domingo, 26 de fevereiro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito VI (1992-93)

Em junho de 1992 o Partido Trabalhista ganha as eleições e o novo primeiro ministro Yitzak Rabin anuncia em agosto três intenções preliminares ao processo de abertura: revogar a lei que proibe contato entre Israel e a OLP, suspender a colonisação e estabelecer regime de autonomia nos Territórios Ocupados.
Apesar deste passo significativo, no ano seguinte ele decide deportar logo em janeiro para o sul do Líbano, 415 prisioneiros políticos palestinos, dentre eles o líder do Hamas da época e o chefe atual do governo da Faixa de Gaza.
Para os palestinos o desterro era uma pena que os mortificava, mas com a qual estavam familiarizados.
Desde a Naqba que a ocupação era pontuada de sequestros, prisões arbitrárias e deportações - de 1967 a 1987, 1156 palestinos foram vítimas desta punição ilegal e ilegítima; de 1977 a 1987, mais cinquenta; de 1988 a 1992, 488.
Como a deportação é crime previsto pelo Direito Internacional no Artigo 49 da Quarta Convenção de Geneva de 1949, a ONU inclusive já tomara posição contra estes atos que ela mesma definia como delito grave.

O Conselho de Segurança adotara em anos anteriores várias Resoluções reprovando a prática dos israelenses condenarem a degredo cidadãos do país que ocupava.
Doze delas entre 1980-1992: Resolução 468, 469 e 484 em 1980; 605 em 1987; 607 e 608 em 1988; 636 e 641 em 1989; 681 em 1990; 694 em 1991; 726 e 799 em 1992.

A resposta do acusado era surpreendente pela cegueira ou cinismo, mas de Resolução a Resolução, mantinha a coerência incoerente.
De acordo com a Corte Suprema de Israel, o país não infringe o Artigo 49 da Convenção de Genebra porque o único objetivo deste artigo seria, segundo os juízes, impedir deportações do tipo das praticadas pelos nazistas alemães durante a Segunda Guerra...
É aquela velha estória de dois pesos e duas medidas que estrangulam a Justiça.
Apesar de Tel Aviv ser imune às Resoluções da ONU, a história dos 415 deportados que foram engrossar os campos de milhares de refugiados que já se encontravam no Líbano foi diferente das que a antecederam.
Foi concebida como medida punitiva de distanciamento de dois anos, e não de banimento definitivo.
O parágrafo do retorno foi acrescentado para calar as críticas internacionais e dar uma chance às negociações bilaterais incipientes, pois a OLP as interrompera ao saber do desterro massivo.
Tel Aviv garantiu que dentro de um ano os deportados seriam autorizados a retornar ao lar, o fato causou certa comoção na Faixa de Gaza entre os membros do Hamas e do Fatah, mas com promessa de retorno a OLP não fez muita onda e foi remando como podia contra a maré internacional oposicionista à causa palestina.
Yasser Arafat estava enfraquecido pelo apoio ao Iraque contra a Operação Desert Storm estadunidense, de 1991, e estava disposto a aceitar até o mínimo.
Desde o fim da Conferência de Madrid que a OLP participava de reuniões secretas com personalidades israelenses, intermediadas pelo Centro de Estudos em Jerusalém do Instituto Norueguês de Pequisas FAFO.
O FAFO, presente, atuante e atento ao soprar dos ventos na região, sabia que as duas partes estavam cansadas e namorando a cadeira em volta da mesa que lhes traria pelo menos um pouco de calma.
O balanço em vidas da Intifada era alto. Mais de mil e cem mortos palestinos e 164 israelenses.
Do lado da OLP, fazia seis anos que a Intifada mobilizava a população da Cirjordânia e da Faixa de Gaza sem ganhar terreno no sentido próprio e figurado. O povo estava sendo estrangulado pela sansões, sufocado pelas colônias que aumentavam, e estava claro que na batalha de pedras e desobediência civil contra tanques e aviões de combate, os palestinos estavam fadados à derrota a médio prazo e a não obter o sucesso político internacional que almejavam.
Do lado de Tel Aviv, a Intifada mostrara às cabeças pensantes e pragmáticas que os palestinos não engoliriam mais o sapo da ocupação calados, que os ocupantes civis e militares continuariam a sofre com os ataques nos Territórios Ocupados, e que se não tomassem providências imediatas, os muros e arames farpados não lhes dariam a segurança que os obsedava nem em suas fronteiras legais.
A OLP já dera o primeiro passo em 1988 ao concordar com a solução dos dois Estados conforme a Resolução Onusiana 181 de 1947 e ao renunciar à resistência armada.
Com isto tencionava negociar uma paz baseada na Resolução 242, que instava Israel a retirar-se dos territórios ocupados em 1967, e da Resolução 338.
Foi por isto que tomou a iniciativa de pedir aos noruegueses que intermediassem a aproximação entre as partes.

As negociações de Oslo começaram no início de 1993.
O objetivo era humanizar uns aos olhos dos outros, se conhecerem de verdade, entenderem o que os motivava e do que precisavam para viver em paz lado a lado.
A aproximação foi incentivada por pessoas envolvidas na questão hídrica que era (e é) o maior e mais inflamado espinho no pé dos palestinos - é a espoliação mais grave (http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6317608786765905828#editor/target=post;postID=1814099583922623766 ) dos recursos naturais da Cisjordânia, pois os israelenses controlam o Mar Morto e toda a água do Jordão.
De janeiro a maio as reuniões envolveram executivos da OLP e intelectuais israelenses que mantinham o ministro das relações exteriores Shimon Peres informado.
(Como nas discussões patrocinadas pela Inglaterra entre a ANC de Nelson Mandela e o regime do apartheid.)
A OLP escolheu a Noruega como mediadora por causa das atividades do FAFO no território e por ser aliada dos EUA e próxima de Israel. Fatores que ao ver de Arafat facilitariam a aproximação e o diálogo.
O papel inicial de Oslo era facilitar os contatos e garantir o segredo dos encontros.
Até maio tudo saiu conforme o planejado.
Depois começou a degringolada.
Rabin decidiu mudar os representantes israelenses e com a mudança de caras, mudou a fala e a vontade de resolver o problema de maneira equilibrada.
A primeira atitude dos enviados, agora com mandato oficial, foi questionar os progressos feitos entre as partes.
Aí o ministro norueguês das Relações Exteriores, Johan Jørgen Holst, também implicou-se e prendeu sua Pasta em uma engrenagem de anos de tentativas infrutíferas de salvar o que pudesse ser salvo, pressionando sempre a parte mais fraca.
(A pesquisadora norueguesa Hilde Henriksen Waage que trabalhou sobre os Acordos, descreve Holst e outros compatriotas envolvidos como "lacaios de Israel" e conjetura sobre o conteúdo inconveniente a Israel e aos EUA da parte dos arquivos de Oslo cuja consulta é vedada. Ela e outros continuam a exigir que os documentos selados sejam liberados para que se saiba exatamente como os Acordos foram sistematicamente minados e os palestinos pressionados até o insuportável.)
Enquanto esta porta da verdade não for destrancada, o que transparece é que a partir da entrada direta de Holst e de Shimon Peres na jogada, os noruegueses apoiaram sistematicamente as demandas securitárias e territoriais israelenses sem preocupar-se com reciprocidade.
Holst chegou ao ponto de levar a Yitzak Rabin o conteúdo das conversas privadas que tinha com Yasser Arafat e esquecer de trazer ao líder da OLP o que ficava sabendo do outro lado.
Dizem que seu papel junto a Arafat foi mais de carteiro bisbilhoteiro do que de mediador interessado em uma paz equilibrada.
Poder-se-ia dizer em sua defesa que a Noruega é pequenininha e é normal que se dobrasse a Israel e a seu mastodonte padrinho gringo.
Neste caso não deveria ter aceito incumbência superior à capacidade político-diplomática, dizem os que viram os palestinos baterem os braços na areia movediça à qual foram conduzidos.
Quanto aos demais países que tomaram o controle na fase seguinte, em setembro - Estados Unidos e os principais membros da atual União Europeia - tal desculpa deixa de ser cabível.


Os oito meses de negociações culminaram no que foi chamado DOP - Declaração de Princípios - em que ambas as partes concordavam que era "tempo de pôr ponto final nas décadas de confrontação e conflito, reconhecer legitimidade e direitos políticos mútuos e tentar coexistir pacificamente com dignidade e segurança recíproca para atingir um acordo de paz justo, compreensível e duradouro."
A retórica do parágrafo é animadora, mas a prática nos bastidores e no terreno seria outra.

A primeira etapa foi a do aperto de mão e de promessas que davam esperança de futuro livre e próspero de lá e de cá da Linha Verde, menos para os centenas de milhares de refugiados cuja chave da casa perdida era o bem mais precioso da família.
Um dos compromissos foi o prazo de transição de cinco anos, durante os quais outros Acordos aconteceriam, Israel retiraria tropas e desmantelaria as colônias judias dos Territórios Ocupados.
Nesse ínterim uma Autoridade Palestina seria constituída e reconhecida de direito e de fato.
Como todo Acordo de Paz em que a concórdia é o ojetivo comum dos beligerantes, este visava um acerto permanente em que ambas as partes ganhassem e saíssem meio satisfeitas, já que satisfação inteira era impossível.
Em setembro de 1993 o presidente estadunidense Bill Clinton entrou na parada para colher os louros da vitória de fachada, e diante do mundo inteiro, Yitzak Rabin e Yasser Arafat apertaram as mãos para selar o Tratado assinado por Shimon Peres e Yasser Arafat - do lado deste se encontrava o vice da OLP Abu Mazem, mais conhecido como o atual presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas, que seguiu todas as etapas de discussão e aplicação incipiente dos Acordos do lado de Arafat.
O documento comprometia os quatro homens, e o povo que representavam, a tomar as providências necessárias para que justiça fosse feita e que esta levasse à convivência pacífica, cada um do seu lado, cada um na sua, e que a harmonia prevalecesse e frutificasse.
Na euforia deste aperto de mão histórico, Israel assinaria um Tratado de Paz com a Jordânia no ano seguinte.

A DOP foi aplaudida pelo Fatah e pela ala liberal israelense e condenada pelo Hamas e pelos sionistas radicais, mas Arafat e Rabin pareciam ter a mesma determinação de cumprir palavra.
A OLP recuperaria sua sede histórica na Orient House em Jerusalém (ao lado), a Faixa de Gaza e Jericó seriam devolvidas a controle nacional e outros Acordos resolveriam questões pendentes de ambos os lados. 
Arafat achou que cedendo na questão dolorosa dos refugiados asseguraria pelo menos aos que tinham sobrevivido, bem que mal, um Estado autônomo em cinco anos, e quando obteve autorização de voltar para casa, a garantia efêmera de um Estado esfarelado a curto prazo não o preocupou tanto quanto devia, na hora em que seu coração batia apressado de pisar na terra da qual o ocupante o banira e que desde então só a pisara como clandestino.
O Hamas criticou Arafat por ter cedido terreno, sobretudo por ter abdicado de uma das demandas prioritárias do povo, que era o retorno dos refugiados, e ter concordado, sem concordar, com o recorte absurdo da Cisjordânia que fazia dela uma colcha de retalhos.
Era o plano maquiavélico de Tel Aviv de inviabilizar o Estado palestino contínuo, como se vê abaixo.

Concretamente, os pontos principais da DOP são:
1. Transfere aos palestinos poder e responsabilidades na Cisjordânia e na Faixa de Gaza;
2. Determina a exclusão pura e simples de questões permanentes como Jerusalém, refugiados, invasões judias, medidas de segurança e fronteiras até segunda ordem, e nesse ínterim, o governo de Israel continua o único responsável por defesa e fronteiras, sua posição em Jerusalém permanece a mesma - Rabin chegou a declarar, logo após assinar o documento que deveria levar à paz, "Jerusalém é a antiga e eterna capital do povo judeu", completando que uma Jerusalém unificada sob soberania de Israel, com liberdade religiosa para todos, continuava sua posição fundamental.
3. Confere a Israel o controle da segurança - com garantia de liberdade de movimento aos palestinos.
Durante o período de transição (dos 5 anos), a segurança interna e das fronteiras continuaria sob controle de Israel, assim como as áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza em que há colônias.
Implementações da DOP foram previstas nas seguintes fases:
. Gaza-Jericó - autodeterminação, incluindo retirada das tropas da IDF. Os detalhes seriam determinados em outro Acordo a ser assinado no Cairo em maio de 1994;
. Preparação de transferência de poderes e responsabilidades - No resto da Cisjordânia cinco esferas específicas - educação e cultura, saúde, seguridade social, fiscalização e turismo - seriam transferidos aos representantes palestinos, assim como esferas adicionais a serem estabelecidas. Esta transferência aconteceria logo após a autodeterminação de Gaza-Jericó ser efetivada.
(A estória do turismo era uma finta, já que Israel tem o monopólio através das agências de viagens estrangeiras que lhe respassam todo turista que vai à Cirjordânia visitar os sítios cristãos de Belém, Jericó, Betânia, Jerusalém, Samaria, que os palestinos matêm impecáveis, a altos custos sem nenhum retorno financeiro.)
. Eleições de representantes palestinos - com modalidades a serem discriminadas em negociações posteriores que detalhariam as modalidades de autonomia governamental.
Durante as eleições, Israel estava autorizado a manter a ordem junto com a força policial do Conselho Palestino.
No fim do Tratado há anexos que determinam "cooperação" econômica entre Israel e Palestina em contextos bilaterais e multilaterais. Também, sem nenhuma precisão de limites e vantagens. Mas ficou mais ou menos claro que os bancos israelenses, e não os palestinos, cuidariam do repasse da ajuda financeira internacional destinada à Autoridade Palestina para as despesas com o serviço público, inclusive funcionários.

No tocante ao estatuto permanente da Palestina - Negociações entre as partes deveriam começar no terceiro ano de prática dos Acordos, ou seja, em 1996.
Estas determinariam a natureza do Acordo final que cobriria as questões pendentes como Jerusalém, refugiados, invasões, segurança, fronteiras, e outros pontos de interesse comum.
O prazo de 5 anos foi selado.
Yasser Arafat assinou uma carta endereçada a Yitzhak Rabin na qual deixava claro que a OLP reconhecia o direito de existência do Estado de Israel em paz e segurança, aceitava as Resoluções 242 e 338 do Conselho de Segurança da ONU, se comprometia a engajar-se no processo de paz, resolver os eventuais problemas em diálogo, renunciar ao uso de terrorismo e outros atos de violência e assumir a responsabilidade dos membros da OLP a fim de assegurar a adesão destes na prevenção das infrações e na disciplina dos infratores. Concluia invalidando os documentos anteriores em que afirmava o contrário dessa carta e se comprometia a submeter tudo o que afirmava ao Conselho Nacional da Palestina para aprovação geral.
A resposta que o primeiro ministro de Israel enviou a Arafat alguns dias depois de receber esta missiva detalhada - antes do aperto de mão na grama da Casa Branca - foi aquém da esperada. Retratou o estado de ânimo ambíguo de quem não quer se comprometer com nada.
Rabin foi sucinto: "... Israel decidiu reconhecer a OLP como representante do povo palestino e começar negociações com a OLP no processo de paz do Oriente Médio."
PT saudações.

O extenso cabeçalho acima resume os fatos.
Os Acordos de Oslo, em teoria, obrigavam um e outro a tomar várias medidas imediatas e outras menos, mas que o prazo não excedesse cinco anos.
O ponto alto celebrado pela mídia como se fosse um presente e não ponto pacífico, foi Israel reconhecer a existência do povo palestino e a liderança de Yasser Arafat.
O reconhecimento palestino da existência de Israel foi apenas pro forma considerando que Arafat já se pronunciara sobre o assunto em Assembleia das Nações Unidas.
Os Acordos poderiam servir as duas partes, se fossem postos em prática com reciprocidade.
Autorizava à OLP uma base no próprio solo, a formação paulatina de um Estado e Forças Armadas.
Três direitos cruciais para a autodeterminação e a liberdade.
E aos israelenses garantia a segurança com que tanto sonhavam e lhes abria as portas comerciais com o mundo árabe - aliás, era a perspectiva comercial com os vizinhos abastados que interessava Shimon Peres, que na época ainda disfarçava com palavras liberais sua veia radical.
Portanto, unindo o útil de um ao de outro o Acordo de Paz parecia ser viável.
Ambos os envolvidos tinham de renunciar a algo, mas no final todos lucravam.

Contudo tinha um porém enorme nos Acordos.
Israel os trancou com uma chave enferrujada para que no frigir dos ovos até as concessões imediatas, a médio prazo lhe fossem favoráveis.
Não por ganhar a partida de cara.
Devolver aos palestinos o que confiscava - da terra, à liberdade, à água - custaria ao governo bastante desgaste político e esforço, para desalojar e realojar os colonos e para readaptar-se.
O que provou a má-vontade de bastidores foi Rabin ter inviabilizado os Acordos já no dia em que foram assinados.
(Talvez nem tenha sido por má-fé nem maudade, mas por simples paranóia e pela convicção de terem de levar vantagem, sempre.)   
O hic era que para que o processo fosse respeitado por ambas as partes, justamente por causa da dificuldade mútua, Rabin e Arafat precisavam de um árbitro com autoridade inclusive de enviar tropas para manter a ordem, caso precisasse.
Porém, Israel rejeitou de cara os observadores internacionais, ou seja, os juízes que Arafat solicitava para assegurar a concretização dos Acordos abstratos e controlar as vontades voláteis.
Até a última hora, os Acordos previam arbitragem internacional obrigatória.
Cláusula que permitiria que a ONU monitorasse passo a passo a teoria posta na prática e interviesse na base do Direito que rege os países que vivem na legalidade internacional.
Mas Israel exigiu que esta menção fosse riscada.
A Declaração do dia 13 de setembro se limita a mencionar uma eventual comissão de arbitragem que só poderia agir "com autorização das duas partes".
Portanto a arbitragem nasceu palavra morta.
Como ver-se-á em seguida, a cada pedido de socorro de Arafat, Israel negará sistematicamente autorização para que a ONU intervenha como faz nos demais conflitos internacionais, até domésticos, em certos casos.
Sem a cláusula principal da arbitragem que garantia o cumprimento do tratado bilateral, quando Bill Clinton gabou-se, por ignorânu ingenuidade, de ter protagonizado a paz, esta já tinha ido por água abaixo.
Arafat sorria na célebre fotografia, mas entrou na estória de gaiato e choraria lágrimas amargas por ter se deixado enrolar com promessas mais do que vagas.

Outras dificuldades surgiriam em 1994.
Logo em janeiro, um atentado organizado por colonos judeus jogaria um balde de água gelada na boa vontade do Hamas de apoiar Arafat.
No dia 25 de fevereiro, em Hebron, na Cisjordânia, o médico israelo-estadunidense Baruch Goldstein penetrou no Túmulo dos Patriarcas - Haram el-Khalil (onde o casal Abraão e Sara foram enterrados) durante o culto de Purim e Ramadam na Mesquita de Abraão e colocou-se entre os oitocentos homens que rezavam e a porta de saída.
Estava de uniforme de combate e empunhava uma espingarda de assalto Galil, usada pela IDF.
Abriu fogo contra os oitocentos participantes da cerimônia religiosa, e segundo sobreviventes, comparsas lhe entregavam balas para que recarregasse.
Vinte e nove homens morreram na hora.
Cento e vinte e cinco sofreram ferimentos graves.
Goldstein só parou de atirar quando acabou a munição e encontrou-se sozinho sem poder recarregar a arma.
Os sobreviventes o lincharam no local - o cemitério em que foi enterrado virou sítio de peregrinação para extremistas que o consideram um "mártir que deu a vida ao povo judeu, à Torah e à nação de Israel", como diz a placa do túmulo que os fanáticos veneram.
O balanço final foi de mais de cinquenta mortos e dezenas de feridos graves, pois os soldados da IDF que estavam do lado de fora atiraram nos fieis que saiam da mesquita enraivecidos, mas desarmados.
Foi um golpe de mestre contra as negociações nascentes de paz. Dizem as más línguas que não foi ato espontâneo insano e sim planejado e mandado. Mas não há prova disto.
No meio jornalístico foi um choque brutal que forçou a profissão a parar e pensar em como até então vira e tratara o conflito. Os "terroristas" eram em princípio os árabes e não médicos gringos "educados". A partir de então os repórteres mais honestos começaram a questionar a propaganda do Ministério da Comunicação israelense e conferir as informações antes de veiculá-las.
A notícia do massacre no sítio sagrado se espalhou pela Cisjordânia e a Intifada que tinha dado o último suspiro na assinatura dos Acordos de Oslo, foi revigorada. Lá e na Faixa de Gaza.
Passeatas espontâneas eclodiram por todos os lados e nos dois dias seguintes a IDF matou mais 19 palestinos e dezenas de feridos foram recolhidos em hospitais e casas.
Yitzhak Rabin e Binyamin Netanhyahu condenaram o ataque no mesmo dia, mas o mal estava feito e a repressão violenta da IDF só fez piorar a situação que já estava má.
Sobretudo porque Tel Aviv escolheu não dar ouvidos às testemunhas e não investigar a implicação de outros participantes no ataque. Fez como se o único culpado já estivesse morto e enterrado.
Só que para os palestinos, insatisfeitos com a impunidade dos outros homens uniformizados que viram escondidos atrás de pilastras, o assunto não estava encerrado.
Os colonos celebraram o massacre com alarde enquanto as famílias enterravam os mortos e Yasser Arafat exigia de ouvidos surdos que os comparsas do assassino fossem punidos pela cumplicidade, em vão.
A frustração e a indignação generalizada fez com que a revolta corresse solta na Palestina
A mágoa estava lá, difícil de aplacar. Conter o sentimento de vingança do Hamas não seria fácil. Ainda mais porque representava a classe menos favorecida que era a primeira prejudicada, e no terreno, no dia a dia, era quem sofria nas mãos dos colonos e dos soldados.



Trocando em miúdos, a ambiguidade e a carência de arbitragem daria margem a infrações e espaço para que cada um tomasse uma direção para atingir objetivos antagônicos desde o início do conflito.
Os palestinos viram o Acordo como a porta de entrada na casa que lhes fora tomada na Naqba e para a qual ainda guardavam cuidadosamente a chave.
E para conseguir de volta a cidadania, estavam conformados com os 22% da área de sua antiga Palestina. Contanto que tivessem autonomia e suas terras fossem esvaziadas e restituídas aos devidos donos que guardavam as chaves como um ingresso sem prescrição de entrada e não apenas como relíquia sagrada.
O ano de 1994 e os seguintes mostrariam para onde o bonde da paz caminharia, e em que rítmo.

Al Jazeera World: The price of Oslo
I
II


Filme: Endgame
Dirigido por Pete Travis
Produção: Channel 4, Inglaterra
Baseado no livro de Robert Harvey que relata as conversas e negociações secretas mediadas pelos ingleses entre membros do ANC (African national Congress) de Nelson Mandela e intelectuais sul-africanos brancos e membros do National Party que mantinha o apartheid.
Bom exemplo do que precedeu os Acordos de Oslo até maio de 1993 e outras mediações secretas até hoje infrutíferas entre israelenses e palestinos.



Filme: Miral
De Julian Schnabel
Baseado no livro homônimo da jornalista palestina Rula Jebreal (vídeo abaixo).
Ficção meio autobiográfica pontuada pela história da Palestina da Naqba aos Acordos de Oslo.

"The same issue of equality is what motivates the divestment movement of today, which tries to end Israel’s 43 year long occupation and the unequal treatment of the Palestinian people by the Israeli government ruling over them. The abuses they face are real, and no person should be offended by principled, morally consistent, non-violent acts to oppose them. It is no more wrong to call out Israel in particular for its abuses than it was to call out the Apartheid regime in particular for its abuses".
Bispo sul-africano Desmond Tutu, carta de 2001

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
SHIMINISTIM

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Irã, armação ou perigo embasado?



A mitologia persa não é tão conhecida no Ocidente quanto a grega - passada de geração a geração como legado inerente à nossa cultura greco-romana-cristã - mas suas personagens também são marcantes.
Alguns ligam o nome Zoroastro a Sarastro, o sábio da "Flauta Mágica" do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart; outros a "Assim falava Zaratustra" do filósofo alemão Friedrich Nietzsche e ao poema sinfônico homônimo de seu concidadão Richard Strauss.
Mas como se sabe, Zoroastro ou Zaratustra, foi o criador do zoroastrismo, religião transcrita há três mil anos em uma região imprecisa entre Irã, Turquemenistão e Afeganistão.
De maneira simplista, os preceitos filosóficos que veicula são a chegada do Reino da Justiça e a cooperação obrigatória com a obra divina.
Os gregos o tinham como fundador da religião persa e embora estudassem sua obra, o consideravam fantasista.
Nietzsche usou a destruição zoroastriana de deuses conflitantes para matar Deus no presente, e nesta interpretação livre, propor abolir o dualismo do Bem e do Mal, da razão e da moral; a fim de justificar sua própria prática de vida, dizem.
A mitologia persa é povoada deste dualismo do Bem e do Mal que se confrontam em todos os sentidos. Na luta intermitente que opõe estas forças, as figuras mitológicas que representam o Bem vencem sempre.
No Irã atual o Bem está penando para ganhar a partida, mas cada povo amadurece a um rítmo.
Neste Irã que oprime quem quiser exprimir opinião, comportamento e posição diferentes das impostas pelo regime, há uma criatividade cultural e artística transbordante.
Por tradição, o cinema é o reflexo desta ebulição criativa como no Brasil a música refletiu o período da nossa ditadura.
Só que as obras cinematográficas atuais estão longe do maniqueísmo nietzschiano e do super-homem, mas estão tão combativas socio-politicamente quanto na época de Zoroastro, que por sua originalidade foi preso e banido.
Ao contrário de ideias pre-concebidas ou induzidas por uma certa mídia, para os nossos padrões, Teerã é desorganizada como todas as cidades da região, mas é culta e viva.
A cidade foi desfigurada arquitetonicamente durante a dinastia dos Pahlevi, mas ainda existem bairros que lembram a antiguidade magestosa da cultura que a origina e que continua presente em cidades como Isfahan.
Os iranianos são cordiais e prestativos. Não dão nenhum sinal de desvario, de viverem desligados do mundo e de não amarem os filhos.
Acontece que o estigmatismo do qual são alvo por tabela acaba levando até intelectuais liberais a desconfiarem dos interesses dos estrangeiros que lhes oferecem ajuda contra o opressor interno.
Acho que nós brasileiros teríamos feito o mesmo.

Desde 1990 que circula o rumor induzido que o Irã está com bomba nuclear quase pronta.
O "quase" dito em tom diabolizado como se os iranianos estivessem loucos para proceder a suicídio coletivo e assassínio em massa.
O assunto preferido no Knesset (parlamento israelense) é a "iminência de um ataque do monstro iraniano ao nosso pequeno Estado".
Refrão cansativo e gasto. 
E quando se sabe que o "Estadinho" do qual falam só possue 118 bombas nucleares que podem tirar o Irã e até a Europa do mapa, pode até provocar riso. Amarelo, é claro.
Em nome deste mantra devidamente mediatizado, o Mossad, nos últimos dois anos, já assassinou quatro cientistas desarmados e cerca de 25 militares desprevenidos.

O último atentato fatal foi há um mês. Mustafá Ahmadi Roshan, cientista de 32 anos especializado em urânio Natanz enriquecido.
O meio foi espetacular como do gosto do Mossad: dois motociclistas colaram uma bomba em seu carro que explodiu causando alarde, e lá foram os assassinos para casa celebrar a vitória com os brindes de praxe.
O governo iraniano botou a boca no trombone e os suspeitos habituais negaram com veemência. A Inglaterra gritou "Não fui eu!", os EUA "Estou fora desta!"
Israel ficou calado e rindo de lado.
Depois soube-se oficiosamente que foi obra do Mossad. Que conhece sua impunidade e gosta de vangloriar-se de seu terrorismo de Estado praticado em toda impunidade.
Naturalmente, no Irã o povo inteiro se solidarizou com a família e gregos e troianos se uniram em torno de Ahmadinejad para proteger a honra nacional ofendida.
Se o alvo tivesse sido um cientista estadunidense, o culpado do crime já teria sido bombardeado ou vítima de rendition - sequestro relâmpago à luz do dia e desaparecimento em Guantânamo ou outro Campo de tortura do gênero. Como faziam nossos militares durante a ditadura e como fazem os EUA com as pessoas de quem desconfiam.
Mas como foi com iraniano... 

O primeiro alvo desta limpeza de cérebros na comunidade científico-nuclear iraniana foi Massud Alimohammadi - explodido no caminho do trabalho, morreu em janeiro de 2010. Em novembro do mesmo ano foi a vez de Majid Shahriari, explodido do mesmo jeito enquanto em atentado separado no mesmo dia 29, Fereydoun Abbasi-Davani sobrevivia ao que sofreu, mas com ferimentos graves.
O terceiro foi Dariush Rezaeinejad, de 35 anos, executado a bala em julho de 2011.
As outras vítimas foram o comandante da Guarda Revolucionária, figura-chave no programa de mísseis - explodido em um depósito de munição junto com 16 pessoas; no mesmo mês, um local de pesquisa nuclear virou cinzas em Isfahan e em dezembro, sete pessoas foram reduzidas a pedaços em um armazém de ferro em Yasd.
E a lista de assassinatos pode aumentar porque nada indica que os atos terroristas acabem e que a Justiça Internacional faça algo para evitá-los.
Deter os culpados é um sonho inatingível, inimaginável.
A resposta oficial e pública de Teerã tem sido bastante comedida. Algumas expulsões de espiões estrangeiros e umas reclamaçõezinhas.

No mundo dito "civilizado", os cientistas são protegidos deste tipo de violência por leis internacionais eficazes e até durante a guerra o ato de visar civis é considerado crime passível de punição grave.
É por isto que os três sérvios Slobodan Milošević, Radovan Karadžić e Ratko Mladić foram parar no Tribunal de Háguia. 
Em tempo de paz isto é chamado de terrorismo.
Israel tem costume desta prática e nem tenta esconder a responsabilidade pelos atentados. Sabe que é intocável e vive à margem das leis internacionais, a não ser quando recorre a elas em benefício próprio.
É o que se poderia chamar de Estado fora-da-lei, sem nenhum complexo nem consciência pesada.
Neste caso, o problema é que estes atos de terrorismo prejudicam suas relações com os paízes regionais. E neste caso específico, possibilitaram que a ala dura dos Aiatolás fizessem um limpa das figuras liberais do governo, e hoje, por incrível que pareça, Ahmadinejad é tido como moderado...
Esta personagem, diga-se de passagem, tem uma característica interessante que indica uma coerência até engraçada. De entrevista a entrevista é capaz de repetir as mesmas coisas quase com as mesmas palavras.
Seu inimigo gêmeo de Tel Aviv Binyanim Netanyahu não fica atrás. A diferença é que este último tem a insolência dos bandidos de colarinho branco imune à justiça que pune os demais.
Quando me perguntam, respondo que os líderes da extrema-direita israelense não são irracionais, longe disto. Sabem perfeitamente o que seus atos e palavras acarretam e valem.
Só que como não estão nem aí para o "resto" do mundo, dizem e fazem o que bem lhes apraz. O padrinho gringo jamais deixa-los-á limpar o leite derramado sem uma mãozinha providencial.

A dificuldade de diálogo entre o Irã e os "grandes" ocidentais reside em interesses antagônicos e desconfiança mútua.
Os motivos israelo-estadunidenses são conhecidos e tidos como pontos-pacíficos.
Os do Irã estão fincados na história nacional dos últimos sessenta anos e a lembrança viva de 1953, quando os Estados Unidos e a Grã-Bretanha patrocinaram o Golpe de Estado que desempossou o primeiro ministro Mohammad Mossadeq para reempossar o impopular Xá Mohammad Reza Pahlevi que o povo havia enxotado.
A história do Irã é um caso corriqueiro em geopolítica.
A nação foi reunificada no fim do século XVIII por Agha Mohammad Khan que derrotou o imperador Zand e estabeleceu sua dinastia.
Este, quando foi assassinado em 1797, já  se apoderara do título de "Xá", eliminara os rivais, sua dinastia Qajar estabelecera governo em Teerã e o caminho estava livre para seu sobrinho Fath Ali ser o novo líder da nação.
O governo de Ali foi pontuado por guerras territoriais com a Rússia nas quais perdeu a Georgia, o norte do Cáucaso e eventualmente toda a área do rio Aras que compreende a Armenia e o Azerbaijan (este último é dor de cabeça que não acaba) .
Depois dele veio um Xá inexpressivo, sucedido em 1848 por Naser o-Din, o governante mais hábil da dinastia Qajar, mas mesmo assim, não foi bem sucedido.
Tentou manter os poderosos da época - Rússia czarista e Grá-Bretanha - fora, mas perdeu algumas regiões de influência persa como Afeganistão, Turquemenistão, Uzbequistão, e além disso, fragilizou a economia e ficou à mercê do controle britânico.
Foi assassinado em 1896 por Mirza Reza Kermani, que pôs o filho Mozaffar o-Din no trono.
Este foi um governante fraco e incapaz.
Pediu dinheiro emprestado para a Rússia e perdeu-o mais depressa do que o empréstimo tinha saído das mãos do Czar.
Viajava sem parar para distrair-se na Europa e em retorno de pagamentos autorizou várias concessões aos estrangeiros; até o povo reclamar do desperdídio e da evasão desatada de recursos.
Em vez de prestar contas às instâncias religiosas, comerciantes e outras classes sociais reclamantes, o Xá instituiu medidas repressivas que levaram líderes clericais e da burguesia mercantil a buscarem refúgio em mesquitas e dez mil pessoas encontraram asilo na embaixada britânica.
Apesar da repressão, o movimento oposicionista só parou quando o Xá dotou o país de uma Constituição democrática - assinada em 1906 e efetivada em 1907, esta limitava poderes executivos absolutistas.
Este é o marco da passagem do Irã da era Medieval à Moderna, embora a Constituição tenha sido palavra mais morta do que viva.

Mohammad Ali, filho de Mozaffar o-Din, foi empossado em 1907 com apoio do Czar Nicolau II da Rússia.
A partir daí o país foi espoliado sem que o Xá mexesse um dedinho.
A Rússia assinou Tratado Econômico com os britânicos para explorarem as riquezas persas e para as duas potências imperiais trabalharem tranquilas, Mohammad Ali rescindiu a Constituição, bombardeou o Majlis - Congresso iraniano - prendeu vários deputados e fechou a Assembleia.
O povo reagiu e forças constitucionais de Resistência marcharam de Rasht e Isfahan em direção a Teerã, depuseram o Xá (que exilou-se na Rússia dos czares) e restabeleceram a Constituição.
No contra-ataque, o czar Romanov, insatisfeito com a perda da renda iraniana resolveu tomar providências para não perder o filão persa. Em 1910 emprestou tropas ao Xá deposto para que recuperasse o trono e que os negócios continuassem sem distúrbios.
E a Revolução Constitucional que daria aos persas a sonhada autonomia foi por água abaixo.

O Pacto Anglo-Russo (mapa ao lado) foi posto em prática e os russos ficaram com direitos exclusivos ao norte do país. Já os britâncios controlavam o leste e o sul.
O centro ficou aberto à competição político-econômica livre... Não para a Pérsia, mas para os dois impérios que a tinham dividido.
Em desespero de causa, os persas contrataram o estadunidense Morgan Shuster para o cargo de fiscal de renda. Sua missão era reformar as finanças do país e coletar impostos das duas potências que os exploravam e acabar com a sangria desatada.
A ideia de pôr um lobo no puleiro parecia boa, porém os britânicos não iam deixar escapar a galinha dos ovos de ouro sem defender para si a seara da qual usufruia com gulodice.
Nesse ínterim haviam descoberto petróleo na província do Khuzistão e para o primeiro ministro da Grã-Bretanha Henry Asquith - Liberal em casa mas déspota em solo alheio - deixar o Ouro Negro para os donos legítimos estava fora de cogitação.
Shuster tentou mandar guardas do tesouro à "zona russa" e o governo recebeu um ultimatum do Czar exigindo que fosse demitido e tropas imperiais foram postas a caminho de Teerã para reempossar o Xá.
No final da briga pelo petróleo, um batalhão do clã Bakhtiari cercou o Majlis, forçou os deputados a concordarem com o ultimatum russo, a Assembleia voltou a ser dissolvida e a Constituição foi engavetada ad vitam æternam.
Os Bakhtiari ocuparam o palácio e tomaram as rédeas do governo até a maioridade do filho de Mohhamad Ali, Ahmad, que assumiu com grande incompetência e foi incapaz de preservar a integridade da Pérsia de seus antepassados.
Durante a Primeira Guerra (1914-18) permitiu, por imediatismo ou ingenuidade, que tropas dos Impérios Russo, Britânico e Otomano impusessem suas vontades e acabou sendo deixado de lado.
Isto foi demais para seus compatriotas, e sua fragilidade facilitou o Golpe de Estado de fevereiro de 1921.

O Golpe foi liderado por um soldado que passou quatro anos suprimindo rivais e arsenais até conseguir que o Congresso o coroasse.
Ele se chamava Reza Khan.
Quando Reza Khan foi coroado xá, seu primogênito Mohammad Reza foi proclamado príncipe herdeiro.
Foi o começo da dinastia Pahlevi.
Ele mesmo governou pouco. De 1925 a 1941.
Destruiu muito do patrimônio arquitetônico da capital, afastou-se dos britânicos e dos soviéticos (após a Revolução de 1917), e era obcecado com a modernização.
Os idosos dizem que é inegável que modernizou o Irã com grandes projetos de infraestrutura. Abriu rodovias, estradas, escolas, reformou o judiciário e melhorou o sistema de saúde.
A educação pública progrediu depressa fazendo emergir novas classes sociais como a classe média e operária, e ele mandou centenas de iranianos, inclusive o prnícipe, estudar na Europa para poderem transformar o Irã em um país industrial e urbano.
E em 1935 deu o golpe final na/s história/s antiga/s mudando o nome do país de Pérsia para Irã.
(Talvez para incluir definitivamente na nação emergente as etnias diversas, e às vezes antagonistas, que compunham o território que suas fronteiras delimitavam.)

Em 1939, quando começou a Segunda Guerra, Reza Khan que nos últimos anos fizera negócios com franceses, alemães e italianos, declarou neutralidade, mas por trás do pano assinou um Tratado Secreto com a Alemanha nazista.
O segredo de Estado que era para ser de abelha virou de polichinelo e os Aliados não perderam tempo com reclamaçõezinhas.
Em 1941 os soviéticos e os britânicos invadiram o Irã, prenderam Reza Khan porque recusou expulsar os funcionários alemães, tomaram controle do petróleo e da rede de estradas e comunicações, e arremataram o Golpe com linha de aço - forçaram Reza Khan a abdicar em favor do filho Mohammad Reza Pahlevi, educado no Instituto Le Rosey na Suiça, ocidentalizado, e com apenas 22 anos. Portanto, maleável.

Em 1942 a Grã-Bretanha e a URSS assinaram um Acordo de respeito à independência do Irã e prometeram evacuá-lo em um período de seis meses após o fim da Guerra - as últimas tropas a voltar para casa seriam as da União Soviética em 1946.
A eleição de 1944 foi a mais disputada da história do país e a democracia exuberou no Majlis.
Nesse ínterim, a Companhia de petróleo Anglo-Iraniana (AIOC), que apesar do nome só pertencia à Grã-Bretanha, continuava a extrair e comercializar o petróleo do "parceiro" que não lucrava nem um rial.
Então, no fim da guerra, o povo decidiu se desfazer desta parceria que só servia aos estrangeiros e pediu com instância a nacionalização da indústia petroleira. Reclamação que desde então foi o cerne do nacionalismo iraniano.
Mohammad Reza, por seu lado, embora tivesse jurado respeito à Constituição e às instituições democráticas, foi tomando gosto pelo absolutismo e como era indeciso, recorreu mais à manipulação do que à liderança para impor seu regime.
Redourou as Forças Armadas se assegurando da lealdade dos generais, baniu o Partido Comunista em 1949 e expandiu seus poderes ao máximo procedendo à caça a bruxas sistemática para assegurar seu reinado.
Contava com conselho e apoio do aliado certo. O presidente dos EUA Harry Truman, que visitara em Washington.
Nomeou Ali Zazmara primeiro ministro e quando este foi assassinado nove anos mais tarde, resolveu nomear para o cargo um político popular, o nacionalista Mohammad Mossadeg.
Mossadeg aproveitou da popularidade pessoal para logo obter do Majlis a nacionalização da indústria petroleira.
A Grã-Bretanha esperneou e recorreu ao artifício do embargo e bloqueio a fim de pôr o Irã de joelhos.
Obstaculou a exportação de petróleo e prejudicou bastante a economia - como os EUA está fazendo com ajuda de seus aliados de agora.
Encostados na parede, os "conselheiros" estrangeiros do Xá o pressionam para que imponha a vontade deles, e na queda de braço com o Primeiro Ministro o Xá, derrotado, foge para Bagdá e de lá, mexe os pauzinhos para voltar usando os artifícios certos para obter apoio militar externo.
No Oriente a popularidade de Mossadeg vai aumentando, ele vira porta-estandarte da resistência dos pequenos contra os grandes, e no Ocidente, o presidente estadunidense Eisenhower, convencido que o primeiro ministro era simpatizante soviético, põe a CIA na trama de um novo Golpe junto com o MI6 britânico.
Enquanto os dois serviços secretos agem na surdina, a Grã-Bretanha, inconformada com a perda do petróleo, mantém as sanções, mas o Irã não entrega os pontos.
Até 1953, quando em plena Guerra Fria e histeria ante-comunista, a "Operação Ajax" anglo-estadunidense quase falha mas no final vinga, Mossadeg é destituído do cargo, preso, e o Xá é recolocado no trono do qual fugira.
É esta ingerência traíra que o Irã até hoje não digeriu e que teme que se repita.

Daí em diante o Xá vira peão explícito da GB e dos EUA no Oriente e o maior amigo de Israel.
Ao ponto de receber ajuda do Mossad na organização da SAVAK, o serviço de informações local responsável por torturas atrozes.
Sem maniqueísmo, alguns lembram que nem todos os atos do Xá são condenáveis - fez alguns programas sociais  bons que culminaram na chamada Revolução Branca de 1963, na qual organizou reforma agrária, estendeu o direito de voto às mulheres e combateu o analfabetismo.
Mas o regime de terror imposto pela Savak (constituída de 60 mil agentes) foi determinante no fracasso da ditadura de Mohammad Reza.
Conseguiu ser odiado tanto pelos religiosos que temiam perder sua autoridade tradicional quanto pelos intelectuais que buscavam reformas democráticas e em troca eram presos e torturados para se calarem. O Terror reinava.
O poder lhe subiu à cabeça ao ponto de em 1967 organizar uma cerimônia de coroação para ser chamado Shah en Shah,  Xá dos Xás, Rei dos Reis.
Em 1971 foi a vez da celebração extravagante de 2.500 anos da monarquia persa.
Sessenta chefes de Estado participaram dos quatro dias de festa no sítio histórico de Persépolis, o banquete foi faustuoso e o brinde de aniversário foi com champanhe Dom Pérignon Rosé 1959, lembra um lacaio.
Os gastos exorbitantes foram condenados por unanimidade, os ânimos foram se exaltando, mas mesmo assim ele ousou ir mais longe em sua megalomania ilimitável.
Em 1976 substituiu o calendário islâmico por um calendário imperial que começava com a fundação do Império persa em 500 AC.
Aí ficou claro que além dos estudantes e intelectuais que já perseguia há anos, visava os grupos religiosos.

Além disso, em 1978, reprimiu a revolta popular com um massacre.
Foi tiro e queda.
Dispersas até então, estas comunidades se uniram em torno de um exilado que catalisava a insatisfação geral e tinha postura do líder que faltava.
Era o Aiatolá Ruhollah Khomeini.

Greves e passeatas se multiplicam, as prisões se enchem de estudantes, operários, ativistas, e a Lei marcial é instituída.
Em janeiro de 1979 a situação se deteriora tanto que o Xá foge com a família para o exílio.
Qatrocentos universitários sequestram funcionários da Embaixada dos Estados Unidos para obter extradição do fugitivo - em tratamento médico nos EUA - para que responda processo pelos crimes e a crise vai além do tempo de vida do Xá, que morre de câncer durante os 444 dias de ocupação da Embaixada.
O sequestro só termina em janeiro de 1981 com a assinatura de um Acordo intermdiado pela Argélia.
Os funcionários estadunidenses são libertados poucos minutos após o juramento de posse do novo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, que começa o governo com aura vitoriosa.
A Revolução foi feita por estudantes que ocuparam as rádios e instituições públicas chave. Porém, primeiro da França e em seguida do Iraque, o Imã Khomeini fomentava a revolta com palavras de ordem, primeiro contra o Xá e depois contra o primeiro ministro Bakhtiar que mesmo assim permitiu que retornasse à pátria.
Em fevereiro o Aiatolá retorna dos 14 anos de exílio e em abril a República Muçulmana do Irã é proclamada por referendum.
Em janeiro de 1980 Abolhasan Bani-Sadr é eleito presidente e começa um vasto programa de nacionalização.


Em setembro de 1980 o Iraque invade o Irã começando a guerra convencional mais mortífera e mais longa do século XX.
Durou até agosto de 1988, e do início ao fim os EUA e a GB forneceram a Saddam Houssein apoio logístico de satélites e o armamento que precisasse.
Mas não foram os únicos que aproveitaram desta guerra em que os corpos não paravam de amontoar-se enquanto os traficantes de armas se esbaldavam.
Os dois países foram infestados de mascates, oficiais e oficiosos, de engenhos militares e munições de todo gênero.
No final das contas, o Irã enterrou 1 milhão de mortos e o Iraque cerca de 350 mil.
O resultado político foi empate.
O resultado moral foi uma cicatriz indelével na alma das nações vizinhas.

Enquanto isto, os Revolucionários religiosos, aproveitando a estrutura repressiva da Savak, se compraziam em encher prisões e ordenar execuções não apenas dos cúmplices do Xá, mas também dos estudantes e intelectuais de esquerda que os tinham ajudado a derrubar o regime esperando construir uma democracia e gozar de liberdade.
Entre 1971-78, o regime do xá Reza Pahlevi executou cem prisioneiros políticos; e no canto do cisne entre 1978-79 a Savak matou 2.781 pessoas.
Segundo ONGs de Direitos Humanos, o Imã Khomeini, entre 1979 e 1985, executou quase oito mil concidadãos e demitiu mais de trinta mil funcionários e professores considerados ocidentalizados demais para seu gosto.
A lista de presos e executados não tem parado de crescer desde a destituição do presidente civil Abolhassan Bani Sadr no dia 21 de junho de 1981, por sua oposição à Guerra contra o Iraque.
Nos últimos anos as execuções têm sido esparsas e as prisões menos fatais, mas a repressão continua presente no país inteiro, sobretudo na capital.
Os aiatolás que governam o Irã são como a linha dura militar que governou o Brasil de 1964-84. A única diferença é que uns vestem túnica preta dos pés à cabeça e os outros farda.
Mas como os nossos militares, há aiatolás "leves" e democratas.
É por isto que cedo ou tarde o poder da linha dura vai esfarelar-se, como o dos Golberys que nos amordaçavam.
Se desse para comparar com a nossa ditadura, diria que o Irã está no finzinho da época Médici e entrando na Geisel. Em que o povo começa a acordar e soltar-se. Figueiredo ainda pode (ou não) demorar um pouquinho, pois a oposição ainda não tem as lideranças políticas e nem os movimentos sociais independentes que tínhamos.
E como no Brasil, para o povo e a nação não serem prejudicados, a vitória democrática tem de vir de dentro, no ritmo nacional e não com intervenção externa.

História encurtada, o Xá já se foi há anos, mas a lembrança do Golpe estrangeiro que o recolocou no poder contra a vontade popular continua na memória dos iranianos.
Concordam com a inspeção nuclear, mas intervenção alheia, nem pensar!
Ali Larijani, porta-voz do Congresso iraniano, disse que os inspetores nucleares das Nações Unidas seriam bem-vindos no país e que esta questão do programa nuclear podia ser resolvida via negociações bilaterais, em vez das sanções comerciais impostas pelos EUA e aliados, e menos ainda por um bombardeio irracional.
E na semana passada Ahmadinejad foi à televisão estatal mostrar ao povo as nove mil centrífugas que estão processando energia nuclear, e os jornalistas locais deram mais informações sobre o progresso doméstico feito nas usinas de enriquecimento de urânio.
Tipo um sopra e o outro bate.
Os EUA consideraram o comportamento de Ahmadinejad "desafiador e provocante", embora fontes fiáveis militares e do serviço secreto estadunidense infiltrados tenham admitido que o Irã não tem arma nuclear, não está construindo arma nuclear e ainda não decidiu se vai ou não investir em armamento além de energia.
Os fatos não importam quando a motivação é ambígua.
A carta que o chefe do projeto nuclear iraniano Saeed Jalili mandou para a União Europeia não podia ser mais clara.
"O Irã está satisfeito com a disposição do grupo P5+1 retomar as negociações a fim de desenvolver uma cooperação."
O P5+1 consiste dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia + Alemanha.
As sanções comerciais impostas ao Irã pelos EUA e a UE são imprecedentes. É uma perseguição sem base nenhuma a não ser intimidação e enfraquecimento para preparar um possível golpe fatal de intervenção militar que desmantele a nação e que os 9% da reserva mundial de petróleo iraniano mude de dono.

Dando seguimento à aparição televisiva de Ahmadinejad, navios de guerra iranianos acabaram de entrar no Mar Mediterrâneo após passar pelo Canal de Suez.
"Para mostrar a potência de Teerã aos Estados regionais", disse o comandante.
Os israelenses logo lançaram os adjetivos "provocação" e "jogo de poder" e avisaram que estarão atentos a este movimento militar naval.
O almirante Habibollah Sayari não confirmou a missão da mini frota, mas informou através da agência oficial de notícias IRNA que "A marinha estratégica da República Islamita do Irã atravessou o Canal de Suez pela segunda vez deste a Revolução."
Segundo a imprensa iraniana, dois contratorpedeiros - Shahid Qandi e Kharg estão no Mar Vermelho desde o dia 4 de fevereiro, e a manobra atual, conforme o Almirante, "tem mensagem de paz"  - e de demonstração de potência militar.
"Vai provar ao mundo que apesar das sanções inimigas dos últimos 33 anos, nossos soldados, obedientes às ordens do Imã Khamenei, continuam a aprimorar suas habilidades acadêmicas e militares."
Em Terrã afirmam que as manobras são de dissuasão e não de provocação. Como em 2011, quando dois navios fixaram âncora em Latakia na Síria mas depois retornaram ao Irã via Mar Vermelho sem causar nenhum dano.
Na época surtiu efeito.
Autoridades israelenses acusam o Irã de orquestrar atentados ante-israelenses na Índia, Georgia e Tailândia.
Mas Tel Aviv não tem provas do que sugere e Teerã em vez de vangloriar-se, nega.
Não está dando nenhuma munição ao ataque programado do inimigo, e por outro lado, o ministro das Relações Exteriores da Inglaterra, William Hague, já disse em alto e bom som que atacar o Irã custaria muito caro e que seu país não advogava a favor de ação militar neste sentido.
A população inglesa menos ainda. Sairia às ruas como contra o bombardeio do Iraque e desta vez não se deixaria enganar por mentiras.

Este bombardeio anunciado e premeditado, além do objetivo do petróleo, tem o do desejo de Israel permanecer o único detentor da bomba atômica na região para continuar a dominar à vontade.
A parte ínfima de israelenses que raciocina em macro sabe que o Irã não está atrás de nenhuma erradicação nuclear, mas sim de um poder de barganha que o tire da mercê alheia e o proteja de retaliações aleatórias e dos atentados de Estado que vem sofrendo em casa.
Que de certa forma provam que o Irã não é assim tão fechado.
Um atentado terrorista similar em Tel Aviv seria impossível e impensável.
É a certeza da vulnerabilidade imposta pela inferioridade bélica que leva Teerã a querer nivelar-se (no caso, por baixo) em vez de proceder a métodos ineficazes de guerrilha como os usados pelo Hezbollah.
Concluindo esta parte, tenho certeza que ninguém que tenha informação fidedigna pode afirmar hoje, com certeza, que o Irã está fabricando uma bomba nuclear. Nem que o ataque Israel-EUA é iminente.
Nem os repórteres israelenses bem informados.
Pois hoje estes colegas estão na mesma situação que os estadunidenses no pré-ataque ao Iraque em que o governo os alimentava com contra-informação que servisse sua determinação de bombardear Bagdá - chegando ao extremo de forjar provas de armas fantasmas. Provas estas que levaram a imprensa a apoiar uma intervenção da qual muitos discordavam.
Os jornalistas íntegros de Tel Aviv sem dúvida se perguntam, a cada palavra que escrevem, se estão trabalhando para o jornal e os leitores ou para os propósitos bélicos do governo de extrema-direita.
Separar o joio do trigo não é fácil.

Sítios nuclerares iranianos
Trocando em miúdos, embora não faltem suspeitas que o Irã esteja a caminho da famigerada bomba, nenhuma é fundamentada em prova.
Os gritos de alarme de Binyamin Netanyahu não são nem um pouco fiáveis, já que desde 1995 que vem anunciando que "daqui a dois anos o Irã a bomba nuclear iraniana estará pronta!"
E até hoje nenhuma informação interna vazou como em 1986 o israelense Mordechai Vanunu descreveu para o planeta a bomba atômica que seu país fabricara na surdina com cumplicidade passiva (uns dizem que ativa) de Henry Kissinger; que além disso, celou contrato de confidencialidade sobre o artefato destrutivo.

Nos parâmetros do Tratado de Não-proliferação Nuclear que o Irã assinou e outros países que têm armas nucleares, não, seu programa de enriquecimento de urânio é legal e por enquanto irrepreensível.
Dito isto, os aiatolás não são ignorantes  nem cegos.
Viram como vimos que na Coreia do Norte, detentora recente de bomba atômica, Kim Jong morreu de morte natural; o que não foi o caso de Gadaffi na Líbia.


Além disso, qualquer Serviço Secreto que se preze sabe que o Irã tem dissenssões internas graves que extrapolam as "simples" questões de oposição ao regime autoritário.
Como mostra o mapa ao lado, é a própria hegemonia persa que poderia ser contestada e destruir a  homogeneidade nacional.
A mudança do nome do país para Irã não foi por acaso, mas sim bem pensada.
Quem está fazendo tudo para jogar ... no ventilador, sabe, ou tem suspeita fundamentada, que a nação iraniana é um colosso com pés de barro, como o Iraque.
De religiões e/ou etnias díspares que se antagonizam em menos ou maior grau.
A tolerância reina porque os persas (51%), os azerbaijanos (23%), os gilakis e mazandaranis (7,5%), os kurdos (7%), os árabes (3%), os baluchis (2%), os lures (2%), os turcomenos (2%) e as minorias armênias, georgianas, turcas, pashtunes, bakhtiares, assírias, circassianas, talyshes, judias, ciganas-koelis são obrigadas a tolerar-se e conviver pacificamente.
Mas ninguém garante que na primeira oportunidade não se atraquem como lobos, como estão fazendo uns e outros no Iraque.
É questão de identidade, cultura distinta agravada por pressões dos vizinhos fronteiriços com afinidade étnica e religiosa, desejo de preservar o próprio território, ganhar espaço, e se possível, dar as cartas, no lugar dos persas maioritários. Mas não o bastante para dominar incondicionalmente.
É isto que preocupa os intelectuais iranianos "revolucionários" de 2009.
Têm consciência que o processo democrático tem de ser interno e emanar de todas as comunidades para que a Assembleia Constituinte com que sonham inclua, pelo menos, representantes das etnias predominantes.
Uma intervenção externa seria um desastre e deixaria o país desmembrado e fraco.
À mercê dos cartéis internacionais que estão predando a Líbia e predaram o Iraque.
O show televisivo de Ahmadinejad na semana passada e a frota que transita nos mares fronteiriços não foram e não são (só) para "inglês ver".
É também uma mensagem interna. Para mostrar ao povo que (ainda) está no controle.

Pois Binyamin Netanyahu calculou bem o golpe de morte contra o cientista iraniano no mês passado.
Primeiro, esperava que Ahmadinejad reagisse ao atentado humilhante na própria capital com um mais espetacular que permitisse retaliação contundente dos EUA.
Netanyahu sabe que os países árabes que alojam bases americanas jamais reagiriam e conta com a memória curta da mídia de  quem atacou primeiro e com que desproporção bélica.
A História do mundo está aí para provar que Leon Tolstói estava certo no tratado de história que desenvolve no último capítulo de Guerra e Paz.
Mas este é outro conto. Dramático, mas literário.

Voltando ao conto iraniano, a Arábia Saudita quer mais é ficar livre de seus dois rivais regionais Irã e Síria e vai sempre tomar o partido dos EUA cujo arsenal local é um dos maiores fora.
A segunda motivação de Netanyahu para assassinar Mustafá Roshan - além da ilusão de que cortando cabeça por cabeça vai matar o que considera a Hidra de Lerna - foi esperar que o Irã fechasse o Estreito de Hormuz como vive ameaçando.
Os danos financeiros que isto causaria às economias do "Primeira Mundo" seria intolerável e faria com que Obama, em ano eleitoral complicado, e o Congresso estadunidense não deixassem este "ato terrorista" passar batido.
Que seja ponto pacífico entre os membros do G8 que o primeiro ministro de Israel é mentiroso de carteirinha não tem importância nenhuma. O que ele diz é lei e seus desejos são ordens prontamente cumpridas.
Os colegas do New York Times rotulam Netanyahu de singularly influencial, o que em linguagem crua significa mais do que todos os lobistas reunidos em Washington e nas capitais europeias.
Além de autoritário e debochado ele é mal-agradecido.
O presidente dos EUA faz tudo o que ele sonha e exige, mas mesmo assim o desgosto de Obama por ele é recíproco e ele gostaria de ver um republicano em Washington em vez do democrata que lhe custa caro em lobbying e que embora o obedeça cegamente na questão palestina o despreza "quase" abertamente.


Ambos candidatos republicanos que continuam no páreo são sionistas confessos, talvez mais por pragmatismo econômico do que por convicção ideológica - se tiverem alguma que vá além do poder e do vil metal que o financia.
Rick Santorum e Mitt Romney (que faz parte do 1% e que acha normal pagar U$6 milhões de impostos que correspondem a só, somente só, 13% de sua renda bilionária) estão bem cobertos financeiramente. Sobretudo o segundo, que foi ao socorro de Netanyahu quando vazou no programa francês Arrêt sur Image a gravação de um Obama cansado de aturá-lo.
Barack Obama é cúmplice do desmando de Israel no Oriente Médio, mas às vezes pensa em macro além de micro; pragmaticamente.
Tanto que ao saber do assassinato do cientista de 32 anos, ordenou que seu serviço diplomático distanciasse imediatamente os EUA do atentado terrorista e há pouco comunicou-se diretamente com Teerã para lembrar Ahmadinejad dos interesses diretos estadunidenses no Estreito de Hormuz.
Por mais que Netanyahu se esforce, embora Obama mantenha a tradição da Casa Branca de não pedir contas a Israel de suas bombas nucleares (nem deixar nenhum país insinuar uma inspeção das usinas de lá ou questionar a segurança do mundo por causa delas), o presidente dos EUA ainda não está em pé de guerra contra o Irã.
E se Londres mantiver a posição do não bombardeio que exige a população e a opinião pública estadunidense não clamar demonstrar bélica da potência EUA nas próximas semanas, Netanyahu terá de esperar o resultado das eleições estadunidenses para levar a cabo seu projeto de bombardear Teerã.
Cercado de verdade ou paranóico?
Em Tel Aviv, muitas autoridades militares e de espionagem volta e meia deixam escapar palavra e frase que demonstram desacordo com um eventual ataque.
Não que queiram evitar que dezenas de civis iranianos padeçam de morte instantânea e milhares, ou milhões, de outros de morte paulatina causada por ferimentos e radiações.
Temem não conseguir defender território e concidadãos das represálias óbvias.
Todos vão ter de esperar um pouquinho.

Sítios nucleares iranianos

                                                                Usinas nucleares militares de Israel

Documentário da BBC:  Israel's Secret Illegal Nuclear Weapons


Documentário BBC : Iran Undercover - Inside the Hidden Revolution
A jornalista irano-canadense Kahra Kazemi fez várias viagens em que mostra o quotidiano oprimido e reprimido do povo iraniano em 1993.
Excelente.


Filme de animação: Persepolis
De Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
Baseado no libro autobiográfico de Marjane, o filme de 2007 segue sua vida em Teerã antes e após a Revolução Islamita e termina quando ela se expatria aos 24 anos.
O nome é uma referência à antiga capital persa Persépolis.
E para entender melhor a cultura iraniana por dentro, sem nunca ter pisado no Aeroporto Internacional Imã Khomeini, o cinema atual a retrata bem.
Além disso se assemelha, em poesia e realidade, ao Neorealismo Italiano pós-guerra.
A lista de filmes dos cineastas abaixo não é exaustiva. Apenas alguns mais fáceis de encontrar fora do país.
Os roteiros, como no Brasil dos militares, são submetidos a censura. É por isto que todas as mulheres usam hidjab inclusive em casa.
Na realidade só as mulheres das classes sociais mais baixas e da população menos educada usam burqa ou lenço em lugar fechado; muito menos em casa. Mas os diretores são obrigados a respeitar esta imposição e outras para que seus filmes saiam.
Mesmo assim contornam a censura de várias formas sutis que são em si uma forma de resistência ativa junto ao público nacional que entende a imagem, a analogia, a metáfora.
Como no Brasil com as músicas do Chico, Gonzaguinha, João Bosco e outros da mesma qualidade.

Abbas Kiarostami é o mais célebre. Vedado a fãs de filme de ação.
Koker Trilogy
The Taste of cherry
The Wind will carry us
Ten
Shirin




Asghar Farhadi (http://asgharfarhadi.com/)
Low Heights
Beautiful city
Fireworks Wednesday
About Elly
A separation

Bahman Godhavi
A Time for Drunken Horses
Marooned in Iraq

Turtles Can Fly
Half Moon 2006
No One Knows About Persian Cats 
Rhinos Season




Bahman Farmanara
Ficou proibido de trabalhar durante 22 anos e recomeçou em 2000.
Smell of Camphor, Fragrance of Jasmin
A House Built on Water
A Teensy Kiss
The familiar soil




Dariush Mehrjui
The Cow
The cycle
Hamoun
Sara
Pari
Leila
To stay alive
Santori


Jafar Panahi
The White baloon, um dos melhores filmes infantis que já assisti
Crimson Gold
The Mirror
The Circle
Offside
This is not a film (documentário sobre sua prisão domiciliar após os problemas que teve com Offside)


Kambuzia Partovi
Border cafe







Majid Majidi (http://www.cinemajidi.com/)
A Day with POWs - documentário
Baduk (excelente abordagem de escravidão infatil)
Father
Children of Heaven
The Color of Paradise
Baran (Rain)
Bare foot to Herat - documentário sobre refugiados afgãos
The Willow Tree
The Song of Sparrows
Kashmir Afloat


Mohsen Makhmalbaf (http://www.makhmalbaf.com/persons.php?p=6)
Boycott
The Street Vendor
The Bicyclist
The Marriage of the Blessed

Once Upon a Time, Cinema
Gabbeh
A Moment of Innocence
 Blackboards
 The Silence
     Tales of Kish
Test of Democracy
Kandahar - Safar et Ghandehar
Colder Than Fire
Sex & Philosophy
Chair
Poet of wastes
Scream of the ants
The Man Who Came With the Snow

Entrevista Al Jazeera com o rabino Dovid Weiss:
Zionism has created 'rivers of blood'

"The public almost automatically associates Jews and Israel.
The press continues to refer to "the Jewish State."
Israeli politicians often speak "in the name of the Jewish people."
Yet the Zionist movement and the creation of the State of Israel have caused one of the greatest schisms in Jewish history.
- Yakov M. Rabkin, 2006, no livro A threat from within: New book describes a century of Jewish opposition to Zionism


Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;