, então com 30 anos, talvez tenha sido o único jornalista a criticar o massacre em sua recém-criada revista HaOlam HaZeh (This World/Este Mundo). O respeito ao seu ofício de informar lhe custou uma represália dolorida. Suas duas mãos foram quebradas para que aprendesse a ficar calado. Intimidação e chantagem também seriam práticas correntes no novo Estado "democrático".
Quanto à IDF, a Unit 101 foi desmontada. Contudo, apesar das demandas públicas que os responsáveis diretos do massacre fossem punidos, seu comandante, Ariel Sharon não foi nem repreendido.
O tenente-general canadense E.L.M. Burns, enviado da ONU para manutenção da trégua, criticou sem parar a atitude de Israel, que ele descrevia como "constant provocation of the Israeli forces and armed kibbutzim." Concluindo que "The retaliation does not end the matter; it goes on and on ..."
De fato.
Qybia viraria exemplo na IDF de operações a serem evitadas para não indispor a comunidade internacional.
Em 1954, um comando para-militar da resistência palestina retaliou este massacre e outros menores com uma operação sangrenta. No dia 17 de março, um grupo atacou um ônibus israelense matando onze dos 15 passageiros.
A primeira reação do governo de Israel ao que ficaria registrado como massacre de Ma'ale Akrabim foi projetar uma vingança "exemplar", maior do que Qybia. Mas foram dissuadidos durante uma reunião em julho de 1954 em que um dos idealizadores do massacre de 1953, Pinhas Lavon, argumentou: "Guys, you have to understand [that] there can be the greatest and most successful military operation, and it will turn into a political failure, meaning eventually a military failure as well. I'll give a simple example: Qibya."
Pois é, Qibya, que ficaria marcada, como Der Yassin, Nablus, Jenin, Gaza, e quantas outras mais, no inconsciente coletivo de gerações de palestinos.
Ariel Sharon reconhece seu crime em Qibya
Em 2003, Eric Ridenour publicou o seguinte artigo no Electronic Intifada: