O título de hoje está em hebraico e em alfabeto latino porque em português não tem nenhuma palavra tão forte quanto chutzpah para demonstrar indignação com atos e pessoas que ultrapassam as fronteiras do admissível. Que pisaram na bola feio. Que fizeram algo indígno.
A foto acima não tem nada com o título, é apenas uma das ilustrações da nova campanha unhate da Benetton, que está surtindo o efeito do escândalo esperado para lembrar o mundo da marca.
O meu chutzpah! é para o Knesset e o governo de Binyamin Netanyahu, por sua política de limpeza étnica e de escalada de conflito com os palestinos, mas também por tolher a liberdade des seus próprios concidadãos lúcidos e responsáveis.
Após a lei que proíbe e pune o exercício do boicote, aprovada em julho, acabaram de aprovar mais uma lei que restringe os direitos cívicos e cauciona os atos nocivos da ala extremista.
A Funding Prohibition Bill nega às ONGs de Direitos Humanos o direito de aceitar contribuições de instituições estrangeiras, inclusive governos.
Em teoria, segundo seus ideólogos, esta lei foi concebida “para impedir interferência externa na política do Estado de Israel”.
Porém, de fato, ela visa apenas as ONGs que criticam a política socio-econômica nefasta do governo e sua campanha de ocupação da Cisjordânia.
Os israelenses democratas estão mais do indignados com mais esta restrição à liberdade, após, entre outras proibições recentes, terem sido impedidos de exercer o direito de boicote a produtos ilegais procedentes do Vale do Jordão invadido.
A hipocrisia desta lei é tão gritante que se as medidas do governo de Netanyahu para tolher a liberdade dos cidadãos não fossem tantas, a justificativa dos ideólogos desta lei seria até risível.
Para começar, enquanto proíbe que as ONGS de Direitos Humanos recebam fundos para não aprovados pelo governo, Israel, através da AIPAC, seu lobby em Washington, interfere sem vergonha na política doméstica estadunidense. Tenta influenciar os votos dos parlamentares e, mais grave ainda, por meios de conchavos e pressão um tanto invasivas e agressivas, tenta influenciar inclusive as eleições dos membros do Congresso e do presidente dos Estados Unidos.
E dentro de suas fronteiras, veda a entrada de dinheiro para Direitos Humanos, mas para controlar a informação e expandir as invasões na Cisjordânia abre as portas para que entre fundos em aluvião.
Sheldon Adelson, sinonista extremista estadunidense que fez fortuna no ramo imobiliário e em casinos, continua a ser porta-voz de Netanyahu em seu jornal Israel HaYom (Israel Today) de Tel Aviv, cujos 39.3% de leitores fazem deste o jornal mais lido de Israel por razão óbvia, sobretudo em tempo de crise - é gratuito. Adelson usa seus fundos estrangeiros para destilar diariamente o veneno da propaganda de extrema-direita da brava na população menos intelectualizada.
E o outro extremista Irving Moskowitz, magnata do bingo e de casinos na Costa Oeste dos EUA, continua financiando as colônias judias ilegais em Jerusalém como se a terra fosse dele.
Faz vinte anos que Moskowitz tomou a frente das contruções das colônias de Jerusalém Oriental, na Cisjordânia. Ele faz parte do grupo dos piores inimigos públicos, que estão investindo na limpeza étnica em vez da negociação pacífica.
Os israelenses estão perdendo, pouco a pouco, por vias legislativas, uma de suas prerrogativas mais caras e da qual mais se orgulhavam desde a criação de seu Estado: a Democracia.
Enquanto os primos semitas se emancipam nos países vizinhos, os israelenses parecem estar atolando cada vez mais no autoritarismo.
Chutzpah! também para o governo "provisório" do Egito por ter disputado com os manifestantes a gás e bala a posse da praça Tahrir neste sábado.
Milhares de policiais foram mobilizados contra os manifestantes de todas as religiões e classes sociais que se juntaram na praça na sexta-feira para protestar contra a lentidão das mudanças. Parecia que Hosni Mubarack, banido em fevereiro, tinha retornado à ativa através do general Mohamed Hussein Tantawi (blog 06/02/11), o amigo "fiel" que o susbituiu no poder do qual os egípcios querem que ele se afaste.
Sabem que só com Tantawi descartado é que conseguirão o direito de voto que buscam, o direito de eleger um presidente realmente democrata.
Os peões de Tantawi deixaram mais de seiscentos feridos estendidos na praça Tahrir e um morto.
Os jovens de Suez e de Alexandria logo foram para as ruas em solidariedade aos concidadãos do Cairo e também foram reprimidos.
Enquanto a máquina repressiva de Mubarack estiver montada e o general Tantawi estiver no comando, o Egito não vai chegar à democracia.
Chutzpah! também para Bashar al-Assad.
Na Síria, o povo continua nas ruas das cidades exigindo reformas e enquanto isto, Assad conseguiu aumentar o prazo dado pela Liga Árabe.
Para quê?
O que está fazendo de concreto para mudar a estrutura repressiva que vigora no país há décadas?
Não se sabe.
O que se sabe é que concorda com a presença de 40 observadores, em vez dos 500 propostos pela Liga Árabe, para que vistoriem o país e avaliem in loco a situação em que o país se encontra.
Digam o que disserem, vai se difícil, se não impossível para Assad continuar nas rédeas de um país que seu regime repressivo levou a esta revolta de proporção dificilmente controlável.
Chutzpah! também a Ali Abdullah Saleh.
Assad não é o único nem o pior inimigo da democracia nos países árabes. No Yêmen, apesar da presença do negociador enviado pelo Conselho de Segurança da ONU, as passeatas continuam e a repressão de Ali Abdullah Saleh não arrefeceu nem um pouquinho.
E lá também, como na Síria, soldados e oficiais do Exército começaram a abandonar o navio e usar o arsenal com o qual ficaram para proteger o povo nas passeatas.
Por que será que a Liga Árabe não fala em enviar observadores a Saana e às cidades do interior em que tantas perdas humanas já foram denunciadas?
Chutzpah! também a Hamad bin Isa al-Khalifa.
No Bahrein que ele dirige desde 1999, primeiro como Emir e depois como Rei, há seis meses que os protestos não param, embora na imprensa pouco se fale.
Tanto na capital Manama quanto no interior do país as passeatas não acabaram.
O país é pequeno, mas tem grandes recursos bélicos para usar na repressão do povo que pede: uma nova constituição democrática e direito de eleger seus representantes nos poderes legislativo e executivo, entre outras reformas democráticas.
O Bahrein, como o Yêmen, são governados com mãos tão ou mais fortes do que na Síria, mas os donos do poder, em ambos os países, têm Washington como padrinhos e contam com a cumplicidade dos dirigentes árabes que conseguiram, de uma maneira ou de outra, controlar as revoltas domésticas antes que ficassem incontroláveis.
Daí os dois pesos e duas medidas, em relação à Síria, tanto no espaço na mídia quanto na indignação explícita ocidental.
Reservistas da IDF Breaking the Silence
For over 20 years Israel has expanded by force of arms. After every stage in this expansion Israel has appealed to “reason” and has suggested “negotiations”. This is the traditional role of the imperial power, because it wishes to consolidate with the least difficulty what it has already taken by violence. Every new conquest becomes the new basis of the proposed negotiation from strength, which ignores the injustice of the previous aggression. The aggression committed by Israel must be condemned, not only because no state has the right to annexe foreign territory, but because every expansion is an experiment to discover how much more aggression the world will tolerate.”
Bertrand Russell, 1970, in Bertrand Russell's Last Message
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