domingo, 23 de dezembro de 2012

Vinde a mim as criancinhas



Este parêntese natalino nos conflitos é para responder, em 2012, uma pergunta que continuam a me fazer amiúde e cuja resposta é um desabafo esperançoso que me lava a alma.
A curiosidade sã que os novos leitores deste blog manifestam é sobre uma figura infantil que povoa as imagens da Palestina.


É um menininho que não é risonho, faceiro,
mas que enternece todos os que o veem.




Ele se chama Handala.




Pronunciado Hanthala, Hanzala, Handhala, e em português, Randala.


Handala é criação do artista palestino Naji Salim Husain Al-Ali
e nasceu no Koweite para o jornal al-Siyyasa.




O nome desta personagem viva que virou emblema da Palestina
deriva de uma planta chamada handhal, em árabe.



Planta resistente, de raízes profundas e com capacidade de regenerar-se quando extirpada.


Handala é um garotinho horrorizado com a injustiça adulta
e não cresce nunca;
como a personagem do Tambor, do escritor alemão Günther Grass.


Não cresce porque Naji al-Ali foi desraizado de sua cidade natal al-Shajarah -
entre Nazaré e o Mar da Galileia - com 10 anos,
e é com esta idade que retornará ao lar.


Shajarah significa "árvore" em árabe.
A cidade de Naji e seus ancestrais foi destruída em 1948, na Naqba.



Shajarah foi batizada em homenagem a Jesus Cristo.
Ele lá sentou-se com os apóstolos sob uma árvore.
A caminho de Nazaré; quando foi rejeitado.



Shajarah foi destruída por grupos para-militares sionistas junto com outras 480 cidades palestinas,
cujos habitantes foram massacrados ou engrossaram a diáspora.
Como Naji e seus pais.


A família de Naji conseguiu escapar deixando para trás fazenda cultivada, vida despreocupada,
para acabar na miséria total em um campo de refugiados.
No Líbano, em Ein al-Hilwah.


E mais tarde, em Chatila.
Tristemente célebre por causa do massacre do qual seria alvo.


Foi na escola,
sagrada para os palestinos,
que Naji começou a desenhar.




Seu talento o levou à Academia de Arte do Líbano.



Não conseguiu formar-se.



Suas atividades político-artísticas o levaram ao cárcere.


Nessa época assinava seus desenhos Naji.




A partir do nascimento de Handala,
deixou de assinar seus desenhos porque viraram símbolo de resistência,
patrimônio universal de humanidade.


O garotinho desajeitado, descalço, maltrapilho, de cabelos esparsos,
virou sua própria imagem.


Mais do que isto.
Passou a retratar todas as crianças apátridas
que vivem o drama que a Palestina vive desde a Naqba.


Naji foi assassinado em Londres, em 1987.



Um assassinato político, encomendado, que nunca foi solucionado.



Ele incomodava muita gente, é claro.


Por causa de Handala.


E como Jesus Cristo, crucificado pelo Sinédrio para ser esquecido,
mas que para sempre será lembrado,


através de sua obra e de seu exemplo de resistência ativa através da arte,
Naji ficou para a posteridade.


Graças a Handala.



Prova que talento bem utilizado,
para atos desinteressados,
de solidariedade e generosidade,
nos aproxima Dele através de Sua mensagem
e nos dá asas e longevidade.


Como todas as pessoas iluminadas por missão maior do que elas,
Handala é Naji e Naji é Handala.


E no espírito natalino de fraternidade universal, somos todos Handala.


Maltrapilhos;
sem carteira de identidade;
mas com raízes tão profundas,
com uma cultura tão arraigada,
com um amor tão grande pela terra de nossos ancestrais,

que velamos pela chave de casa e alimentamos a esperança de um dia voltar.


E encontrá-lo lá.

Boa sorte, Handala!

Feliz Natal! e um 2013 de soberania e liberdade!


 “The child Handala is my signature, everyone asks me about him wherever I go.
I gave birth to this child in the Gulf and I presented him to the people.
His name is Handala and he has promised the people that he will remain true to himself.
I drew him as a child who is not beautiful; his hair is like the hair of a hedgehog who uses his thorns as a weapon.
Handala is not a fat, happy, relaxed, or pampered child.
He is barefooted like the refugee camp children, and he is an icon that protects me from making mistakes.
Even though he is rough, he smells of amber.
His hands are clasped behind his back as a sign of rejection at a time when solutions are presented to us the American way."
Handala was born ten years old, and he will always be ten years old.
At that age, I left my homeland, and when he returns, Handala will still be ten, and then he will start growing up.
The laws of nature do not apply to him.
He is unique.
Things will become normal again when the homeland returns.
I presented him to the poor and named him Handala as a symbol of bitterness.
At first, he was a Palestinian child, but his consciousness developed to have a national and then a global and human horizon.
He is a simple yet tough child, and this is why people adopted him and felt that he represents their consciousness."
Naji

We should live our lives as though Christ was coming this afternoon.
My faith demands - this is not optional - my faith demands that I do whatever I can, wherever I can, whenever I can, for as long as I can with whatever I have to try to make a difference."
Jimmy Carter

Roger Waters do Pink Floyd canta pela Palestina: We shall overcome

 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/





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