Colegas da TV Al-Jazeera, sem dúvida alguma a melhor televisão informativa do planeta, passaram nove meses investigando a morte de Yasser Arafat junto a médicos suiços em Lausanne e acabaram de soltar uma bomba. É por isto que estou quebrando meu jejum semanal e publicando outro artigo antes do domingueiro tradiconal. Desde a morte suspeita de Yasser Arafat em 2004, muitos jornalistas e todos os palestinos questionam como um homem ativo como o líder palestino começou a definhar sem razão aparente até sucumbir rapidmente a uma doença indefinida.
Suspeitava-se de um assassinato perfeito, indetectável, sobretudo porque os médicos franceses que o trataram no final não divulgaram a causa e porque, segundo o costume muçulmano, nenhuma autópsia foi feita.
Ficou esta pulga atrás da orelha de muitos jornalistas sem meios de ir além da suspeita.
Mas para o bem do público a Al-Jazeera tem meios e tem hoje a melhor equipe de tele-jornalismo internacional do planeta, rivalizando, e em algumas áreas até ultrapassando, a BBC inglesa.
Os meios financeiros são incomparáveis e a liberdade de investigação é maior do que de qualquer outro canal. Com exceção de alguns pouquíssimos países caros ao Qatar...
Vamos aos fatos.
Primeiro o general Ariel Sharon, então primeiro ministro de Israel, sediou Yasser Arafat durante semanas em sua residência em Ramallah. Enquanto isto o líder palestino adoecia e definhava até ser transportado a um hospital militar na França para ser examinado. A suspeita de envenenamento foi imediata, pois adoeceu subitamente no dia 12 de outubro de 2004 de uma doença fatal indetectável - mas na época os testes não revelaram nenhum traço suspeito, ou pelo menos, não reveleram nada publicamente.
Pois bem, após uma investigação de nove meses e exame de roupas e objetos que Arafat usou nos dias que antecederam sua morte - roupa, escova de dente e até seu icônico kefiyeh que não tirava da cabeça - revelaram uma quantidade anormal de polonium. Um elemento radioativo raro ao qual poucos países têm acesso. Apenas os do restrito clube atômico.
Os cientistas suiços examinaram sangue, suor, saliva e urina e encontraram alto dose radioativa.
O Dr. François Bochud, diretor do Instituto de Radiofísica de Lausanne declarou com firmeza "Eu posso confirmar que medimos uma quantidade elevada inexplicável de polonium-210 nos pertences do Sr. Arafat que continham manchas de fluidos biológicos."
A análise dos pertences de Yasser Arafat foi feita no Centro Hospitalar Universitário de Lausanne, no Centro de Medicina Legal que é considerado um dos melhores laboratórios criminologistas do mundo - usado inclusive em investigações da ONU e de mortes de personalidades como o da princesa Diana da Inglaterra.
O polonium foi descoberto m 1898 por Marie Curie, cuja filha Irene foi a primeira vítima deste elemento altamente radioativo usado em várias atividades nucleares, dentre elas foguetes espaciais.
A vítima contemporânea mais famosa é o espião russo dissidente Alexander Litvinenko que morreu em Londres em 2006 definhando desta "doença" incurável. A investigação britância que sucedeu sua morte provou que foi envenenado com polonium posto no chá em um restaurante japonês.
Litvinenko sofreu dos mesmos sintomas que afligiram Yasser Arafat quando adoeceu: diarreia severa, vômito e perda de peso.
Os pertences de Arafat revelaram doses quatro a dez vezes mais elevadas do que as usadas nos testes feitos em cobaias animais. O polonium está na atmosfera, mas em nível quase indetectável. A escova de dentes de Arafat acusou 57mbq, a urina 180mbq (a de outra pessoa continha 6.7) o que prova que a origem do elemento não era natural.
Faz anos que Suha vem investigando a morte do marido. Já pedira exame mais detalhado das amostras recolhidas no hospital Percy na França e recebera a resposta que estas haviam sido destruídas, o que a deixara desconfiada. "Eu não fiquei satisfeita com a resposta. Normalmente, guardariam traços da passagem de uma pessoa importante como Yasser - talvez eles não quisessem e não queiram ser envolvidos nisso."
Vários médicos estrangeiros que trataram de Arafat lhe responderam que não tinham permissão de comentar o caso porque era considerado "segredo militar". Inclusive os médicos tunisianos e egípcios que o examinaram em Tunis e no Cairo recusaram entrar em detalhes com os jornalistas e com Suha.
Qualquer que seja o fim desta história, Suha Arafat e a filha Zahwa de 17 anos esperam encontrar a explicação que procuram sobre a razão da morte do líder palestino que para elas é também o ente querido brutalmente perdido.
É por isto que Suha solicitou e conseguiu o apoio da Autoridade Palestina para exumar o corpo do marido enterrado na Mubaqaa em Ramallah e está pedindo apoio internacional para que Israel e os Estados Unidos não impeçam o trabalho dos cientistas suiços e outras sumidades internacionais especializadas neste campo de análise.
Saeb Erekat, o chefe de negociações da Palestina, além de confirmar a autorização de exumação dada por Abu Mazen (conhecido internacionalmente como Mahmoud Abbas) solicitou à ONU a criação de um comitê internacional para investigar a morte de Yasser Arafat. Como o que investigou o assassinato do primeiro ministro libanês Rafik Hariri em 2005.
"Vamos acionar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e esperamos que todos cooperem conosco, pois buscamos a verdade, nada mais do que a verdade", disse Erekat.
Caso os testes mostrem altas doses de polonium nos ossos de Arafat, a conclusão de assassinato por envenenamento será incontestável.
Restará determinar oficialmente quem passou da vontade de vê-lo morto ao ato de envenená-lo no anonimato.
Documentário Al-Jazeera: What killed Yasser Arafat?
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