Antes de começar a descrição da ODS (Operação Defensive Shield) nos Territórios palestinos ocupados, dei-me ao trabalho de reler o relatório transmitido ao então Secretário Geral da Organização das Nações Unidas Kofi Annan e apresentado ao Conselho de Segurança desta no dia 19 de abril de 2002 sobre a Intifada al-Aqsa. Que ficou na história como a Segunda Intifada.
Encontrei sete vezes as palavras "terror" "terrorista" "terrorismo" - apenas no tópico "Crescimento da violência".
Quase uma vez por parágrafo.
E o redator onusiano só recorreu a esta condenação semântica repetitiva para descrever os atos de resistência palestina à ocupação civil e militar israelense.
Os sequestros e assassinatos dos líderes palestinos, programados e levados a cabo pela IDF, assim como os ataques terrestres e aéreos das Forças Armadas israelenses, que destruíram vidas e propriedades, são sistematicamente descritos como operações militares.
Quase uma vez por parágrafo.
E o redator onusiano só recorreu a esta condenação semântica repetitiva para descrever os atos de resistência palestina à ocupação civil e militar israelense.
Os sequestros e assassinatos dos líderes palestinos, programados e levados a cabo pela IDF, assim como os ataques terrestres e aéreos das Forças Armadas israelenses, que destruíram vidas e propriedades, são sistematicamente descritos como operações militares.
O relatório aborda a ODS (Operação Defensive Shield) quase por alto. Embora esta tenha sido a maior operação militar empreendida por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967.
Em 24 horas, a IDF reuniu cerca de trinta mil reservistas.
Convocação militar só comparável à da invasão do Líbano em 1982.
O general-primeiro ministro Ariel Sharon estabeleceu como objetivo "penetrar em cidades e cidadezinhas que viraram abrigos de terroristas; apreender os terroristas, quem os despacha, quem os apoia e quem os financia; confiscar armas destinadas a serem usadas contra cidadãos israelenses; expor e destruir locais terroristas e explosivos, laboratórios, fábricas de armamentos e instalações secretas. As ordens são claras: visar e paralisar quem estiver armado, quem tentar opor-se e resistir às nossas tropas e pô-las em perigo - e evitar ferir a população civil."
O primeiro alvo desta operação foi Yasser Arafat por quem o primeiro ministro israelense tinha ódio mortal. Entretanto, só ele não bastava.
Em 24 horas, a IDF reuniu cerca de trinta mil reservistas.
Convocação militar só comparável à da invasão do Líbano em 1982.
O general-primeiro ministro Ariel Sharon estabeleceu como objetivo "penetrar em cidades e cidadezinhas que viraram abrigos de terroristas; apreender os terroristas, quem os despacha, quem os apoia e quem os financia; confiscar armas destinadas a serem usadas contra cidadãos israelenses; expor e destruir locais terroristas e explosivos, laboratórios, fábricas de armamentos e instalações secretas. As ordens são claras: visar e paralisar quem estiver armado, quem tentar opor-se e resistir às nossas tropas e pô-las em perigo - e evitar ferir a população civil."
O programa anunciado era vasto e impreciso. Deixava as portas abertas a qualquer ato de terrorismo de Estado, apriorísticamente descrito como defensivo. E de segurança. Esta, Israel determinou desde sua criação que, custe o que custar, lhe é exclusivamente devida. A ODS começou no dia 29 com a invasão de Ramallah.
Os soldados da IDF ocuparam e saquearam prédios administrativos, atacaram e bloquearam Yasser Arafat na Mukata'a e o deixaram incomunicável. Elle e todas as autoridades palestinas.
Ariel Sharon anunciou em alto e bom som que doravante considerava o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat um "inimigo" que tinha de ser "isolado".
Para acalmar as murchas críticas ocidentais, seu ministro da defesa Binyamin Ben Eliezer acrescentou um parágrafo ao rompante do chefe exaltado: "Nenhuma decisão de reocupar os territórios palestinos foi tomada e Israel não tenciona atacar [fisicamente] Arafat".
Enquanto o ministro distraía a imprensa internacional em Tel Aviv, a IDF chegava em Ramallah, se instalava na rua de Yasser Arafat e vinte tanques cercavam a Mukata'a.
As Nações Unidas se deram conta do disparate e no dia 30 de março seu Conselho de Segurança aprovou outra Resolução contra Israel. Desta vez exigindo que se retirasse de Ramallah.
As Nações Unidas se deram conta do disparate e no dia 30 de março seu Conselho de Segurança aprovou outra Resolução contra Israel. Desta vez exigindo que se retirasse de Ramallah.
Na época, era quase impossível que as Nações Unidas ficassem indiferentes ao levante popular nos países árabes - as ruas ferviam de protestos irritados contra o terrorismo de Estado.
Passeatas populares eclodiram em todas as capitais: cerca da 45.000 no Egito, 15.000 no Líbano, 10.000 na Síria e milhares no Bahrein, Oman e Koweit. Na Jordânia, onde as passeatas eram proibidas, dois mil palestinos manifestaram no campo de refugiados de Baqa'a.
Enquanto os vizinhos se inflamavam, na Cisjordânia, em Ramallah, no último dia do mês, a guarda pessoal de Arafat recebia à bala os soldados da IDF que tentavam penetrar na Mukata'a com o propósito de "neutralizar" (palavra usada na ordem) o seu presidente.
Enquanto os vizinhos se inflamavam, na Cisjordânia, em Ramallah, no último dia do mês, a guarda pessoal de Arafat recebia à bala os soldados da IDF que tentavam penetrar na Mukata'a com o propósito de "neutralizar" (palavra usada na ordem) o seu presidente.
O plano de Sharon foi por água abaixo. Não por falta de meios ou por intervenção da ONU ou da OTAM quanto à invasão de outro país desarmado. E sim porque do lado de fora da Mukata'a, dezenas de pacifistas ocidentais formaram escudo humano em volta do prédio para proteger a vida de Yasser Arafat.
O presidente da Autoridade Palestina ficou com esta dívida impagável. Naquele dia, deveu a vida aos 500 estrangeiros - ativistas de ONGs de Direitos Humanos, representantes de governos ocidentais e da ONU - presentes para evitar-lhe execução sumária "acidental".
O presidente da Autoridade Palestina ficou com esta dívida impagável. Naquele dia, deveu a vida aos 500 estrangeiros - ativistas de ONGs de Direitos Humanos, representantes de governos ocidentais e da ONU - presentes para evitar-lhe execução sumária "acidental".
Os ativistas estavam lá por convicção do que é certo e errado.
Os representantes oficiais, porque sabiam que se Sharon liquidasse Arafat, naquela hora, daquele jeito, os palestinos, não apenas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza como também as centenas de milhares de refugiados espalhados pelso países árabes, ficariam incontroláveis.
Talvez até estivessem lá preservando o que vinham preservando desde 1967. A segurança de Israel. Os palestinos que se danassem.
O primeiro alvo desta operação foi Yasser Arafat por quem o primeiro ministro israelense tinha ódio mortal. Entretanto, só ele não bastava.
Sharon queria neutralizar o complexo administrativo e sede do governo palestino (à direita).
Para isto, após investir as ruas da cidade semeando desastre, cercou a Mukata'a de tanques e de soldados bem protegidos dos ares.
O líder palestino encontrou-se em prisão domiciliar, incomunicável. Tentou falar com o mundo através de meios precários improvisados e conseguiu furar a censura algumas vezes.
Quanto a Ramallah, foi brutalmente ocupada. Seus habitantes sofreram todo tipo de tortura psico-emocional: toque de recolher, corte de eletricidade, escolas e universidade fechadas, distúrbios no comércio, vandalismo de prédios administrativos e equipamentos públicos, ocupação das estações de televisão e rádio, deterioração das condições econômicas e sociais, e como se não bastasse, a tortura familiar dissimulada sofrida por pais e filhos na própia casa. Esta tortura coletiva, corriqueira até hoje na Cisjordânia, é a dos domicílios "requisiocinados" para os soldados ocupantes se instalarem em detrimento da família. Sem consentimento dos donos das casas e com a família fechada em um cômodo durante toda a "estadia" dos soldados, enquanto estes desfrutam de tudo o que tem na casa - de televisão à comida. Ocupações que sem terminam com o vandalismo "normal" que os reservistas israelenses narram Breaking the Silence.
Para isto, após investir as ruas da cidade semeando desastre, cercou a Mukata'a de tanques e de soldados bem protegidos dos ares.
O líder palestino encontrou-se em prisão domiciliar, incomunicável. Tentou falar com o mundo através de meios precários improvisados e conseguiu furar a censura algumas vezes.
Quanto a Ramallah, foi brutalmente ocupada. Seus habitantes sofreram todo tipo de tortura psico-emocional: toque de recolher, corte de eletricidade, escolas e universidade fechadas, distúrbios no comércio, vandalismo de prédios administrativos e equipamentos públicos, ocupação das estações de televisão e rádio, deterioração das condições econômicas e sociais, e como se não bastasse, a tortura familiar dissimulada sofrida por pais e filhos na própia casa. Esta tortura coletiva, corriqueira até hoje na Cisjordânia, é a dos domicílios "requisiocinados" para os soldados ocupantes se instalarem em detrimento da família. Sem consentimento dos donos das casas e com a família fechada em um cômodo durante toda a "estadia" dos soldados, enquanto estes desfrutam de tudo o que tem na casa - de televisão à comida. Ocupações que sem terminam com o vandalismo "normal" que os reservistas israelenses narram Breaking the Silence.
Enquanto isto as detenções aleatórias proliferavam e o necrotério lotava de cadáveres.
O sítio da cidade e da Mukata'a só seriam afrouxados no dia 1° de maio. As ruas estariam cobertas de cartuchos de bala. O cerco e os ataques deixaram a sede do governo e a cidade inteira exaurida de víveres, de água, prédios destruídos, e os habitantes noite e dia em sobressalto, vulneráveis à arbitrariedade militar da IDF e seus soldados.
As condições de vida, segundo os que lá se encontravam durante o sítio, estavam insuportáveis e quem conseguia escapar, escapava.
Os ativistas estrangeiros e os jornalistas que "acamparam" nas paragens foram tratados como criminosos, com insultos e cacetadas.
Dentro da Mukata'a devastada, Arafat estava um fiapo. Preocupado com seus concidadãos e sob pressão internacional e de toda parte. Como se fosse o vilão da farsa. Imaginando o pior nas outras cidades e temendo pela vida de seus compatriotas, o líder palestino acabou concordando em entregar a Sharon o que ele reivindicava para parar o massacre. Contanto que o general-primeiro ministro deixasse seus compatriotas respirarem.
Sharon queria os seis resistentes suspeitos do assassinato do ministro de turismo de Israel Rehavam Zeevi, em outubro do ano anterior. Os executores da operação tinham sido julgados e condenados por um tribunal palestino e já estavam cumprindo pena em prisão nacional. Mas isto não bastava à sede de vingança do general - Sharon os queria nas celas de seus presídios e no regime de prisão "especial" que dedicava aos resistentes palestinos.
Com a entrega dos prisioneiros, a IDF afrouxaria o cerco de Ramallah.
Reservista da IDF - sargento da Brigada Nahal, Breaking the Silence sobre as detenções em Ramallah.
"All in all, arrests, I don't . . . I think we arrested so many people. You don't understand who you're arresting. You've got some ID number and you arrest him. Pick-up, that is, is what you're doing. Sometimes they would come, say: "OK, I'm coming", you load him on an armored personnel carrier, leave him at a Shin Bet facility, just leave him and drive back. We did this service for the Shin Bet. This was something. From Offer camp. Oh so many arrests. We arrested all of Ramallah, every single person there. Because it was a period where the situation was such, it was four months that we had the post and also Offer camp, like we split up. And all the time we went in and out, in and out, in and out."
Uma ativista do International Solidarity Movement (ISM), a extraordinária irlandesa de 23 anos, Caoimhe Butterly - que antes já trabalhara com pacientes de AIDS no Zimbawe, com deficientes físicos no Canadá, com desabrigados em Nova Iorque - ficou presa na Mukata'a e de lá declarou aos jornalistas: "I understand the need to balance my own precious life with the need to stand up for those who have no voice. My heart is in the refugee camps," descrevendo em seguida a "daily degradation and humiliation' of Palestinian families living under Israeli military occupation".
Ela sabia o que dizia.
No dia 1° de abril, os alvos do assalto da IDF foram Tulkarm (à direita, antes do ataque, à esquerda, depois) e Qalqilya, onde as tropas israelenses dominaram os poucos resistentes sem muita dificuldade.
Ocuparam estas cidades com a violência usada em Ramallah, enquanto outras tropas seguiam adiante confiantes na vitória fácil que sua potência bélica assegurava.
O próximo alvo despertaria até o Papa.
Era Belém, e a Basílica da Natividade.
Reservista da IDF - sargento da Brigada Nahal, Breaking the Silence sobre as detenções em Ramallah.
"All in all, arrests, I don't . . . I think we arrested so many people. You don't understand who you're arresting. You've got some ID number and you arrest him. Pick-up, that is, is what you're doing. Sometimes they would come, say: "OK, I'm coming", you load him on an armored personnel carrier, leave him at a Shin Bet facility, just leave him and drive back. We did this service for the Shin Bet. This was something. From Offer camp. Oh so many arrests. We arrested all of Ramallah, every single person there. Because it was a period where the situation was such, it was four months that we had the post and also Offer camp, like we split up. And all the time we went in and out, in and out, in and out."
Abusos de palestinos por soldados da IDF |
Elmer: David Ben-Gurion is quoted having said: "If I were an Arab leader, I would never sign an agreement with Israel. It is normal; we have taken their country. It is true, God promised it to us, but how could that interest them? There has been anti-Semitism, the Nazis, Hitler, Auschwitz, but was that their fault? They see only one thing: we have come and we have stolen their country. Why would they accept that?" What is your comment on this?
Avnery: This is complete nonsense, and David Ben-Gurion, with all due respect, was an idiot as far as Arabs themselves are concerned. He did not understand the Arabs, he hated the Arabs. There are hundreds - thousands - of documents to prove this. As far as the statement itself, Palestinians want a state of their own. They want to live in freedom. They want to get rid of the terrible misery in which they are living. They are ready after 50 years to accept a state of their own in 22% of what used to be the country of Palestine. I think it is the height of stupidity on our part if we don't grasp this opportunity.
Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1
PS atualidade
Neste sábado, torpedos israelenses lançados de tanques em uma área habitacional de Gaza, mataram pelo menos cinco palestinos, dentre eles um rapaz de 18 anos. Mais de trinta feridos foram socorridos. Civis, inclusive crianças.
Segundo Binyamin Netanyahu, o bombardeio foi em retaliação ao ataque de uma patrulha da IDF ao longo da cerca em que Israel enclausura a Faixa de Gaza.
Neste ataque à patrulha que vigia o maior presídio do mundo, quatro soldados israelenses foram feridos.
A operação da resistência palestina foi reivindicada pelo braço militar da PFLP (Frente de Libertação da Palestina).
A Faixa de Gaza está sitiada desde 2007, quando o Hamas ganhou as eleições legislativas.
Desde então, os 1.6 milhões de gazauís têm sofrido um bloqueio draconiano, até de gêneros de primeira necessidade, foram bombardeados sem parar em janeiro de 2009, e vêm sendo bombardeados de maneira intermitente. Às vezes até diariamente. Dezenas têm sido mortos no anonimato e centenas de feridos têm sido tratados na medida do possível.Na indiferença geral. Inclusive das Nações Unidas.
En contrapartida. Os foguetes lançados da Faixa no território israelense nunca passam despercebidos.
É aquela velha estória dos dois pesos e duas medidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário