Em homenagem a Oscar Niemeyer, hoje salto os temas geopolíticos do blog para publicar a entrevista, inédita, que ele me concedeu em seu escritório em Copacabana.
Quem não o conhece e quem não ouviu falar neste ser humano?
Quem não o conhece e quem não ouviu falar neste ser humano?
Catedral de Brasília |
Desenhista inspirado, escultor engajado, arquiteto do concreto armado, de curvas e de convicções comunistas arraigadas que se refletem em sua longa carreira prolixa e rica em projetos arrojados e utilitários, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares se formou em Belas Artes na Universidade do Rio de Janeiro e, no desenho, começou sua carreira de arquiteto, na qual privilegiou obras públicas e culturais ao alcance de todo cidadão e que contribuam ao engrandecimento humano.
Ele me recebeu para um programa de entrevistas que estou preparando para a televisão brasileira. Ser Humano. Oscar, como insistiu em ser chamado alegando que Senhor estava no alto, recebeu nossa equipe de filmagem com uma delicadeza, boa vontade e simplicidade admiráveis. Tive uma longa conversa com ele em seu escritório povoado de lembranças de seu percurso profissional e humano. Conversa franca, informal e calorosa durante a qual revelou suas obras, sua história e sua alma solidária.
Eis algumas passagens.
MB: Oscar, eu gostaria de
fazer uma retrospectiva de sua vida, desde a infância até agora,
pegando os pontos cruciais da formação do seu ser humano.
Oscar Niemeyer: Meu nome devia ser
Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares. Eu vivi e nasci na casa do meu avô
Ribeiro de Almeida e fiquei lá até me casar. De modo que o nome Niemeyer surgiu
por ser um nome estrangeiro, meu nome devia ser Oscar Ribeiro de Almeida.
MB: E por que pegou Niemeyer e não um
dos sobrenomes brasileiros?
ON: É natural, o nome
estrangeiro marca mais, né? Mas foi o meu avô Ribeiro de Almeida que me influenciou mais. Tenho muitas boas lembranças dele e dos meus tempos de infância, de colégio,
nós morávamos juntos em Laranjeiras, era uma casa grande, ele tinha feito a
casa para filha dele, a minha mãe. Nós morávamos no andar de cima e ele e a
minha avó e os filhos moravam embaixo. Foi um período muito bom, meu avô foi
ministro do Supremo Tribunal durante muitos anos, pelo que eu me lembro bem
dele, era um sujeito bom, mas ele morreu pobre. Quando ele morreu, deixou a
casa hipotecada e nós tivemos de nos dividir, porque a vida ficou difícil pro
meu pai. De modo que é uma lembrança boa nesse mundo de roubalheira, de falta
de caráter, lembro dele com muitas boas lembranças pra mim.
MB: E a formação que
ele lhe deu?
ON: Família
tradicional, católica, com retrato do Papa na parede, com missa em casa, porque
a sala de visitas era grande, tinha umas cinco janelas, uma delas virava
oratório aos domingos. A vizinhança toda ia e a missa era na minha casa.
MB: Significa
princípios cristãos próximos de um lado do senhor?
ON: Era uma gente muito
boa. Eu me lembro que quando eu saí pelo mundo, o mundo pareceu tão injusto que
eu reagi. E na luta política eu pensei a vida inteira.
MB: E quando ela começou?
ON: Eu ajudava o Socorro
Vermelho quando era rapazinho, arranjava camisa, roupa usada e pegava para
dar para os mais pobres. Depois entrei para o Partido Comunista. Quando entrei para o partido conheci as melhores pessoas. Pessoas que não tinham
nada na cabeça a não ser, ser úteis, ajudar e defender os mais pobres. De modo
que o Partido foi uma escola muito importante para mim.
MB: E o senhor já era
arquiteto?
ON: Não, eu era
estudante.
MB: Era estudante ainda
quando o senhor entrou para o Partido?
ON: Quando entrei
para o Partido, sim, eu era arquiteto. Mas já frequentava o Partido, já ia aos
comícios, já estava circulando em volta do Partido.
MB: E como era o
Partido Comunista nessa época no Brasil?
ON: Havia esperança.
Havia esperança e deve continuar havendo entre nós. Nós queremos pouca coisa, a
gente quer um mundo igual para todos.
MB: Valores humanistas, na verdade?
ON: É lógico. Eu sempre
pensei nisso. Eu tive amigos bons. Foi um
período muito bom. Entendi que era preciso ler. Tem de ler desde o Diogo do Couto, que era
amigo de Camões até os escritores de hoje. Isso ajudou muito, tanto que hoje, a
campanha que nós fazemos é para mudar o caminho dos jovens, fazer eles lerem um
pouco mais. Então, nós achamos que o ensino superior precisa mudar. Ao
mesmo tempo em que o jovem aprende uma profissão, para qual se dirigiu com
entusiasmo, é preciso que ele aprenda que o mundo é difícil, o mundo é
perverso, tem miséria. Tem de lutar contra isso. Isso é o que salva o jovem
brasileiro, então ele se forma como especialista, ele sai para a vida
conhecendo bem a profissão, mas sem ter essa compreensão do mundo, essa
injustiça universal que é preciso se organizar para lutar contra isso, de modo
que ele esteja preparado para a vida.
MB: Mas isso, Oscar, é
uma linha comum no mundo inteiro, não?
ON: Pois é, mas a gente
não pode ficar só achando que é preciso isso. Por exemplo, aqui no escritório
tem um colega meu que é muito humilde, ele não queria ser arquiteto, eu pago
universidade para ele, ano que vem ele vai ser arquiteto, mas a obrigação que
ele tem comigo ele tem de ler um livro de três em três meses. Então ele vai
saber quem foi Eça de Queiroz, quem foi Machado de Assis, quem foi Sartre, ele,
hoje, já tem uma formação melhor, de modo que na passagem do estudo para a vida profissional o
sujeito se informar, ler, ler qualquer coisa, depois, ele vai procurar o
assunto predileto, ele vai vivenciar o escritor, como ele vivia, se ele representava
as mesmas coisas que ele falava, então, um mundo novo se abre para ele. Acho
importante ler, não é ser um intelectual, é saber as coisas importantes da
vida. Aqui no escritório, por exemplo, há cinco anos veio um professor falar
com a gente sobre o cosmos e sobre filosofia, há cinco anos, toda terça a
noite; hoje ele vem, hoje ele vem aqui dar uma aula sobre filosofia, conversar
sobre filosofia, falar do cosmos, dos problemas que existem, do planeta que
está aquecendo, que sem as árvores o mar vai crescer, essa coisa toda. Então a
gente teve uma idéia melhor, a gente sentiu que é tão pequenino, que o homem
não tem significância. Você começa a sentir com eu sinto que nada é importante,
o importante é a vida, é ser um sujeito cordial, é ter prazer em ajudar os
outros. De modo que essa é a nossa maneira de ver, e lutar por um mundo melhor.
O sujeito vê e fala: “Ah! Tem miséria, tem...”, então vamos mudar a sociedade.
O Bush e o império norte-americano têm de ser combatidos de toda maneira.
MB: E o senhor coloca
luz, é interessante isso porque...
ON: Não é o sujeito
ficar pessimista demais, tem de ser pessimista. O ser humano não tem
perspectiva, então, ser mais simpático, mais ligado aos outros, mais cordial, é
isso que nós buscamos. O sujeito pensar que é importante é tão ridículo. O
sujeito que está na rua protestando faz trabalho mais importante que o meu. O
resto tudo passa.
MB: Falando um pouco na
importância das pessoas e tudo o mais, eu tenho uma sensação de luz, de luminosidade
muito grande quando entro na catedral de Brasília. Eu
senti e sinto essa mesma luminosidade na Hagia Sofia, em Istambul. E é
interessante porque... milhares de anos separam as duas obras.
ON: Talvez porque ali
eu me preocupei em criar um momento de entrada diferente. Procurei uma
entrada mais escura e quando chega na nave tem o contraste da luz. O resto é a
técnica do concreto armado, aquelas colunas todas foram feitas no chão,
pré-fabricadas, e depois, com o jogo de armar, nós criamos aquela forma em
ascensão.
MB: Pensando na
perenidade das pessoas, vejo a Hagia Sofia, encomendada por Justiniano, que foi um grande Imperador, e o arquiteto, Rufinos e hoje em dia ninguém nem
lembra do arquiteto
Rufinos ou de Justiniano, mas a Hagia Sofia está lá, e as obras estão
lá. E o que o senhor acha disso? De pensar que Brasília vai ficar, a catedral
vai ficar e talvez o senhor passe ao esquecimento?
ON: Eu não acredito
nessa coisa de pensar que vai ser importante, se vai ficar na história, a gente
faz o momento que a gente vive. Se eu faço um prédio bonito, diferente, arquitetura, quero surpreender. Porque na arquitetura, o importante é a surpresa, você chegar e
inventar uma coisa nova. Então, os mais pobres, por exemplo, chegam em um
prédio moderno, diante da catedral ou em outro prédio qualquer, se ele é
bonito, se ele é diferente, ele não vai participar de nada daquilo, mas ele tem
um momento de emoção, de espanto, é uma coisa diferente. Essa é a mensagem da
arquitetura, que a arquitetura mal distribuiu. Nós trabalhamos para os ricos,
para os governos que querem uma arquitetura diferente.
MB: Mas o senhor pensa
muito, eu vejo as suas obras, muitas obras universitárias - a UNB (Universidade Nacional de Brasília), a Universidade de Raifa, a Universidade de
Alger, a de Constantine, que é maravilhosa também, e os alunos da escola de arquitetura de
Alger são orgulhosíssimos dela, e sempre falam, e mostram, e mandam...
ON: Eu gosto de
Constantine.
MB: Constantine?
ON: A Universidade de
Constantine é tão diferente de todas as outras.
MB: Eu também acho.
ON: Eu acho que não
existe no mundo uma universidade que tem esse espírito da Universidade de
Constantine, eu chamei Darcy Ribeiro, que estava no exílio Chile, e ele foi
para lá, a preocupação dele era que houvesse mais intercâmbio entre os alunos,
que eles tivessem mais contato. Então invés de fazer uma universidade em que
cada escola é um edifício, eu fiz só dois grandes edifícios monumentais, um de
letras, onde tem várias salas de aula, anfiteatros, e o outro de ciências. E
esses dois edifícios servem para os alunos de todas as escolas. Então, a idéia,
como eu disse, era levar para lá a idéia do Darcy, do contato, e que no fundo
era nossa preocupação de lutar contra o homem especialista, que só sabe da sua
profissão, então, ele não conhece o mundo, ele vai atuar mal no mundo em que
ele tem de viver. Então a idéia do ensino superior, haver aulas paralelas, de
filosofia, de história, de tudo, não para criar o intelectual, mas um homem que
sente o mundo em que vive, que se faz solidário, que sente que tem que ser
simples e se ele entrou pro lado das aulas sobre o cosmos também, como nós
ficamos insignificantes dentro desse universo imenso que nos cerca e nós
pensamos que é nosso, mas não é nada, nem o nosso planeta nos pertence, é um planeta
modesto está lá no fim da galáxia, longe de tudo.
MB: E mesmo na
arquitetura quando penso em todas as suas obras...
ON: É tudo invenção.
Eu, por exemplo, quando fiz o Museu de Brasília e vi as
plantas, já tudo pronto para começar, eu senti que já era diferente, porque a
cúpula tem 80 metros. Na renascença, os grandes mestres da renascença, os
arquitetos, eles não chegavam a mais de 40 metros na extensão da cúpula, e como
eles deviam ter vontade de fazer uma maior, e fazer uma que eu fiz agora, tem
80 metros. E nela tem pendurado rampas e mezaninos, e tudo. Então, nesse Museu
de Brasília quem entra é uma demonstração do que o concreto armado permite
fazer, uma porção de recortes. Mas não basta isso, eu queria que fosse
diferente, aí eu pensei em fazer uma espécie de ruazinha suspensa no ar, que
sai de um andar, passa por cima da cidade e entra no outro andar. Então é uma
coisa nova, quem vai ao museu de Brasília vê sem compreender o porquê daquela
passagem aérea, aí o pessoal quer fazer aquele passeio, entra num prédio,
passar pela cidade, entrar em outro prédio. É num caso desses que o arquiteto
tem a idéia na arquitetura. Não fazia parte do programa, essa ruazinha não
constava no programa do museu, mas eu inventei, ficou lá e todo mundo gosta
desse passeio. Mas quando é um caso assim, que o arquiteto foge do programa e
adiciona qualquer coisa diferente é que ele intervem na arquitetura.
MB: Como na Praça do
Havre (na França).
ON: A praça do Havre eu
me lembro que foi engraçado, porque eu estava com o prefeito Rufenacht eu disse para ele que a praça, e a
proximidade com o mar, o frio que havia, os ventos. Precisava fazer a praça
abaixo de 4 metros. É uma posição assim que ele olhou para mim que ele pediu
até para parar a conversa, abaixar uma praça 4 metros é complicado, mas ele
aceitou.
MB: É, pelo ~menos, inusitado.
ON: É a primeira praça
que se fez até hoje em que se preocupou em proteger, em fazer mais baixo do chão.
Tanto que eu me lembro que um especialista em arquitetura da Itália, que
falava, muitas vezes, severo da nossa arquitetura, ele disse que essa praça ele
classificava entre as 10 melhores obras da arquitetura contemporânea, porque é
diferente, a arquitetura tem que causar espanto, ser diferente, se não, é uma
repetição.
MB: E é econômica. É um
prazer andar na praça, porque o fato dela ser mais baixa corta o vento e a
gente se sente bem ao passear nela.
ON: Eu tinha razão. Falei com tanta convicção, e ele, que é um homem inteligente, entendeu, podia
seguir.
MB: É interessante. E eu vejo também, por exemplo, meu prédio preferido em Brasília é
o Itamarati, mas quando vi a Editora Mondadori pela primeira vez foi uma surpresa porque não sabia que era do senhor. E ao vê-la reconheci que era sua.
ON: Eu repeti as
colunas do Itamarati, destaquei, fiz diferente. Fiz as colunas, mas
queria fazer diferente, então eu fiz um espaço entre as colunas diferente. Ficou
longe, 15 metros de espaço, depois ficou 8, ficou 9, vai variando assim, parece
um pouco musical, e é bonito. Eu me lembro que cheguei com o projeto, ele ficou
espantado, aí o meu calculista...
MB: Quem lhe pediu o
projeto? Foi o Mondadori mesmo?
ON: Não, o engenheiro
dele. Mas o Mondadori gostou logo. Era tão simpático, entusiasmado no que
fazia. O importante é isso, a gente ter prazer em fazer as coisas. Ficar feliz
com uma obra de arte, é o momento em que ela cria emoção e surpresa.
MB: Ao ver a Editora
Mondadori, tive uma sensação muito estranha, enfim, estranha e bonita ao
mesmo tempo. Vi que tinha a sua marca e ao
mesmo tempo, tinha uma diferença, aquela diferença do gênio, que me lembra
um pouco, por exemplo, as variações Goldberg de Bach, ou as Diabelli do
Beethoven. Isto é, a nota que se repete, mas que nunca se repetia, parece que se repete, mas não se repete... sua arquitetura me dá essa sensação.
ON: Eu faço as coisas
que ajudam a arquitetura. Eu tenho uma ideia, se ela é diferente eu toco pra
frente, faço o projeto. Projeto pronto, eu escrevo o texto explicativo, aí o
texto influi na margem de aprovação do projeto e o próprio projeto. E planta
ninguém conhece, é fantasia, a pessoa mais sensível pode compreender, mas um
texto bem feito, contando como é a praça, como as pessoas andam, quase
relatando o dia em que passou na praça, como se já estivesse pronta. É aí que
dá a idéia do projeto e como é que ele vai atuar.
MB: E de onde vem a
inspiração?
ON: Mas eu digo sempre,
a arquitetura. Tudo é voltado para a arquitetura, trabalho o dia inteiro na
arquitetura. O dia inteiro não, porque a gente tem amigos e conversa de coisas
mais importantes, mas o mais importante é a vida, não a arquitetura. O importante
é o bom relacionamento, é você estar dando uma colaboração qualquer. Se eu não
gostasse de leitura, se eu não tivesse feito o que eu proponho com meu colega
do escritório, eu estaria apenas sonhando. A gente está procurando atuar. Nós
estamos fazendo agora em Niterói, ao lado do museu, o prédio está quase pronto,
já pus o dinheiro para construir, nós vamos construir um instituto. São só dois
anos de aula, se o sujeito entra, vai se modificar, se ele não sabe nada, se
ele é um especialista, se ele não compreende o mundo, se ele não especula, pelo
menos, por que nós estamos aqui, como viemos parar aqui e o que temos pela
frente. Ele fica preso ao problema dele. É uma merda. Então, a gente precisa
fazer as pessoas terem curiosidade. Leia qualquer coisa, vá aprender, vá se
interessar, vá se preocupar com o mundo, saber que existe miséria. Então, ele
vai ter uma atuação simples, rápida, um sopro, mas vai ser mais útil, pelo
menos.
MB: E o senhor tem uma
preocupação muito grande com o utilitarismo, não? E aí, lembra também a
história do Nietzsche, o utilitarismo dele só...
ON: Nós queremos uma
sociedade mais simples. Os palacetes vão desaparecer, ainda restarão alguns,
mas os grandes empreendimentos humanos, os estádios, os teatros, serão mais
imponentes ainda. São todos que vão participar deles. De modo que queremos que
o sujeito seja acessível, que sabe que está de passagem, que amanhã vai embora,
que não tem importância nenhuma. O mundo é esse.
MB: É a vida. É a
vida que...
ON: Um dia alguém me
perguntou do Pasquim. Pasquim é um jornal mais livre, faz brincadeiras...
MB: Daqui do Rio de
Janeiro?
ON: São meus amigos, me
perguntaram “Oscar e a vida?”. A vida, a vida, é a mulher do lado e seja o que
Deus quiser. Era uma resposta um pouco animal, mas é importante, é a mulher do
lado e seja o que Deus quiser. Porque a vida nos leva pra onde ela quer, nós
não podemos fazer um programa se o destino não colabora com a gente. É uma
coisa sem terror, então por quê? A gente tem que defender determinados
princípios. Eu sou comunista, não tem outra conversa comigo, eu posso aceitar
um movimento que procura ajudar, às vezes é até aquilo mesmo, uma unidade
formada de pessoas iguais, que estão de braços dados, vivendo. A gente procura
se informar sobre a ciência, essas coisas, a gente sabe que... Shopenhauer que dizia, ele era até
reacionário, mas o apelo que ele tinha contra uma posição de idealista, ele foi
importante, depois veio o Sartre, ele foi importante na vida dos franceses, em
determinado período ele tinha a juventude com ele. Era inteligente demais.
MB: Vocês protestaram
juntos? Vocês participaram de passeatas em Paris?
ON: Uma vez ele me
chamou para um encontro público assim, o pessoal partiu, eu mandei uma carta
para ele,... mas eu li, por exemplo, é engraçado, tinha um escritor francês que
eu gostava muito de ler, era o Simenon. Escrevia
contos policiais, mas escrevia muito bem. O pessoal do escritório brigava
comigo porque eu sempre estava lendo o Simenon.
Mas um
dia eu li um livro do Sartre com a Simone de Beauvoir, L’être et le néant (O ser
e o nada) em que ele dizia “Hoje eu
li três livros de Simenon”. Se o Sartre lê três livros de Simenon em um dia, eu
posso continuar lendo.
MB: E Georges Simenon
foi um autor muito prolixo, como o senhor na arquitetura.
ON: Escrevia bem. Mais realista do
que os escritores que fazem isso. Mas era fantástico.
MB: E seus traços comuns com franceses
não pára aí. O senhor compartilha com Charles Baudelaire e André Malraux o interesse pela surpresa.
ON: André Malraux
quando eu o conheci, eu tinha lido... como é mesmo o nome do livro?
MB: La Condition Humaine?...
ON: Foi um dos
primeiros livros que eu li dele. Começa o livro um
apunhalando o outro, mas ele era um escritor fantástico, e foi uma figura importante. Ele conseguiu, na França, que eu trabalhasse como arquiteto. Foi tão simpático. Eu estive em apuros, por onde andei, não sei se a
França precisava de protesto, mas estava em todo lugar, na Itália, no
Mandadori, Argélia. Foi sempre muito boa minha passagem pela Europa, apesar de
preocupado com o Brasil, com o que estava acontecendo no Brasil. Foram 20 anos
de agressão, de porrada, essas coisas.
MB: O senhor estava
onde na época do golpe?
ON: Eu estava em
Lisboa.
Eu tinha saído e o Darcy
Ribeiro disse para mim 'Oscar, estamos no poder.'. Era o tempo do Jango, ele
estava completamente enganado, eu, meses depois, estava em Lisboa e ouvi o
recado pelo telefone.
MB: E o senhor ficou?
Voltou para o Brasil?
ON: Aí eu fiquei por
lá, tinha trabalho para fazer, na França, na Itália, mas quando eu voltei, já
no fim da ditadura, no fim da ditadura não, mas quando já estava mais amena, já
não batia em ninguém. Se discutisse só era levado pela polícia. Mas quando ela
começou, foram nos escritórios, quebravam o escritório, mas passou, 20 anos.
Hoje os militares são necessários, hoje nós damos muita importância a eles,
quando eles estão no nosso caminho, eles são quem têm as armas. Quando tiver em
uma situação feita a da Venezuela, aparece o Chaves lá, eles tiveram o país
deles dentro do peito o tempo todo, eles estão prontos para brigar e eles que
levam a coisa pro caminho que a gente quer.
MB: O senhor estava
falando sobre a imprevisibilidade da vida e me lembrou que em 1946 o
senhor teve o visto negado para os Estados Unidos, não é mesmo, quando foi convidado
para dar um curso na Universidade de Yale. E no ano seguinte acabou enrando, com todas as honras,
já que foi participar do projeto de consrução do prédio das Nações Unidas.
ON: Quanto aos Estados Unidos, a gente é contra o regime. Todo povo tem gente boa, protestando....
MB: E a ONU, foi importante para o senhor participar desse projeto?
ON: Foi porque eles
escolheram o meu projeto. Eles me reuniram, todos
foram para uma sala, foi uma festa. Depois o Corbusier pediu para eu fazer uma
modificação no projeto, aí eu fiz a pior coisa, eu aceitei, eu trouxe a
assembléia que estava no canto do terreno e atendi a ele e botei no meio do
terreno, porque ele queria a assembléia lá, e aí ficou como está.
MB: Ah, porque a Assembléia era no canto?
ON: Era, tinha a praça
das Nações Unidas. Mas eu era jovem, eu vi que ele tava aflito, ele estava
muito joão-mandado, por não ter o projeto escolhido, e eu cedi. Mas naquele dia
eles esculhambaram meu projeto. O projeto que eles têm lá hoje não tem
interesse nenhum. É o prédio um do lado do outro. Um dia, passado uns tempos,
eu estive com ele, ele ficou me olhando e disse, 'você é generoso.' e eu me
lembrei que ele estava recordando daquele dia das Nações Unidas que eu aceitei
mudar a posição do prédio.
Eu fiquei por
último porque o Corbusier pediu para eu ficar trabalhando com ele, e eu fiquei
ao lado dele. Um dia, todo mundo tinha dado o projeto, só faltava eu, e o
Alisson pediu para fazer o projeto, e eu falei com o Corbusier isso você não faz
não, vai criar confusão.'. E criei.....
MB: Aliás, Corbusier
dizia que suas curvas vinham das montanhas do Rio, da arquitetura natural.
ON: Ele era um grande
arquiteto, mas pensava só na arquitetura.
MB: E pensando na
arquitetura, por exemplo, vejo que o senhor teve essa preocupação com
monumentos também bastante políticos, não? Como o Memorial da América Latina, cuja mão sangrando me lembra As Veias Abertas da América Latina, do Eduardo Galeano. Toda coincidência é coincidência
ou o senhor pensou nisso?
ON: Não pensei nisso.
MB: Uma coincidência.
ON: Eu o conheci depois, mas não sabia
disso. Pensei em sangue correndo da América Latina na opressão americana.
MB:
É, porque é um livro muito importante para a América Latina, do Eduardo
Galeano.
ON: É ótimo.
MB: E depois o memorial também aqui no Rio
contra-tortura do Doi Code e Simão Bolívar, na Venezuela. Um projeto muito interessante.
ON: Eu fiz um projeto Memorial de Simão
Bolívar e mandei pro Chaves, mas era um presente, não vai fazer não. É porque
nós conversamos muito sobre Simão Bolívar, no dia seguinte me deu a ideia de
fazer alguma coisa e mandei para ele de presente.
MB: E ele gostou. Eu também gostei. Muito
bonito. E pro Fidel o senhor fez algum projeto para Cuba?
ON: Pro Fidel eu fiz
uma figura grande lá para Cuba. É um monstro, mostra o americano atacando um
cubano, o cubano se defendendo com uma bandeira, tem 15 metros. Está sendo
construído lá, daqui a um mês deve estar suspenso. Fidel é solidário, ele
esteve aqui comigo, nós fizemos uma reunião para ele aqui, é uma figura
fantástica. Está certo sempre, sabe definir as coisas. E teve coragem no
momento de tomar atitude e livrar Cuba da mão dos americanos. É isso.
MB: E o senhor tem uma
ideia de como será Cuba pós-Fidel?
ON: Fidel que
salvou Cuba.
MB: Dá para imaginar Cuba sem
Fidel?
ON: Eu acho que o povo
está...O Fidel é o presidente eleito pelo povo, o povo o adora. Meu neto foi
agora à Cuba não viu ninguém na rua pedindo esmola, não viu nada, viu um país
tranquilo, todo mundo satisfeito, cantando, contentes, abraçados com Fidel,
certos de que ele vai voltar outra vez, se não voltar a ideia dele está no
coração, feliz para sempre.. Cuba é fantástico, é um exemplo para a América
Latina. Nós devíamos ter feito isso há muito tempo.
MB: Mas quando o senhor
construiu Brasília tinha uma idéia igualitária, não? Porque os prédios, a
impressão que se tem é que não se conhece a classe social. Estou falando
Brasília, depois a cidade satélite...
ON: Era um regime
capitalista, o que a gente podia fazer? Brasília não é bom exemplo não porque
ao lado do Plano Piloto tem uma favela com mais gente que no Plano Piloto...
MB: Hoje.
Mas quando o senhor fez...
ON: (Eu devia ter
cogitado a favela), ter deixado crescer. Eu não construí Brasília. Quem
construiu Brasília foram os operários, vindos de toda parte do mundo. Eu me
lembro que ia para a estrada de automóvel para Brasília e cruzava com os
caminhões que vinham de todo canto do Brasil, eles vinham animados para ajudar
a construir Brasília, como se a terra da promissão os convocasse, era um
entusiasmo danado. Agora, lógico, que isso não impede que o Juscelino tenha a
parte dele que foi mais importante de imaginar Brasília e querer fazer, era o
sonho predileto dele. Eu me lembro quando nós fizemos Pampulha.
Eu me lembro que
ele me chamou, e disse 'Oscar, vamos fazer Pampulha.'. É um grupo de prédios,
vai ficar muito bonito, e quando acabei a conversa com ele, ele me disse 'Olha,
eu preciso do projeto pronto para amanhã.'. Eu era jovem, fui para o hotel,
trabalhei a noite inteira no dia seguinte entreguei. Então, esse negócio de
"Preciso do projeto para amanhã", ele me falou o tempo todo de
Brasília, era tudo para amanhã.
MB: Já nessa época?
ON: É. E nós corremos,
cinco anos de luta, de desespero, de esperança, e a cidade foi feita. De modo
que, as peças, assim, não pode querer que esteja tudo no lugar certo, Brasília,
como qualquer cidade, tem problemas, problemas de circulação, tem outros
problemas também, áreas vazias que foram ocupadas, mas está feita. Foi um
grande entusiasmo, foi um momento de otimismo do povo brasileiro. Agora, ao
lado de Brasília, a miséria continua, a mesma merda, a mesma falta de comida,
de teto, tem um movimento mais importante de todos, que é a reforma agrária,
que a pessoa não tem terra, não tem pão, não tem teto, está se transformando em
um movimento político, são muito ligados ao... agora esqueci o nome dele. É o
líder desse movimento, a pessoa formidável.
MB: Líder do MST?
ON: É. De modo que, é
um movimento que existe no Brasil hoje que apoiamos com maior emprenho é o
movimento da reforma agrária. Ele está ampliando, é um movimento de protesto,
que tem que ser feito, apesar do Lula não ser um revolucionário, ele é um
operário, mesmo que ele não queira, ele está voltado para a classe operária.
Mas falta ânimo nele para decidir a coisa com a urgência que nós achamos
necessária. E se abraçar com todos, e juntos levantar a América Latina dessa
pressão norte americana. São nossos amigos, não sei porquê, estão mais
próximos.
MB: Outra coisa que acho interessante em seu trabalho é o sincretismo religioso. Apesar de ser ateu..., construiu igrejas no Brasil, mesquitas fora...
ON: Estão querendo
fazer um missa na praça da Apoteose de apelo contra a violência. Eu disse que
não era comigo, a violência você resolve fazendo uma vida melhor, dando comida
aos que têm fome, dando teto para os que não têm casa, mas eu não posso ser
contra os católicos, são milhares no Brasil inteiro, eu faço o apelo que eles
querem. Eu não sou contra religião. Eu não acredito em nada, mas o próprio
Stalin um dia disse que não descartava a ideia de que houvesse uma força qualquer
misteriosa... Pode haver qualquer coisa, só que no momento eu
não acredito em nada.
MB: Mas...
ON: Eu estou com o
coração aberto para acreditar, se surgir. Por isso que a gente quer saber como
que a coisa começou, como é que o homem começou, como é que evoluiu, como é que
as coisas acontecem, o universo expandindo, e como é que vai acontecer tudo
isso, a Terra doente, tudo envelhece, a gente tem que ter pelo menos um pouco
de curiosidade para essas coisas, que podem levar a outras soluções, outras
idéias, nada é fixo.
MB: Pois é, mas o
senhor é o ateu mais espiritualista que eu conheço. Porque tanto as mesquitas
quanto às igrejas, dá essa dimensão...
ON: Eles estão felizes
pensando naquilo. Para nós eles estão errados. E é inclusive a religião que
cresce demais, perigoso...
MB: Fundamentalista?
Enfim, com exceção do cristão de fato. Pier Paulo Pasolini se dizia um cristão dos três primeiros séculos, O CRISTIANISMO DE JESUS. Nem
nesse o senhor se reconhece? É ateu mesmo?
ON: No momento, não
acredito em nada. Mas estou aberto, enquanto eu estiver vivendo as coisas estão
acontecendo, a verdade está surgindo, a gente vai penetrando pouco a pouco nos
mistérios da vida, do cosmos, quem sabe se um dia chega.
Eu
acredito é na solidariedade que é preciso ter. Não ter pobre nem rico, nem
branco nem preto, todos iguais.
MB: O que o senhor acha
que as pessoas poderiam fazer individualmente ou coletivamente para uma
evolução pessoal e uma contribuição na evolução da humanidade.
ON: Por exemplo, meu
caso, que é um caso íntimo, não tem a menor importância. Eu ajudo gente a estudar, eu pago a universidade do amigo do colega meu, se ele
não pode pagar, o que eu peço em troca, ele lê um livro, todo mês ele lê seu
livrinho. Isso aí a gente pode fazer.
MB: Cada um põe a sua
pedra.
ON: Lógico. E brigar e
dizer, quando perguntar alguma coisa você, claro que pensa. Quando o sujeito me
telefonou para falar da missa, eu disse “Estou fora”, meu pensamento é outro, é
mudar a vida. Mas, não vou ....., a gente tem que respeitar o sentimento dos
outros.
MB: Se for para o bem?
ON: É. É um mistério
danado. Às vezes vejo, quando converso com esse meu professor, é tanta coisa
que, é uma imagem, uma idéia ainda vaga, eu não sei com certeza, parece que vai
servir, foi assim.
MB: E o senhor acha que
o estado do mundo atual, em relação a tudo que o senhor viveu nesses cem anos
de vida, o senhor vê a história como uma repetição, o senhor acha que a
história se repete?
ON: Acho a humanidade fantástica, o progresso
da ciência, o progresso de tudo, acho fantástico. O ser humano é humilhado,
nasce mau feito um bicho, não tem condições de fazer nada, mas ele é
importante. Pensando no povo, que cresce e forma, a luta e tudo, A história é
fantástica. Começa lá com os gregos, depois vêm os romanos, depois vem
religião, depois vêm os do norte, É uma história fantástica. Uma vez o Sartre
me disse que ele lia um almanaque, uma enciclopédia, ele lia uma enciclopédia
como um bom romance, e é a mesma história dos homens gregos, ele ficou
admirado, ficou espantado, passou a querer descobrir as coisas, porque ele era
assim. A ciência é fantástica, pensado pelo tempo, é fantástica.
MB: E também pensando
no mundo como um todo e na evolução da humanidade, o senhor acha que teve
alguma evolução no tocante ao ser humano, ao humanismo? As pessoas desenvolveram
mais o lado humanista ou houve uma degeneração, deterioração disso?
ON: Já mistura, deixa
eu te contar o correto. Você vê o Prestes. Era um soldado, ele pediu demissão
do exército e entrou na briga. Ele correu o Brasil, sentindo a miséria do
Brasil. Ele tinha um objetivo, mas não tinha nada para a felicidade, para a vida
dele pessoal, era para a vida dos outros que ele olhava. Ele nem era comunista
e pensava como a gente, queria o Brasil no caminho certo. Eu me lembro que na
história dele, da Coluna, tem um ponto que ele pára em um lugar e vem a moça do
casebre, lá para pedir um remédio. E ele disse, você está sozinha? E ela disse
não, só temos um vestido. Quer dizer, miséria total.
É uma luta pessoal,
que eu acho todos se unindo. Um dia eles vencem, mas figuras importantes
surgindo compreendendo a vida, levando uma vida melhor, lutando, não pensando
neles mesmos. Eu acho que a gente tem de ser simples, hoje em dia mesmo, hoje. É tão ridículo pensar que é importante, pensar que
vai fazer coisa importante. São coisas que acabam. Tem um certo sentido assim,
mas não é nada.
MB: O resultado do que se faz talvez tenha importância para algumas pessoas.
ON: A importância é
lutar por uma vida mais justa, por teto, comida, coração aberto para os outros,
solidários. O importante é ajudar aos outros. Não por obrigação, mas porque
gosta.
MB: O senhor falou no
mundo, na evolução e tudo, falou nos gregos e tudo. Quando nós pensamos na
evolução histórica, do mundo, os gregos que trouxeram a humanidade, que deram à
humanidade os filósofos, a filosofia, os teatros...
ON: Organizaram a
sociedade.
MB: Pois é, e os
romanos, que construíram, construíram por onde passavam. Napoleão que conquistou o que conquistou...
ON: O mundo é cheio de
misérias e grandezas. Você vê sujeitos horríveis, mas tem outros que não,
outros crescem, debatem, escutam, eles mostram que não são bichos.
MB: Em relação à vida
de uma forma geral, vi sua escultura longilínea, maravilhosa, aquela que
está ali. Me faz lembrar Giacometti. Alberto Giacometti.
ON: Você sabe, eu nunca
tinha visto uma escultura dele. Achava a figura fantástica, aquelas figuras
fininhas, fantástico. Mas um dia entrei em um banco, na Suíça, e tinha no meio
do salão uma escultura dele, tão bonita. É uma certa tendência a gostar das
pessoas. É normal o sujeito olhar o outro, sem conhecer, começar a procurar
defeitos.
MB: O pré-conceito.
ON: Você tem que achar
que todo mundo tem uma qualidade, que pode se modificar.O Lenin dizia que dez
por cento de qualidade já era o bastante. É ter simpatia pelos outros, não
achar que é ruim não, que faz besteira. Todo mundo faz besteira. Quanta
besteira eu já fiz.
MB: O que a palavra
“humano” lhe evoca, Oscar?
ON: Lembro que ela
representa o ser humano. Cheio de problemas,
sentindo a realidade, lutando contra o impossível. Eu me lembro que meu amigo
João Saldanha dizia assim ‘que a gente não pode fazer um plano, a vida nos leva
aonde ela bem quer’, e é verdade. A gente tem sorte às vezes, quando as coisas
correm bem, mas tem sempre aquela ideia da morte. O sujeito acha que nasce
condenado. Eu me lembro do meu irmão que era médico, ele dizia 'o pior não é
morrer não, é não saber do que vai morrer'. Então, eu, por exemplo, tinha seis
irmãos, nós éramos seis. Eu sou o único agora. Quer dizer que foi duro, eu
assisti cada um por sua vez indo embora. Fora os amigos também, são irmãos.
Quanto amigo morreu, quantos irmãos. O tempo é complicado, o tempo é ruim, é
maldoso. A gente tem momentos de prazer, fantásticos, mas o fim é sempre o
mesmo. A gente vive um pouco a vida dos que estão mais próximos, a gente sente
como eles. Não tem saída.
MB: E compartilha o
sofrimento e a alegria.
ON: É lógico. Tem que
viver, como eu disse mulher do lado e seja o que Deus quiser.
MB: E a palavra
“desumano”. O que lhe parece mais desumano? Se você tivesse de pensar em um
horror absoluto, o que seria?
ON: É o que dizem, o
horror está por aí. O horror já existe, é só a gente procurar saber, se
informar, que a gente se assusta. O horror é muito pior do que a gente pensa,
tem gente que não tem comida, não tem o que comer, é o povo aí do interior do
Brasil, em certas áreas, completamente sem apoio.
Hoje eu dou muita importância aos militares, eles que no fim resolvem as coisas, ficam todos do nosso lado, do lado do bem. Eles têm o Brasil dentro do peito. Foram criados para isso.
Hoje eu dou muita importância aos militares, eles que no fim resolvem as coisas, ficam todos do nosso lado, do lado do bem. Eles têm o Brasil dentro do peito. Foram criados para isso.
MB: Para defender o
povo. E o país.
ON: A orientação, às
vezes, é que não é boa.
Eu já fui chamado
para receber uma medalha dos bombeiros. Eu disse 'dos bombeiros... o que eu
posso merecer dos bombeiros?', mas fui. Era um campo, feito um campo de
futebol, estava cheio de bombeiros fazendo cantos e faixas e tudo. O time
cantou tanto! Um espanto meu, fiquei emocionado, são importantes.
MB: Você é patriota?
ON: Sou, lógico. Nasci
aqui. É lógico que a gente é solidário com todos os homens, mas quando a briga
cresce cada um tem que cuidar de si em primeiro lugar. Pensando sempre em estar
com os que pensam igual, que querem mudar as coisas, agora a América Latina,
não tem discussão, é lutar contra o império norte-americano.
MB: E falando em
América Latina, o que você acha dessa união? Você disse há pouco que o mais
importante para conseguir uma evolução e um progresso dentro da América Latina é a união.
ON: O Brasil é
importante, é o maior, não deve falhar.
MB: E para concluir no seu universo íntimo. Se você pensasse
na sua vida toda pregressa, qual foi sua obra mais importante?
ON: A mais importante
foi entrar para o Partido.
Foi uma lição de
civismo, de patriotismo, de pensar bem. Fazer uma escolha um pouco diferente,
achando que ela não era responsável, em parte, pelo andamento da liberdade, dos
Direitos Humanos.
MB: O que foi mais
importante na sua vida?
ON: Talvez o meu avô,
morrendo pobre, tendo sido ministro tantos anos, com a casa hipotecada, isso
foi importante.
MB: Digno.
ON: Digno, lógico.
MB: Digno como você.
ON: Eu procuro ter
minha conduta bem clara. Respeitar tudo que eu penso que é básico para o ser
humano. Dignidade, posição correta, de bom senso, de solidariedade
principalmente.
MB: E como você
gostaria de ser lembrado, Oscar?
ON: Ninguém é lembrado,
isso é fantasia. Se examinar o universo, tudo no mundo é fantasia. Todos nós
viemos, contamos a nossa historinha e vamos embora. A minha não tem importância
como a maioria, mas também não me deixa nenhuma vergonha.
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