domingo, 6 de outubro de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XLI (04-2004)



Como se o assassinato do sheik Ahmed Yassine não bastasse para sabotar as negociações de paz, Ariel Sharon começou o mês de abril ameaçando Yasser Arafat uma vez mais.
Desta vez fez um comentário sarcástico. Insinuou em público que o presidente da Autoridade Palestina era um "poor insurance risk".
Sabia que o veneno já estava corroendo as entranhas de Abu Ammar?
Talvez nunca se saiba.
O que se sabe é que o Primeiro Ministro israelense deixou os palestinos ainda mais exasperados.
Embora soubesse que a Resistência não se conformaria com a execução do líder espiritual do Hamas sem revidar, a impressão que se tinha era que Sharon tinha a ilusão de poder evitar a retaliação com os informantes forçados e suas armas sofisticadas.
Ordenou operações militares "dissuasivas" na Cisjordânia e na Faixa de Gaza com o objetivo explícito de capturar os organizadores dos atentados antes que estes fossem postos em prática. O implícito era prender o máximo de gente para amedrontar os que ficassem l"ivres".
Nessa mesma sexta-feira do dia 02 de abril de 2004, em que ironizou a preacriedade da vida de Arafat, mandou um bando de policiais para a mesquita al-Aqsa, de Jerusalém, aterrorizar os fieis que rezavam.
Na saída do serviço religioso dispararam balas de borracha e granadas lacrimogêneas para dispersar os presentes e levaram 14 deles presos.
No dia 05 de manhã os Apaches da IDF dispararam mísseis na área de Juhor al-Deek, no centro da Faixa de Gaza. Demoliram uma casa e mataram cinco pessoas.
No dia 10, um soldado matou uma menina de 12 anos em Khan Yunis, na Faixa. Iman Tulba estava na cozinha de casa quando a bala a atingiu. Bala perdida? Não havia nenhuma escaramuça entre os resistentes e os soldados israelenses no bairro.
Alaa, priminho de Iman, disse que de repente viu a bala voar pela janela da cozinha, ricochetear na parede e atingir Iman, com quem brincava.
Acidente ou assassinato voluntário, jamais se saberia. De qualquer jeito, a bala fora atirada para penetrar na casa e esta simples direção já punha a vida de civis em perigo. Talvez tenha sido apenas uma das brincadeiras de tiro ao alvo dos soldados. Não haveria investigação e o soldado só seria reprovado por sua consciência, se tivesse alguma.
As forças armadas aéreas e terrestres do general Primeiro Ministro continuaram a varrer os territórios ocupados. E no dia 12 mataram mais três pessoas na Faixa.
Dois dias depois, após um encontro com Ariel Sharon, George W. Bush disse que os palestinos tinham de renunciar ao direito de retorno - Al-Awda, é a expressão em árabe.
O Presidente dos Estados Unidos aproveitou para declarar seu apoio à retirada das colônias judias de Gaza. Como se Ariel Sharon estivesse dando um presente - de grego, como se veria mais tarde.

No dia 17, Sharon explodiu outra bomba nas negociações. Logo depois de um bomba-suicida explodir no Erez Crossing, o checkpoint principal da Faixa levando consigo um soldado e deixando três feridos.
Um Apache atirou mísseis hellfire no carro de Abdelaziz al-Rantissi, recém-eleito líder do Hamas e co-fundador do Movimento. Seu filho Mohammed, de 27 anos, morreu com ele. Akram Nassar, seu guarda-costas, também.
Os "danos colaterais" humanos se resumiram a cinco passantes.
A operação foi um sucesso militar.
No âmbito politico-diplomático foi um desastre.
A condenação internacional à política de assassinatos foi unânime, contrabalançada em alguns países com o reconhecimento do direito de Israel de proteger-se.
Rantissi se definia como um dos sete fundadores do Hamas e negava que os bombas-suicidas que matavam civis fossem terroristas. Estes ataques, dizia, "are a response to Israeli terrorism, individual and governmental, against Palestinian civilians."
Era o que pensava a maioria absoluta dos palestinos.
Rantissi nasceu em 1947 em Yibna ("rebatizada" Yavneh pelos israelenses), perto de Ashkelon - uma das cinco métropoles da Pentapolis do extinto império Filistino.
Em 1948 foi um dos 200 mil palestinos que se refugiaram na Faixa de Gaza, sobreviventes do massacre dos para-militares israelitas.
Seus 9 anos foram marcados pelo assassinato de seu tio no campo de refugiados de Khan Yunis.
Formou-se em primeiro lugar em Medicina na Universidade de Alexandria, no Egito. Especializou-se em Pediatria e Genética, depois voltou para Gaza em 1976 como professor da Universidade Islâmica de Gaza.
Virou ativista em 1987, quando quatro compatriotas morreram em um desastre de automóvel com colonos e soldados no campo de refugiados de Jabalya.
Foi então que, segundo ele, uniu-se ao Sheik Ahmed Yassine, Abdel Fattah, Mohammed Shama, Issa al-Naijar, Salah Shehaded e o colega médico Ibrahim al-Yazur para a criação de um movimento socio-politico que ficaria conhecido como Hamas. No início da primeira Intifada.
Desde então fora uma figura de destaque no partido.
Foi deportado para o Libano em 1992 com 416 membros de seu Movimento e do Jihad Islâmico. Quando voltou a Gaza em 1993, foi preso e solto. Foi sempre uma figura de destaque no partido.
Seu enterro virou um evento político.

O Hamas não ficou acéfalo muito tempo. O sucessor de Rantissi, que morreu com 56 anos, foi nomeado em seguida. Era Khaled Mesha'al, que ocupa o cargo até hoje, no exílio. Na época tinha 48 anos.
Mas foi Ismail Hanyeh, atual líder do Hamas na Faixa, que lançou ameaças: 'Israel will regret this. Revenge is coming. This blood will not be wasted. It is our fate in Hamas, and it is our fate as Palestinians, to die as martyrs. The battle will not weaken our determination or break our will.'
Quanto ao Primeiro Ministro palestino, Ahmed Qorei, acusou os Estados Unidos. 'The Palestinian cabinet considers this terrorist Israeli campaign is a direct result of American encouragement and the complete bias of the American administration towards the Israeli government.'
A ira de Qorei era dupla. Pelo assassinato de seu compatriota e porque Ariel Sharon estava voltando dos Estados Unidos com carta branca de W. Bush para redesenhar o Road Map diminuindo as "concessões" aos palestinos.
Mas o Primeiro Ministro palestino era um moderado. Até demais, para inclusive alguns companheiros de partido.
Ao contrário dos dirigentes do Hamas. Na saída do hospital para onde Rantissi fora levado e onde morrera cinco minutos após sua chegada, um deles não mediu palavras: 'Israel will regret this. Revenge is coming.'
Satisfez os jornalistas e as câmeras que estavam lá esperando por sensasionalismo enquanto os sobrevientes da família de Rantissi, esposa e cinco filhos, recebiam a notícia da morte do marido/pai, irmão/filho com o mesmo pesar das famílias israelenses atingidas pelos atentados suicidas.

A IDF seguiu em frente. No dia 21 matou mais nove palestinos em Beit Lahiya.
No dia seguinte, assassinou três membros das Brigadas al-Aqsa em Tulkarm e três crianças.
No dia 23, assassinou mais três resistentes das Brigadas al-Aqsa em Qalqilia e um professor universitário em Nablus.
No dia seguinte, os mísseis dos Apaches atacaram Jenin. De novo o Fatah. Visavam a resistência. Ou melhor, Zakaria Zubeidi, como sempre. Mas foram três outros rapazes das Brigadas al-Aqsa, Husni Daraghma, Kamal Masa'id e Said Hardan que os mísseis pulverizaram.
O líder das Brigadas em Jenin sobreviveria a todas as tentativas de assassinato. Como já disse, Zakaria é um ser a parte. De um humanismo e uma humanidade raras. Como muitos outros combatentes, foram as circunstâncias que o levaram às armas. Só matava para defender-se e defender os seus da violência do ocupante.
Assim terminou o mês de abril de 2004. Com 53 mortos palestinos e três israelenses.
O mês de maio seria o da revanche, desequilibrada, como sempre.

B'Tselem: The Rooftops of Hebron

No mês de abril de 2004, Mordechai Vanunu, o whitleblower israelense que denunciou a potência nuclear de seu país com a cumplicidade dos EUA, foi solto após 18 anos de cadeia. Em homenagem à sua coragem, segue o artigo que Uri Avnery escreveu sobre o assunto no Haaretz. 
In the darkness of a cinema, a woman's voice: "Hey! Take your hands off! ‎‎Not you! YOU!"‎ ‎ This old joke illustrates the American policy regarding nuclear armaments ‎‎in the Middle East. "Hey, you there, Iraq and Iran and Libya, stop it! Not YOU, ‎‎Israel!"
The danger of nuclear arms was the main pretext for the invasion of Iraq. ‎‎Iran is threatened in order to compel it to stop its nuclear efforts. Libya has ‎‎surrendered and is dismantling its nuclear installations.‎ ‎ So what about Israel?
This week it became clear that the Americans are full partners in the ‎‎creation of Israel's "nuclear option".
How was this exposed? With the help of Mordecai Vanunu, of course.‎ ‎ Throughout the week, a festival was being celebrated around the prisoner, ‎‎who was released on Wednesday. ‎ ‎ 
The Security Establishment has not stopped harassing him even after he ‎‎has sat in prison for 18 years, 11 of them in complete solitary confinement - a ‎‎treatment he himself described on leaving the prison as "cruel and barbaric". ‎‎After he was "set free", far-reaching restrictions were imposed on him (e.g. he ‎‎is forbidden to leave the country, is restricted to one town, cannot go near any ‎‎embassy or consulate, may not talk with foreign citizens). All this under the ‎‎colonial British emergency regulations that were condemned at the time by ‎‎the leaders of the Jewish community in Palestine, as "worse then the Nazi ‎‎laws".
Not, God forbid, because of any desire for revenge!
The security people declared from every podium that this is not revenge for ‎‎all the shame Vanunu caused the security services, and is by no means just ‎‎more persecution, but an essential security requirement. He must not be ‎‎allowed to leave the country or to speak with foreigners and journalists, ‎‎because he is in possession of secrets vital to the security of the state.
Everybody understands that he has no more secrets. What can a ‎‎technician know after 18 years in jail, during which technology has advanced ‎‎with giant steps?‎
But gradually it becomes clear what the security establishment is really ‎‎afraid of. Vanunu is in a position to expose the close partnership with the ‎‎United States in the development of Israel's nuclear armaments.
This worries Washington so much, that the man responsible in the State ‎‎Department for "arms control", Under Secretary John Bolton, has come to ‎‎Israel in person for the occasion. Vanunu, it appears, can cause severe ‎‎damage to the mighty super-power. The Americans are afraid of sounding like ‎‎the lady in the dark cinema.
(By the way, this John Bolton is an avid supporter of the group of Zionists ‎‎neo-cons who play a central role in the Bush theater. He opposes arms ‎‎control for the United States and its satellites, and was installed in the State ‎‎Department against the wishes of the Secretary of State himself.)
In the short address Vanunu was able to make to the media immediately ‎‎on his release, he made a strange remark: that the young woman who served ‎‎as bait for his kidnapping, some 18 years ago, was not a Mossad agent, as ‎‎generally assumed, but an agent of the FBI or CIA. Why was it so urgent for ‎‎him to convey this?
From the first moment, there was something odd about the Vanunu affair.‎
At the beginning, my first thought was that he was a Mossad agent. ‎‎Everything pointed in that direction.‎ ‎ How else can one explain a simple technician's success in smuggling a ‎‎camera into the most secret and best guarded installation in Israel? And in ‎‎taking photos apparently without hindrance? How else to explain the career of ‎‎that person who, as a student at Beer-Sheva University, was well-known as ‎‎belonging to the extreme left and spending his time in the company of Arab ‎‎fellow-students? How was he allowed to leave the country with hundreds of ‎‎photos? How was he able to approach a British paper and to turn over to ‎‎British scientists material that convinced them that Israel had 200 nuclear ‎‎bombs?
Absurd, isn't it? But it all fits , if one assumes that Vanunu acted from the ‎‎beginning on a mission for the Mossad. His disclosures in the British ‎‎newspaper not only caused no damage to the Israeli government, but on the ‎‎contrary, strengthened the Israeli deterrent without committing the ‎‎government, which was free to deny everything.‎
What happened next only reinforced this assumption. While in London, in ‎‎the middle of his campaign of exposures, knowing that half a dozen ‎‎intelligence services are tracking his every movement, he starts an affair with ‎‎a strange women, is seduced into following her to Rome, where he is ‎‎kidnapped and shipped back to Israel. How naive can you get? Is it credible ‎‎for a reasonable person to fall into such a primitive trap? It is not. Meaning ‎‎that the whole affair was nothing but a classic cover story.
But when the affair went on, and details of the year-long daily mistreatment ‎‎of the man became public, I had to give up this initial theory. I had to face the ‎‎fact that our security services are even more stupid than I had assumed ‎‎(which I wouldn't have believed possible) and that all these things actually had ‎‎happened, and that Mordecai Vanunu was an honest and idealistic, if ‎‎extremely naive, person.
I have no doubt that his personality was shaped by his background. He is ‎‎the son of a family with many children, who were quite well-to-do in Morocco ‎‎but lived in a primitive "transition camp" in Israel, before moving to ‎‎Be'er-Sheva, where they lived in poverty. In spite of this, he succeeded in ‎‎getting into university and got a master's degree, quite an achievement, but ‎‎suffered, so it seems, from the overbearing attitude and prejudices of his ‎‎Ashkenazi peers. Undoubtedly, that pushed him towards the company of the ‎‎extreme left, where such prejudices were not prevalent.
The bunch of "security correspondents" and other commentators who are ‎‎attached to the udders of the security establishment have already spread ‎‎stories about Vanunu "imagining things", his long stay in solitary confinement ‎‎causing him to "convince himself of all kinds of fantasies" and to "invent all ‎‎kinds of fabrications". Meaning: the American connection.
Against this background one can suddenly understand all these severe ‎‎restrictions, which, at first sight, look absolutely idiotic. The Americans, it ‎‎seems, are very worried. The Israeli security services have to dance to their ‎‎tune. The world must be prevented by all available means from hearing, from ‎‎the lips of a credible witness, that the Americans are full partners in Israel's ‎‎nuclear arms program, while pretending to be the world's sheriff for the ‎‎prevention of nuclear proliferation.‎
And the lady cried: "Not you! YOU!"




A Fragmented Land


Vilolência dos colonos judeus contra os hebronitas
e ativistas estrangeiros que os ajudavam na colheita de azeitona



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