domingo, 22 de julho de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XV (11/12 2000)



Enquanto o irlando-estadunidense Robert Mitchell investigava as causas e consequências da Intifada, no dia 1° de novembro de 2000 Yasser Arafat encontrou Shimon Peres para um diálogo construtivo. Acabaram assinando um cessar-fogo, curtíssimo.
O Jihad islâmico explodiu um carro em Jerusalém ocidental matando dois israelenses e a trégua terminou antes de começar.
Os helicópteros da IDF retaliaram com bombardeios aleatórios atingindo um caminhão lotado e procedeu a uma série de vandalismos domiciliares com detenções "em busca dos culpados".

Kofi Annan estimou a 230 o número de mortos até esta data. Incluindo os cidadãos israelenses árabes assassinados. Estes, mesmo sendo cidadãos de segunda classe, tiveram direito à comissão de inquérito que era negada aos palestinos dos territórios ocupados. A comissão em questão foi anunciada no dia 06 de novembro para investigar a morte dos 12 civis árabes que a IDF matara e talvez para contrabalançar a legitimidade, no dia 13 Barak reforçou o sítio das cidades devolvidas à Autoridade Palestina nos primórdios dos Acordos de Oslo.
Privou-as de víveres, além de liberdade de circulação, e provou uma vez mais quão frágil era a autonomia que os tais Acordos de paz haviam proporcionado aos palestinos.
E para atacar em todas as frentes, no dia 16, Barak estrangulou a AP economicamente. Congelou a transferência dos fundos que lhe eram devidos - direitos de alfândega e impostos sobre os produtos destinados a Cisjordânia e Faixa de Gaza que transitavam por Israel obrigatoriamente, em respeito aos ditos Acordos.
A IDF foi endurecendo cada vez mais os ataques, os mortos e feridos graves civis aumentaram, e ciente da disparidade de meios de combate - pedras contra tanques e helicópteros de combate - Marwan Barghuti o líder do Tanzim "Organização" - ala militar do Fatah que até então apoiara Yasser Arafat no processo de paz - passou a liderar a resistência armada da Intifada.

A proeminência de Marwan Barghuti na Palestina lhe vale uma digressãozinha. Ele não é da geração dos dois líderes mais antigos - Sheik Yassine do Hamas e Yasser Arafat do Fatah - que nasceram antes da ocupação e conheceram sua terra livre, desapropriada e em seguida a Naqba. Barghuti faz parte da geração que nasceu e cresceu sob a ocupação. Entrou na resistência por rejeição à subserviência à qual o ocupante o submetia e por desejo de ter uma pátria livre e soberana.
Marwan nasceu em 1959 em Kobar, perto de Ramallah e ingressou no Fatah com 15 anos de idade.
Foi preso pela primeira vez com 17 anos em uma passeata pacífica.
Conheceu as masmorras israelenses e quando foi solto entrou na Universidade Birzeit, em Ramallah.
É formado em História, mestre em Ciências Políticas e doutor em Relações Internacionais.
Emergiu na liderança do Fatah com 28 anos durante a primeira Intifada em 1987.
Foi um dos primeiros a serem presos devido às suas qualidades de orador e de liderança. Foi justamente por causa deste potencial socio-intelectual que os israelenses preferiram algum tempo mais tarde deportá-lo para a Jordânia, esperando que jamais voltasse.
Ficou exilado até 1994 quando os Acordos de Oslo o trouxeram de volta a Ramallah. Foi quando começou a carreira política meteórica.
Em 1996 foi eleito com facilidade para o Conselho Legislativo recém-constituído.
Ganhou destaque com a campanha contra o abuso dos Direitos Humanos na aplicação dos Acordos de Oslo, com a denúncia de corrupção de próximos de Arafat e sobretudo por apoiar o líder palestino na defesa do processo de paz ao qual dedicou-se inclusive tentando acalmar companheiros quando as coisas apertavam.
Realce e preparo o levaram à chefia do Fatah na Cisjordânia e lhe valeram o respeito dos outros grupos de resistência, inclusive do Hamas.
Marwan Barghuti não tinha nenhuma vocação para a guerrilha. Seu alto nível acadêmico e seu humanismo o destinavam a carreiras ligadas ao intelecto.
Foi o ceticismo quanto à intenção de Israel de devolver território e a impotência das palavras que o levaram de volta à guerrilha urbana. E à arquitetação de atentados, após a excursão de Ariel Sharon na esplanada da mesquida Al-Aqsa.
Hoje encontra-se atrás das grades (veremos mais tarde como e quando chegou lá) e é chamado de "Nelson Mandela" por estrangeiros e palestinos devido à sabedoria que adquiriu nos últimos anos, forjadas na dura realidade do cárcere.
E é o expoente político que faz unanimidade entre todas as facções palestinas.
É o herdeiro natural do capital de popularidade de Yasser Arafat sem o ônus que puxava o líder da OLP para baixo.
Arafat foi para Barghuti o que Mentor foi para Ulisses na Odisséia de Homero. E Barghuti na Segunda Intifada foi seu discreto braço armado.
Em recentes documentos divulgados pelo Shin Bet (serviço secreto isralense interno) Barghuti confessa ter usado dinheiro do Fatah para as operações militares, mas nega que Arafat tenha dado ordem direta para os atentados. A iniciativa era toda dos membros dos grupos de resistência que agiam conforme sentiam necessidade de sua parte, afirma.
 
Como a explosão no dia 20 de novembro de um ônibus, na qual morreram dois colonos no sul da Faixa de Gaza.
Operação militar do Tanzim ou do Hamas, para a IDF não importava. A retaliação foi como sempre, desmesurada - navios de guerra e helicópteros de combate bombardearam indiscriminadamente a Faixa em e entre os quatro pontos cardeais. Homens, mulheres e crianças tombavam nas ruas ou eram explodidas dentro de casa. Não é exagero nenhum voltar a comparar com Apocalipse Now - sem a música de Wagner e com um militar "pragmático" no comando do país e não um batalhão de helicópteros jogando Agente Laranja fabricado pela predadora mundial Monsanto.
A brutalidade foi tanta e tão próxima da fronteira que até Hosni Mubarak chamou seu embaixador em Tel Aviv de volta para o Egito em protesto à violência "exagerada".
O caos aumentava e os israelenses começavam a preocupar-se com as consequências internacionais.
Cientes da incapacidade de Ehud Barak de controlar o problema, decidiram dissolver o Knesset e antecipar as eleições.
Dois meses após o começo da Intifada, no terreno, de uma cidadezinha ou de uma cidade a outra da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, os dramas individuais e coletivos se repetiam e os meios usados pela IDF eram cada vez mais sofisticados.
A imprensa israelense não via nada e o Jerusalem Post publicava manchetes xingando os palestinos de todos os nomes imagináveis - pagãos, terroristas, serpentes, além do "animais" de sempre que saía e sai a boca de muitos israelenses.
As agências internacionais de notícia não deixavam por menos, dizendo que as pedras haviam parado as negociações, que os atentados militares palestinos eram chacinas e fornecendo justificações incríveis para os ataques da IDF.
Aí chegou o mês de dezembro com dois acontecimentos importantes no plano político.
Em Israel Ehud Barak anunciou sua demissão e ficou definido que as eleições aconteceriam no dia 06 de fevereiro de 2001. Boatos corriam sobre a perspectiva de um governo de união nacional e até sobre a oportunidade de revogar a lei de eleição direta para primeiro-ministro...
Enquanto isto, além do Mar Mediterrâneo, do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, a ONU aprovava seis Resoluções condenando Israel.
Que "para variar" só ficaram na palavra.
Arafat pediu ajuda - soldados da Força de Paz para garantir a segurança de seu povo e para proteger suas fronteiras - mas a ONU disse estar de mãos amarradas pelos Acordos assinados (como se Israel os respeitasse).
No dia 04 uma ONG internacional publicou um relatório indicando que desde os Acordos de Oslo em 1993, o número de alojamentos nas invasões judias na Cisjordânia aumentara 50%. A informação foi pública, mas o barulho das metralhadoras e das bombas abafaram a má-notícia sobre a proliferação dos assentamentos-colônias, que segundo os Acordos de Oslo deveriam ter sido extintas. Poucos deram ouvidos a estes dados que também explicavam o porquê da Intifada.
No dia 06 o Banco Mundial ofereceu ajuda financeira de emergência à Autoridade Palestina para que Arafat pudesse lutar contra a crise e os estragos, mas o dinheiro tinha de seguir a via israelense estipulada nos Acordos de Oslo, portanto...
Shimon Peres, um dos artífices deste negócio financeiramente vantajoso, movia as peças de seu xadrez político em Tel Aviv para voltar ao poder, mas o partido Meretz, de esquerda, bloqueou sua passagem.
Do outro lado da Linha Verde, Arafat, cada vez mais desesperado com a hecatombe do seu lado, apelou para o presidente da França e Jacques Chirac cutucou Londres para que propusessem juntos ao Comité de Segurança da ONU o envio de observadores militares à Palestina.
Esperavam que desta vez Bill Clinton pensasse bem, agisse como presidente da maior potência do mundo (então) em vez de fantoche, e não vetasse a iniciativa europeia de averiguar a verdade com imparcialidade.
Esperaram em vão até o fim de seu mandato. 
No dia 18, por oposição de Israel os Estados Unidos submergiram todas as medidas de ajuda no terreno, provocando a ira dos europeus com sua política de dois pesos e duas medidas cada vez mais prejudicial à paz e pelo menos a uma trégua que permitisse o diálogo.
Apesar de negar ajuda de uma Força da ONU para solucionar o problema, Bill Clinton continuou a divagar. Obstinado em deixar sua marca, propôs um novo planode paz  sem se preocupar com os motivos do conflito que pretendia solucionar no papel, mesmo sabendo quanto os documentos eram ineficazes e que só ele poderia conter o país que apadrinhava.
Como era de se esperar, esta última reunião de cúpula marcada para o dia 28 foi cancelada porque Arafat e Barak discordavam, por motivos diversos, do plano proposto pelos EUA.
O israelense recusava a soberania palestina na esplanada da mesquita al-Aqsa e o palestino não queria renunciar ao retorno dos refugiados.
Por outro lado, Barak continuava sua caça às bruxas.
No último dia do ano soldados da IDF executaram o médico Sabet Sabet, membro eminente do Fatah, amigo de Arafat e diretor geral do ministério palestino da Saúde. Sabet foi morto em Tulkarm, no norte da Cisjordânia, quando caminhava perto de casa.     O baque foi forte para Arafat, por causa da ousadia e do despropósito da execução sumária de um alto funcionário, embora no dia 15 os israelenses tivessem assassinado em um checkpoint Hasni Abu Bakr, membro eminente do Hamas, em uma sucessão de assassinatos de ativistas palestinos.     Até balearem Sabet Sabet, nenhuma autoridade pública e próxima de Arafat fora visada.     A revolta do líder palestino seria maior ainda quando se desse conta que este era apenas a primeira de uma série de execuções sumárias de dirigentes da OLP.     Campanha que provocaria também derramamento de sangue israelense nas respostas militares dos movimentos de resistência brutalmente amputados.

"Yesterday, the City of Nablus began the rehabilitation and renovation of the demolished parts of 'Josephe's Tomb'... It is important to note that heavy damage was caused to the tomb and to a large number of nearby structures during these disturbances, in the wake of the shootings by the occupation forces which are concentrated on Mounts Grizim and Eival, and because of their use of heavy machine guns."
Publicado no jornal Al Ayyam em outubro de 2000, após a destruição do Túmulo do profeta judeu Joseph por uma multidão palestina.   

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 2
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/


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