domingo, 10 de junho de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XII (01/07 2000)

O novo milênio começou em Israel com acusações de corrupção contra o presidente Ezer Weizman que teria recebido presentes no valor de centenas de milhares de dólares entre 1988 e 1993 sem declarar.
Do outro lado da Linha Verde em que as preocupações eram terra a terra, Saeb Erekat, porta-voz da Autoridade Palestina, se mostrava otimista quanto ao implemento da negociação com Ehud Barak para recuperarem a posse da terra que a ONU lhes outorgara.
Nesta linha de ação, Yasser Arafat foi a Washington encontrar Bill Clinton.
Durante o encontro do dia 20 de janeiro o presidente dos Estados Unidos tentou convencer o líder palestino a não se fixar tanto nos noventa por cento que não obtivera e sim nos dez por cento com os quais Barak concordara (só faltando chamá-lo de mal-agradecido pelas migalhas que lhe ofereciam "de mão beijada") e fez promessas para enrolá-lo.
O primeiro ministro de Israel se encontrava em apuros e uma mãozinha gringa a mais não cairia mal. O Partido Trabalhista estava sendo multado em U$3.2 milhões por violação financeira durante a campanha e a Promotoria estava abrindo investigação criminosa para esclarecer o assunto. Barak argumentou que a lei de financiamento de partido não era clara, mas a multa foi mantida e a sua imagem sofreu um baque que não era fatal, mas que foi bem utilisada por seus adversários políticos nacionais.
Fevereiro chegou e apesar da montagem mediática do ano anterior, nada fora concretizado e as assinatura do Memorandum de Charm-el-Cheikh pareciam ter sido apagadas.
O único passo adiante foi dado em meados de março, quando a IDF retirou-se de 6,5% da Cisjordânia e a Autoridade Palestina passou a controlar, dentro dos limites de autoridade mencionados acima, 40% do seu território.
Nesta leva, o Knesset aprovou uma lei de devolução de mais três cidades, dentre elas Abu Dis, colada em Jerusalém, que alguns boatos internacionais indicavam como possível sede de uma futura capital palestina, contra a opinião majoritária que insistia em Jerusalém Oriental.
No tocante às negociações fevereiro trouxe uma má notícia.
Durante as negociações bilaterais, os israelenses apresentaram aos palestinos um mapa da Cisjordânia como uma ilha seca cheia de oásis ocupados por israelenses civis e soldados.
A proposta foi rejeitada no ato.
Tayyeb Abdel Rahim, próximo de Abu Ammar (como Arafat era chamado pelos próximos), foi quem confirmou aos jornalistas a existência do mapa que Israel submetera propondo fronteiras mais do que tortas. Nestas, Israel anexaria mais terra dentro da Linha Verde, a oeste e a leste, com blocos reservados à ocupação de colônias judias.
Quando o mapa voltou a ser enrolado a luz dos três meses de diálogo estavam embaçadas.
Então no dia seguinte, dia 03, Arafat e Barak se encontraram pessoalmente para explicitar melhor suas expectativas.
Arafat expôs a situação "inaceitável de transformar o território de terras contínuas que lhes cabia conforme as Nações Unidas em uma colcha de retalhos cortada por civis e soldados estrangeiros que tiravam além de terra, liberdade."
Barak defendeu seu ponto de vista pragmático e os dois homens se separaram.
Uma semana depois a imprensa recebeu um comunicado do governo de Israel reconhecendo que a IDF usara de força ilegal contra os palestinos durante a Intifada.
Coisa que as ONGs de Direitos Humanos denunciaram ao longo da revolta e após a calmaria, sem parar.
O relatório israelense feito em 1997 abrangia os anos de 1988 a 92 e dizia que os agentes do Shin Bet (serviço secreto interno israelense) que interrogavam os suspeitos mentiram sistematicamente sobre suas práticas aos superiores e à Corte.
Durante esses anos, centenas de homens, mulheres e crianças (de até 12 anos) foram presos e interrogados sob tortura denunciada por ONGs de Direitos Humanos e as proporções eram tão grandes que não havia como desmentir o que era patente.
Como não dava para negar o óbvio, mais valia admiti-lo exonerando o Estado da culpa. Em vez de confessar os crimes e assumir as consequências previstas pela Convenção de Genebra, o governo de Israel desculpou o Shin Bet e o Poder Judiciário de Tel Aviv deixando toda a culpa em indivíduos que dizam desobedecer ordens.
A manobra era clara, mas Ehud Barak saiu de bonzinho e desviou a atenção dos assuntos que incomodavam.
Yasser Arafat entendeu a manigância e pediu para Dennis Ross, o enviado de Bill Clinton, pressionar Ehud Barak para que retomasse o processo de paz com seriedade.
Reclamou, mas não ficou sabendo qual recado Dennis Ross passou ao primeiro ministro israelense.
Além de distante das confidências trocadas em Tel Aviv, ele estava ocupado com a iminente visita do Papa à Palestina. Casado com uma católica, a viagem do Papa tinha um sabor especial para a família do líder palestino.
João Paulo II, então com 79 anos, chegou à Palestina no dia 21 de março, beijou a terra emocionado, peregrinou por Belém com orações nos lábios, benzeu cristãos e muçulmanos e sua visita encheu os palestinos de esperança que o mundo os visse e admitisse a legitimidade de sua demanda de recuperar terra e cidadania.
O sistema de segurança era o de eminentes chefes de Estado, visitou um campo de refugiados, celebrou missa para milhares de cristãos na Praça Manger em Belém, ajoelhou-se na gruta em que Jesus recebeu a visita dos Reis Magos e foi embora sem indispor-se com ninguém, mas sem tomar o partido que os cristãos palestinos esperavam que tomasse, "se não por convicção político-ideológica que fosse pelo menos por afinidade religiosa". Mas não.
A visita foi cooptada pelo serviço de comunicação israelense e no final a imprensa tinha no máximo duas ou três fotos de Arafat com João Paulo II e dezenas de sua chegada no aeroporto de Ben Gurion com Ehud Barak e vídeos à vontade sobre sua estada em Israel.
Quase nada de sua passagem pela Cisjordânia, onde se encontram as principais cidades cristãs (exceto a Galileia que Israel agregou durante a Naqba, com o lago de Genezareth e o rio Jordão onde um os israelenses comercializam batizados rentáveis longe da Cisjordânia onde Jesus foi batizado por João Batista) cuidadas com o maior carinho.
O Papa voltou para o Vaticano deixando os palestinos a ver navios e enquanto isto as negociações continuavam entre os dois adversários.

Durante e após o interregno papal os israelenses diziam para quem quisesse ouvir que os representantes das duas partes estavam em fase. Hassan Abdel Rahamn, o chefe da OLP em Washington, mais comedido, falava que era cedo demais para afirmar para onde caminhavam.
E a imprensa, tomando o partido da "simpatia" do representante israelense sem se preocupar com o porquê da sisudez do palestino, reclamava da sua má-vontade aparente.
No final do mês, centenas de palestinos participaram de passeatas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza em protesto ao confisco de terras e às invasões judias que se expandiam enquanto em Washington seus representantes eram apertados cada vez mais contra a parede para abdicar de direitos mínimos.
A IDF pegou pesado, os estilingues saíram dos bolsos para combater os tanques e as balas de borracha e no final do dia 30 os hospitais palestinos estavam lotados. Algumas pedras atingiram soldados em lugares que os capacetes e escudos não protegiam enquanto distribuiam cacetadas, e seus companheiros de armas descontaram nas barragens e nas famílias quando "inspecionavam" e ocupavam as casas.
Enfim, a história de sempre que os reservistas da IDF repetem sem parar, Breaking the Silence.
Em abril as negociações recomeçaram em um clima pesado.
Os estadunidenses que mediavam os encontros estavam inquietos com as notícias que chegavam do Oriente Médio e a situação estava tão tensa que os egípcios, que até então se conformavam à condição de mediadores calados, resolveram intervir pela primeira vez para tentar explicar o óbvio que nem os Estados Unidos nem Israel conseguiam entender "apesar da evidência indiscutível".
"Vocês não podem ter a expectativa de paz sem concordar com o Estado da Palestina e sem fazer um acordo sobre Jerusalém. Vocês não entendem a frustração que os palestinos sentem com a ocupação", disse o embaixador de Mubarak, Nabil Fahmy, a seu colega israelense em Washington.
O recado foi mandado para Tel Aviv, mas Barak e seus colaboradores continuaram a desenhar o mapa de um Estado Palestino retalhando o território reconhecido pelas Nações Unidas.
Sentindo que estava em um beco sem saída, Yasser Arafat pediu que os mediadores estadunidenses participassem das reuniões para entenderem o cerne da questão que o preocupava e Ehud Barak acabou concordando em fazer uma concessãozinha depois de voltar a encontrar Bill Clinton. Seu tom era condescendente, como se estivesse atendendo a um mero capricho "de um velho rabugento", como se ouvia em Tel Aviv. E a imprensa caiu como um patinho.
A partir deste dia convenceu a "grande mídia" que os palestinos estavam agindo como garotos mimados que nada, por mais valor que tivesse a "dádiva", satisfazia.
Poucos foram os jornalistas formadores de opinião que se preocuparam em analisar quais eram tais presentes na íntegra, quanto valor tinham e para quê serviam.
A indisposição da mídia contra Yasser Arafat era tanta, sobretudo estadunidense, que quando uma semana mais tarde o líder palestino declarou sua decepção com a "mediação" infrutífera dos Estados Unidos, poucos colegas consideraram legítima a demanda de Arafat que Israel concordasse com um Estado Palestino que compreendesse a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, a Jerusalém antiga e Oriental que lhes era devida e onde fariam sua capital. Dentro das fronteiras legais estabelecidas pela ONU após a criação unilateral do Estado de Israel no fim do Mandato Britânico.
Enquanto Barak se ativava no proselitismo, a Casa Branca, onde tudo se decidia de fato, estava em polvorosa, receando que o grande golpe mediático que fecharia o mandato de Bill Clinton falhasse. A data limite para um Tratado de Paz em setembro tinha de ser mantida, custasse o que custasse!
Yasser Arafat, cético com as motivações e os meios de Washington, resolveu dar um pulo na França para desabafar. No dia 26 encontrou em Paris o primeiro ministro socialista Lionel Jospin e o presidente Jacques Chirac, que lhe prometeu apoio no processo de paz.
Precisava do amparo de Chirac porque tinha outra reunião bilateral em Eilat, um resort israelense no Mar Vermelho, patrocinada por Dennis Ross em maio e precisava ter pelo menos um presidente do "primeiro mundo" do seu lado.
No nosso Dia do Trabalho, o chefe de cabinete de Barak, Haim Ramon, continuando a campanha de simpatia, pronunciou uma frase com sonoridade conciliatória  - que o Estado Palestino já era um fato e que o Tratado de Paz se resumiria a definir os limites em que seria criado.
Não deu nenhuma dica do que entendia por Estado Palestino.
A reunião em Eylat aconteceu após uma outra de duas horas em Ramallah e no dia 05 Israel voltou a tentar empurrar o mapa que compreendia cerca de dois terços da Cisjordânia com os mesmos recortes que os palestinos julgavam incaceitáveis.
Por isto nem se deram ao trabalho de ouvir o fim da fábula. 
Embora os comunicados de ambos os lados tenham sido que o encontro fora produtivo, uma fonte anônima palestina revelou em seguida que dessa vez os israelenses desenharam o Estado da Palestina que queriam.
Ou seja, dois terços da Cisjordânia determinada pela ONU e com terras descontínuas, recortadas por enclaves israelenses que impossibilitavam a autonomia de direito e de fato.
Enquanto que os palestinos queriam um Estado que englobasse a totalidade da Cisjordânia mais a Faixa de Gaza e Jerusalém como capital. Isto é, nas fronteiras de 1967.
No fim do encontro de Eylat os representantes de um e outro lado apertaram as mãos, mas no dia 08 a imprensa foi informada que os dois líderes não haviam conseguido "fazer uma ponte entre os espaços larguíssimos" e que era pouco provável que esboçassem um tratado de paz.
Ehud Barak aproveitou de novo para dar a impressão de estar de boa vontade e que o vilão era Arafat anunciando em voz alta que pretendia devolver à Autoridade Palestina três bairros de Jerusalém Oriental, precisando em voz bem mais baixa que era provável que não conseguisse levar a cabo este plano nas próximas semanas ou meses por causa da forte oposição interna, inclusive de membros de sua coalição política.
Yasser Arafat ouviu do começo ao fim e entendeu a estratégia da miragem.
Irritou-se, Barak ficou sabendo que ele não engolira mais esta e acabou admitindo que só concordaria com um Estado da Palestina em que as fronteiras finais fossem definidas de maneira que a maioria absoluta das invasões-assentamentos-colônias que alojavam os 200 mil judeus na Cisjordânia e na Faixa de Gaza ficasse sob soberania israelense e não do país em que se haviam instalado ilegalmente.
O resultado foi uma onda de protestos na Cisjordânia em lugares já autônomos em que até a polícia palestina foi envolvida em desespero de causa, incapazes de ver seus compatriotas sendo agredidos de braços cruzados.
No dia 19 os israelenses divulgaram que os palestinos tinham rejeitado sua "ótima" oferta na reunião da Suécia, deixando entender que a proposta era generosíssima, de 80% do território! - sem precisar que era repicado e inviabilizava a soberania de um Estado.
A imprensa caiu como um pato.
Quando as últimas tropas israelenses se retiraram do Líbano no dia 24 de maio, a "boa-fé" de Barak pareceu completa. Tinha cumprido a palavra de acabar com outra ocupação que durava mais de uma década. É um fato, mas a ocupação do Líbano custava a Israel os olhos da cara e era um golpe severo na sua popularidade nas capitais ocidentais por causa da influência internacional dos libaneses abastados.
Na verdade tirou uma pedra do sapato. 

Em junho Bill Clinton já estava dando faniquito. Sua estadia na Casa Branca estava terminando e não queria deixar o cargo com mais esta mancha no currículo.   
Instou então os dois líderes a cumprirem palavra de chegar a um Acordo antes da eleição presidencial nos EUA.
Contudo a agenda de pendências era longa e a via íngreme.
Faltava concordarem sobre questões básicas como o futuro de Jerusalém, extensão e qualidade do território devolvido aos proprietários, a questão dos refugiados e o ponto crucial dos recursos hídricos dos quais Israel se apoderara.
Como nem Barak nem Arafat queriam desagradar o presidente dos Estados Unidos, enviaram negociadores à base da aeronáutica Andrews, no estado de Maryland, e à base Bolling em Washington para considerarem o que faltava e parirem um protocolo apresentável em julho.
Ciente das propostas "generosas" infrutíferas repetidas na reunião a seus embaixadores, Yasser Arafat acabou denunciando as duas caras de Barak um pouco antes de encontrar-se com o seu representante Shlomo Ben-Ami no dia 16 em Maryland, enquanto em Washington as negociações eram interrompidas pelos palestinos por causa da recusa de libertação de mais 250 prisioneiros e dos termos de retirada da Cisjordânia.
Depois de conversar com Ben-Ami Arafat deixou seus compatriotas remando contra a maré nos Estados Unidos - repetindo que não viam como chegar a um acordo em setembro - e voltou para casa dizendo que os palestinos proclamariam seu Estado como Israel fizera 52 anos antes com ou sem seu consentimento.
A secretária de estado estadunidense Madeleine Albright foi correndo atrás dele, ou de Barak.  
Foi, mas foi surda à realidade. A segurança de Israel era o que mais lhe importava.
Organizou a reunião de cúpula que seu chefe queria a todo custo na qual os dois líderes tinham de esboçar um tratado de paz nem que fosse na marra.
Ehud Barak respondeu presente na hora, pois esperava que sob pressão estadunidense e mediática Arafat sucumbisse à proposta que ele e os compatriotas consideravam inaceitável.
Yasser Arafat exprimiu relutância - as lacunas eram tantas que uma reunião destas naquela hora, naqueles termos, naquele ponto, era ver a paz como uma quimera e não como uma realidade - mas ninguém queria escutá-lo. 
Tentou manter uma certa aparência diplomática, mas seus colaboradores foram claros, off the record, que o líder palestino temia que os mediadores estadunidenses tomassem o partido incondicional de Israel e o apertassem para que fizesse concessões impossíveis. 
Nas duas semanas que passaria em Campo David comprovaria tudo o que temia e suspeitava. 

Bill Clinton, apesar das reticências explícitas do líder palestino, anunciou no dia 07 de julho a tal reunião de cúpula entre Arafat e Barak em Campo David, a partir do dia 11.
O ano 2000 sendo o último de seu segundo mandato, Bill Clinton sonhava em redourar a localidade mística de Campo David - onde em 1978 o presidente Jimmy Carter conseguira o Acordo de Paz entre o egípcio Anwar el-Sadat e o primeiro ministro israelense Menachem Begin, e onde ele próprio conseguira reunir Yitzhak Rabin e Yasser Arafat em 1993 para fechar com um aperto de mão os Acordos de Oslo - patrocinando um novo encontro de cúpula, no qual o interlocutor de Yasser Arafat seria o atual primeiro-ministro Ehud Barak.
Só que Bill Clinton não era Jimmy Carter e nem Ehud Barak era Yitzhak Rabin.
O primeiro ministro do ano 2000 não conseguiu nem nuançar sua ambição territorial, hídrica e segurança absoluta, sem contrapartida válida.
O Encontro de julho foi um fracasso, mas não por causa de Arafat mal-contou a mídia enganada - um colega até ganhou prêmio de prestígio por um artigo baseado em informações unilaterais erradas.
Em vez de Acordo sólido, Bill Clinton conseguiu Acordo frágil e promessas vagas de ambos os lados.
Já no segundo dia, em uma tentativa de salvar o mínimo e de não ficar mal aos olhos do mundo, Clinton pôs os dois homens cara a cara para rasgar o verbo à vontade.
Os assuntos pendentes foram abordados; mas como os dois homens estavam sozinhos, seus estados de ânimos não vazaram, mas as caras na saída eram de poucos amigos.
Mesmo assim as negociações continuaram e no dia 19 Ehud Barak, no propósito de livrar a cara, mandou uma carta ao anfitrião reclamando da "má fé" dos palestinos.
Corriam boatos bem orquestrados que Barak decidira ir embora e então o anfitrião em questão adiou sua viagem ao Japão para ter uma conversa particular com Arafat.
Aliás desde o dia 11 que o presidente dos EUA andava de um lado para o outro tentando convencer um e outro a ceder algo.
Sobretudo Arafat que era o úncio que tinha a perder. Barak só tinha a ganhar, já que já possuia terra própria, Estado reconhecido e estava lutando apenas para expandir seu território em detrimento dos legítimos proprietários.
  
No dia 25, apesar das idas e vindas de Bill Clinton, dos tapinhas nas costas de Ehud Barak e das prensas dadas em Yasser Arafat, o diálogo sofreu um colapso.
O motivo imediato foi o futuro de Jerusalém, mas o motivo real era tão ou mais grave - o recorte da Cisjordânia que Barak premeditava e cujo mapa estendeu na cara de um Arafat indignado.
Diante deste impasse, Bill Clinton acabou tendo de declarar o que todos sabiam antes do encontro começar. Que as divergências não tinham sido resolvidas, mas previu que seriam, pois "acho que a alternativa é impensável".
No final das contas, Arafat e Barak reconheceram apenas ao que tinham ido. Acabar com as décadas de conflito, alcançar paz durável e prosseguir as negociações sobre um estatuto permanente o mais depressa possível, que estas negociações tinham de ser baseadas nas Resoluções 242 e 338 das Nações Unidas.
Concordaram em criar um ambiente livre de pressões, de intimidação, de violência para negociar e evitar ações unilaterais que prejulgassem os resultados; que suas diferenças fossem resolvidas de boa fé, que os Estados Unidos permanecesse um parceiro vital na busca da paz e que Bill Clinton e Madeleine Albright continuassem a ser consultados antes de qualquer decisão ser tomada entre as partes.
Trocando em miúdos, os dois homens se entenderam nas questões abstratas, mas se desentenderam nas concretas que realmente levariam à paz - território, Jerusalém, direito de retorno dos refugiados palestinos (então cerca de 3.9 milhões registrados na ONU) e a segurança.
Apesar dos desentendimentos, as delegações se comportaram como manda o figurino e no fim declararam que retomariam o diálogo sobre as questões permanentes o mais cedo possível.
Esta reunião de cúpula em Campo David durou duas semanas.
As pressões sobre Yasser Arafat foram tantas que temia-se que sofresse um ataque cardíaco. Até o chefe da CIA George Tenet jogou a (pre)potência da Agency e dos EUA na cara do líder palestino a fim de convencê-lo a capitular: We can make new borders, we can make peoples, we can make new regimes! E no final, quando viu que Arafat não se dobraria aos desejos de Bill Clinton e Ehud Barak, explicitou a ameaça: So you will be back to the Middle East alone. No que Arafat respondeu: "Se for o caso, você está convidado para o meu funeral. Mas eu não vou aceitar esta oferta."   
Aliás, este "evento" político deveria servir de exemplo em todas as escolas de jornalismo do planeta Terra e dos demais, de como não fazer jornalismo. De como a imprensa foi manipulada do início ao fim e até depois da poeira assentar.
A "grande" imprensa que forma opinião engoliu ingenuamente, ou não, os comunicados de imprensa como se fossem verdades absolutas e inquestionáveis - como uma década mais tarde nas "armas químicas" iraquianas e outras questões internacionais que eram porém questionáveis.
Arafat e Barak fizeram as malas e voltaram para casa com um perfil público bem forjado.
Ehud Barak com fama de magnânime.
Yasser Arafat de rabugento mal agradecido.
Hoje a verdade é conhecida, mas pouquíssimos jornalistas que cobriram o evento veiculando ingenuamente os comunicados de imprensa israelenses se retrataram.
Para entender porquê Yasser Arafat virou a mesa, a ONG israelense de Direitos Humanos Gush Shalom publicou em detalhes interativos quão inaceitável para Arafat foi a "oferta generosa" de Barak de repicar a Cisjordânia.
Dê uma olhadinha no link abaixo.

"The tragedy of the people of Palestine is that their country was “given” by a foreign Power to another people for the creation of a new State. The result was that many hundreds of thousands of innocent people were made permanently homeless. With every new conflict their number have increased. How much longer is the world willing to endure this spectacle of wanton cruelty? It is abundantly clear that the refugees have every right to the homeland from which they were driven, and the denial of this right is at the heart of the continuing conflict. No people anywhere in the world would accept being expelled en masse from their own country; how can anyone require the people of Palestine to accept a punishment which nobody else would tolerate? A permanent just settlement of the refugees in their homeland is an essential ingredient of any genuine settlement in the Middle East."
Bertrand Russel, 1970 
Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

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