domingo, 25 de dezembro de 2011

Vinde a mim as criancinhas



Este parêntese natalino nos conflitos é para responder uma pergunta que me fazem amiúde.
A curiosidade sã que manifestam é sobre a ilustração de um menino que povoa as imagens de resistência & sofrimento dos palestinos.

Não é um menininho risonho, faceiro, mas enternece todos os que o veem. 




Ele se chama Handala.



Pronunciado Hanthala, Hanzala, Handhala, e em português, Randala.


Handala é criação do artista palestino Naji Salim Husain Al-Ali
e nasceu no Koweite para o jornal al-Siyyasa.


O nome desta personagem viva que virou emblema da Palestina
deriva de uma planta chamada handhal, em árabe.



Planta resistente, de raízes profundas e com capacidade de regenerar-se quando extirpada.

Handala é um garotinho horrorizado com a injustiça adulta e não cresce nunca;
como a personagem do Tambor, do escritor alemão Günther Grass.


Não cresce porque Naji al-Ali foi desraizado de sua cidade natal al-Shajarah -
entre Nazaré e o Mar da Galileia - com 10 anos, e é com esta idade que retornará ao lar.

Shajarah significa "árvore" em árabe.
A cidade de Naji e seus ancestrais foi destruída em 1948, na Naqba.

Shajarah foi batizada em homenagem a Jesus Cristo.
Ele lá sentou-se com os apóstolos sob uma árvore.
A caminho de Nazaré; quando foi rejeitado.


Shajarah foi destruída por grupos para-militares sionistas junto com outras 480 cidades palestinas
 cujos habitantes foram massacrados ou engrossaram a diáspora.
Como Naji e seus pais.

A família de Naji conseguiu escapar deixando para trás fazenda cultivada, vida despreocupada,
para acabar na miséria total em um campo de refugiados.
No Líbano, em Ein al-Hilwah.

E mais tarde, em Chatila.
Tristemente célebre por causa do massacre do qual mais tarde seria alvo.

Foi na escola,
sagrada para os palestinos,
que Naji começou a desenhar.


Seu talento o levou à Academia de Arte do Líbano.

Não conseguiu formar-se.

Suas atividades político-artísticas o levaram ao cárcere.

Nessa época assinava seus desenhos Naji.


A partir do nascimento de Handala,
deixou de assinar seus desenhos porque viraram símbolo universal de resistência.


O garotinho desajeitado, descalço, maltrapilho, de cabelos esparsos, virou sua própria imagem.

Mais do que isto.
Passou a retratar todas as crianças apátridas que vivem o drama da Palestina desde a Naqba. 

Naji foi assassinado em Londres, em 1987.

Um assassinato político covarde, encomendado, que nunca foi solucionado.


Ele incomodava muita gente, é claro.

Por causa de Handala.

E como Jesus Cristo, crucificado pelo Sinédrio para ser esquecido,
mas que para sempre será lembrado,
através de sua obra e de seu exemplo de resistência ativa através da arte,
Naji ficou para a posteridade.
Graças a Handala.
Que até hoje resiste à limpeza étnica da Palestina
e inspira milhares de compatriotinhas a avançar, de cabeça alta.  

Prova que talento bem utilizado,
para atos desinteressados,
de solidariedade e generosidade,
nos aproxima Dele através de Sua mensagem e nos dá asas e longevidade.

Como todas as pessoas iluminadas por missão maior do que elas, 
Handala é Naji e Naji é Handala.

E no espírito natalino de fraternidade universal, somos todos Handala.

Maltrapilhos;
sem carteira de identidade;
mas com raízes tão profundas,
com uma cultura tão arraigada,
com um amor tão grande pela terra de nossos ancestrais,

que velamos pela chave de casa e alimentamos a esperança de um dia voltar.
E encontrá-lo lá.

Boa sorte, Handala!
Feliz Natal!   

"The child Handala is my signature, everyone asks me about him wherever I go.
I gave birth to this child in the Gulf and I presented him to the people.
His name is Handala and he has promised the people that he will remain true to himself.
I drew him as a child who is not beautiful; his hair is like the hair of a hedgehog who uses his thorns as a weapon.
Handala is not a fat, happy, relaxed, or pampered child.
He is barefooted like the refugee camp children, and he is an icon that protects me from making mistakes.
Even though he is rough, he smells of amber.
His hands are clasped behind his back as a sign of rejection at a time when solutions are presented to us the American way."
Handala was born ten years old, and he will always be ten years old.
At that age, I left my homeland, and when he returns, Handala will still be ten, and then he will start growing up.
The laws of nature do not apply to him.
He is unique.
Things will become normal again when the homeland returns.
I presented him to the poor and named him Handala as a symbol of bitterness.
At first, he was a Palestinian child, but his consciousness developed to have a national and then a global and human horizon.
He is a simple yet tough child, and this is why people adopted him and felt that he represents their consciousness."
Naji 



We should live our lives as though Christ was coming this afternoon.
My faith demands - this is not optional - my faith demands that I do whatever I can, wherever I can, whenever I can, for as long as I can with whatever I have to try to make a difference."
Jimmy Carter
Roger Waters  do Pink Floyd canta pela Palestina: We shall overcome


Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
 

domingo, 18 de dezembro de 2011

Israel vs Palestina: História de um conflito II (1948-1967)


Primeira diáspora palestina, em 1948, fugindo dos massacres

The Times de Londres relata de Beersheba que "as cidades palestinas estão desertas, as casas pilhadas e muitas queimadas. Os habitantes escaparam. Ninguém sabe, ou aparentemente se importa, onde foram parar. É óbvio que fugiram em pânico deixando até roupas e cobertores tão necessários para sobreviver nas noites frias das colinas de Hebron".
E a limpeza étnica continuaria.
O cientista Chaim Azriel Weizmann, nascido na Rússia, formado na Alemanha e Suiça, professor universitário em Londres, foi o primeiro presidente de Israel.
O exército israelense, IDF (Israeli Defense Forces), acabou entrando na ativa e as brigadas para-militares sionistas foram extintas e seus membros incorporados no exército regular.
Apesar da profissionalização militar, o treinamento continuou a ser quase o mesmo de antes com a doutrinação e os objetivos de conquista.
O oficial Ariel Sharon logo se sobressaiu com seu Batalhão 101, continuando a prática do Irgun de atacar à noite, na surdina (que a IDF manteve e aplica até hoje), a fim de pegar a população dormindo, desprevenida e assegurar o máximo de perdas em menos tempo possível.

No dia 17 de setembro de 1949 os palestinos perdem sua única oportunidade de sobreviverem a esta catástrofe com menos perda e com dignidade. O representante da ONU, o conde sueco Bernadotte que tinha a missão de investigar os massacres e as condições de vida dos nativos, foi assassinado pelo grupo para-militar sionista Stern. Foi uma execução sumária que não sofreu nenhuma represália da recém-criada Organização das Nações Unidas justamente para assegurar a justiça entre os povos e novos genocídios como o cometido pelos nazistas. Mas não, um novo genocídio estava em marcha. E este estava sendo e seria cometido justamente pelas vítimas. E a ONU deixaria.

    

O primeiro massacre que Chaim Weizman comandou foi na noite de 14-15 de outubro de 1953.
Sob suas ordens, 600 soldados cercaram a cidade de Qibya e metralharam indiscriminadamente as casas enquanto outras tropas se dirigiram aos vilarejos próximos para impedir que socorressem os vizinhos.
O ataque terminou às 4 horas da madrugada.
Ao amanhecer, 56 casas, a escola e a cisterna tinham sido destruidas e 67 corpos inanimados jaziam nos paralelepípedos junto com os feridos.
Ariel Sharon declarou que as ordens eram claras e tinham sido cumpridas, Qibya tinha de servir de exemplo para quem quisesse ficar em vez de aderir à diáspora e deixar aos imigrados israelitas o campo livre.
As Nações Unidas condenaram o massacre, mas não impediu que reincidissem.

Três anos mais tarde, no dia 29 de outubro de 1956, foi a vez de Kafr Qasim.
Às 16:30 o prefeito foi informado por um sargento da IDF que estariam sujeitos a um toque de recolher às 17 horas, e este argumentou em vão que seria impossível avisar os 400 homens que trabalhavam fora, em apenas meia hora.
Ignorando o que estava acontecendo, os trabalhadores foram recebidos a bala ao voltarem para casa.
Só sobreviveram os que tiveram tempo de escapar da tocaia e se esconderem em outras cidades. O balanço final foi de 49 mortos e muitos feridos.
Documentário de Dorothy Thompson : Sands of Sorrow
sobre os refugiados palestinos vítimas da Naqba (1950)

Por causa dos massacres sucessivos (e interesses pessoais dos países envolvidos), as tentativas de transformar o Armistício assinado em 1948 em Tratado de Paz foram vãs, pois Nasser insistia no retorno das vítimas da diáspora e Israel estava irredutível.
Com o coronel Gamal Abdal Nasser, que acedeu à presidência em 1954, ficou claro que o Egito não pretendia deixar os israelenses à vontade para exterminar os vizinhos árabes, e temendo pela cobiça israelense do Sinai, resolveu usar o potencial de persuasão que tinham.
Foi então que Nasser impediu que os israelenses acedessem ao Canal de Suez e bloqueou o Estreito de Tiran (caminho para o Mar Vermelho).
Seu plano foi por água abaixo porque devido à sua personalidade forte, nem os franceses nem os ingleses estavam satisfeitos com a independência que manifestava. Por isto, em uma reunião em Sèvres, na França, dirigentes dos três países assinaram um Tratado que estabelecia que Israel atacaria o Egito e assim daria a desculpa que as duas potências queriam para intervir.
Dito e feito.
O Egito só conseguiu resistir dois meses à investida de Israel com apoio pesado das duas potências europeias.
No final do que é conhecido como a Segunda Guerra Israelo-Árabe, Israel invadiu a Península do Sinai e a Faixa de Gaza.
Por pressão da ONU acabou deixando o Sinai e após pressão maior ainda, retirou-se de  Gaza dois meses mais tarde.

Enquanto isto os palestinos entenderam que tinham de organizar-se para serem ouvidos e em 1964 a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) foi criada. 
Porém, seu presidente Ahmed Shuqeiri escutava mais Nasser do que os palestinos que a OLP representava.
Sua gestão seria encurtada por uma nova guerra.
Esta também foi orquestrada pelos padrinhos de Israel, que lhe prometeram mundos e fundos, após a vitória óbvia.
  
Insatisfeito com a presença estrangeira no Egito, o pragmático Nasser tinha formado um exército unitário com a Jordânia e a Síria e voltou a fechar os Estreitos de Tiran para que o escutassem.
A resposta foi fulminante e a guerra não durou nem uma semana.
É a conhecida Guerra dos Seis Dias.
Os aviões franceses fizeram o trabalho a que vinham, os Estados Unidos forneceram o abastecimento necessário à artilharia e em gazolina, e os árabes não tiveram tempo nem de entender o que os atingia.
No sétimo dia, Israel ficou com a Península do Sinai e com a Faixa de Gaza, que oficialmente tirou do Egito; com a Cisjordânia, que (oficialmente) tirou da Jordânia; com as Colinas de Golã, que tirou da Síria, e portanto, com direito de vida e morte sobre uma população de um milhão e meio de seres humanos.
Os palestinos foram os grandes prejudicados. 

A partir daí a Cisjordânia adquiriu o nome de Territórios Ocupados e em Tel Aviv começou o debate dos pró e dos contra a anexação pura e simples das terras palestinas.
A bem da verdade, tirando os Comunistas e outros pequenos grupos políticos inexpressivos, a divisão era mínima.
Poucos isralenses se opuseram à anexação da Cisjordânia e de Gaza e menos ainda à lei aprovada no Knesset que declarava Jerusalém "completa e unida" eterna capital de Israel.
Como se a terra e as cidades às quais se referiam fossem vazias.
Logo depois do Sétimo Dia, começou o movimento de ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza com o consentimento tácito de todas as forças políticas israelenses.
Os primeiros colonos foram apoiados pela Esquerda tanto quanto pela Direita.
E desde então, todos os governos cultivaram e extenderam as colônias/assentamentos, pois elas representavam a viabilização do sonho que virou pesadelo, do Grande Israel que invade toda a Palestina do Mediterrâneo ao Mar Morto. Do Líbano ao Egito.
Estradas longitudinais para uso específico dos colonos foram construídas, os recursos hídricos dos palestinos foram usurpados para que os judeus vivessem de maneira confortável, e as construções foram ininterruptas, apesar dos discursos contrários.
Esperavam que os palestinos se submetessem calados e qualquer resistência era, literalmente, esmagada.
A ONU condenou mais uma vez o êxodo de mais 350 mil palestinos, deixados sem teto e sem terra, mas acabou se calando e ajudando a construir mais campos de refugiados, em vez de tomar medidas que impedissem a política expansionista de Israel.
Enquanto isto, Israel importava cada vez mais judeus europeus para povoar as casas recém-erguidas em cima dos escombros de construções ancestrais.
A resposta dos palestinos foi começar uma organização militar que realizava ataques artesanais de guerrilha contra objetivos militares.
A retaliação de aviões de combate, artilharia pesada, prisões arbitrárias, embaraçava a ONU com o problema que havia criado, mas sob pressão dos lobbys que exploravam o sentimento de culpabilidade dos governos europeus e a consciência cristã européia, Israel continuou intocável.

Muitos israelenses acham que a Guerra dos Seis Dias é a fonte de todos os males de seu país.
Que foi então que passaram de um Israel progressista a um Israel conquistador e expansionista.
Na verdade, em sua independência proclamada unilateralmente, Israel se apropriou de 55% do território da Palestina. Em 1948, de mais 23%. Em 1967 ocupou os 22% que restavam além da Linha Verde.
Ocupação ilegal, é claro. Segundo a Organização das Nações Unidas.
Muitos observadores do conflito discordam que a Guerra dos Seis Dias seja responsável por todos os males. Argumentam que ela só mudou as circunstâncias e em nada a essência dos objetivos do Movimento Sionista. De certa forma, este manteve a coerência do que buscava desde a Naqba de 1948: conquistar um Estado Judeu na marra, expansão e assentamentos que, para eles, inviabilizassem um Estado Palestino.
Não contavam com a resistência que iam encontrar no povo abatido, mas determinado a não baixar os braços.
Al-Fatah, Movimento Nacionalista de resistência, dirigido por um jovem chamado Yasser Arafat, lhes restituiria a esperança que um dia deixariam de ser apátridas.


Documentário israelense: Six Days in June - The War that redefined the Middle East
De Ilan Ziv, Stephen Phiwicky, Yan Raveh.

“What cause have we to complain about their fierce hatred to us? For eight years now, they sit in their refugee camps in Gaza, and before their eyes we turn into our homestead the land and villages in which they and their forefathers have lived.” 
General israelense Moshe Dayan, em 1956

Reservista da IDF, forças de ocupação da Palestina,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1
 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements.
    

domingo, 11 de dezembro de 2011

Israel vs Palestina: História de um conflito I (1900-1948)



A Palestina antes de 1946
Dando sequência ao prólogo do domingo passado, começo a traçar uma cronologia sucinta do conflito entre Israel e Palestina a partir do início do Século XX, em vez de voltar à época pré e logo após Jesus Cristo.
Quando o livro fundador do Sionismo, "O Estado Judeu", foi publicado em 1896, tinha apenas doze mil judeus na Palestina, bem integrados, inclusive falando árabe. Theodore Herzl, o criador do Movimento, nessa época advogava que o Estado Judeu fosse estabelecido na Argentina.
Em 1897, Basle, Suíça, sediou o primeiro congresso sionista e estabeleceu a Organização Mundial Sionista (WZO).


O quarto congresso da WZO foi em 1904 e determinou que a Argentina, até então, "Terra Prometida", seria o Lar Nacional para os judeus.
Dois anos depois o WZO voltou atrás, talvez por recusa dos nossos vizinhos, e foi só então que pensaram em instalar-se na Palestina.
Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha prometeu a independência das terras árabes, inclusive da Palestina, então sob controle do Império Otomano, se os árabes os apoiassem contra a Turquia, então aliada de Hitler.
E devido ao incentivo da WZO e à perspectiva de libertação do país, a imigração judia aumentou para 85.000 pessoas que chegaram falando iídiche - língua hebraico-eslavo-alemã escrita em caracteres hebraicos, falada pela comunidade asquenazita (derivado de Achkenaz, um dos netos de Noé) e hoje, por judeus ortodoxos inclusive em Israel.



Em 1917, a Grã-Bretanha derrotou o Exército Otomano e conquistou a Síria e a Palestina, naquela campanha militar em que o oficial T.E.Lawrence (conhecido como Lawrence da Arábia) incitou os árabes a defender seu território.
O primeiro ministro da Grã-Bretanha era Lloyd George e sua campanha militar foi uma Cruzada moderna na qual sonhava, segundo suas Memórias, em celebrar o Natal em Jerusalém "a cidade mais famosa do mundo com seus lugares sagrados."
Em novembro deste ano, o barão de Rothschild, lobista sionista influente que defendia junto ao rei da Inglaterra a ocupação judia da Palestina, foi presenteado com uma carta enviada pelo então ministro das Relações Exteriores Arthur James Balfour, informando que sua magestade concordava com a imigração solicitada. A carta dizia que os imigrantes "não deveriam fazer nada que prejudicasse os direitos civis e religiosos das comunidades não-judias (leia-se os nativos cristãos e muçulmanos)) nem os direitos políticos que os judeus desfrutavam em seus países de origem."


No contexto da época da Primeira Guerra Mundial, em que os britânicos precisavam de apoio judeu tanto no plano político-financeiro quanto científico - o influente sionista Chaim Weizmann era adulado como pesquisador "pai" da fermentação industrial e da acetona - esta Declaração chocou poucos. 
E o que ficou conhecido como a Declaração de Balfour foi incorporada no Tratato de Paz assinado na França com os turcos e a partir daí começou a discórdia na percepção da Palestina.
De um lado os judeus europeus interpretaram a Declaração como uma promessa de ocuparem as terras de um país já populado.
Do outro, os palestinos, que haviam combatido os Otomanos ao lado dos ingleses para obter independência e liberdade, se sentiram traídos e organizaram em 1919 uma Conferência Nacional para exprimir sua oposição à trama de ocupação.



Em 1922, o Conselho da Liga das Nações (européias) outorgou à Grã-Bretanha uma comissão legal para a administração da Palestina.

British Mandate, efetivado no ano seguinte os autorizava a aceitar e administrar a imigração judia, protegê-los e ao mesmo tempo defender os direitos civis e religiosos dos palestinos.
Embora os primeiros imigrantes sefarditas convivessem bem com os palestinos, alguns até antes deste ano, a quota de imigração imposta pelos ingleses logo foi ultrapassada pela imigração européia, provocando as primeiras desavenças.
Nas primaveras de 1920 e 21 nacionalistas palestinos se rebelaram e atacaram judeus em Haifa e Jaffa, e no verão de 1929, devido a rumores que os judeus estavam destruindo sítios sagrados islamitas e cristãos em Jerusalém, a população de Hebron revoltou-se contra os recém-imigrados asquenazis (judeus europeus) causando a morte de 67 pessoas. Os sefarditas (originários da África do Norte), bem integrados e fluentes em árabe, deviam ser poupados e muitos foram salvos por vizinhos.
No fim do choque Jerusalém contou 133 israelitas e 116 palestinos mortos.
Em seguida a organização para-militar sionista Haganah foi criada.


Em 1936, uma grande revolta dos nativos eclodiu por iniciativa do Alto Comando da Palestina recém-criado para defender o país do que entendiam como "invasão" judia.
A revolta começou com uma greve geral e recusa de pagar impostos aos britânicos e degenerou em uma violência que resultou na morte de duzentos soldados britânicos, quatrocentos imigrantes israelitas e cinco mil palestinos.
Enquanto isto, em Londres a influência sionista crescia. Lloyd George continuava sendo um político eminente e continuava a defender os interesses sionistas, pois "os judeus, com toda a influência que possuem, responderam nobremente às solicitações que lhes foram feitas durante a Guerra... E por isto o Governo (britânico) decidiu que era melhor garantir a simpatia e cooperação desta comunidade remarcável... Não é como se os árabes estivessem em posição de dizer que os imigrantes judeus os estão expulsando, os haitantes antigos, para fora."
Porém, o grande historiador cristão libano-egípcio George Habib Antonius, afirmava o contrário. "O estabelecimento de um Estado Judeu na Palestina, ou um lar ncional baseado em soberania territorial, não pode acontecer sem causar a deslocalização dos palestinos."       
Já sofrendo os efeitos da imigração crescente e agressiva , a revolta dos palestinos durou até 1939 e teve duas consequências importantes.
As economias israelita e palestina foram separadas e Tel Aviv deixou de usar o porto palestino de Jaffa, criando um próprio.
Os britânicos, por sua vez, procederam ao confisco de armas da população nativa. Enquanto isso o Haganah crescia criando sub-grupos como o Irgun, encarregado das retaliações junto aos civis palestinos.

Preocupada com o impasse em que se encontrava, em 1937 a Grã-Bretanha nomeou uma comissão liderada pelo lorde Robert Peel para estudar a situação e encontrar uma saída.
Considerando a escalada de violência no país, a Comissão Peel constatou a impossibilidade de amizade entre imigrados e nativos e recomendou a divisão da Palestina em dois estados.
Contudo, a imparcialidade era difícil.
Em 1938, George Habib Antonius, publicou O Despertar Árabe, onde avisa do perigo do controle de opinião pelas forças sionistas. "Em parte por causa da propaganda aberta ou velada e em parte por causa da distância das fontes árabes indispensáveis. A propagada sionista é ativa, muito bem organizada e ampla; a imprensa mundial, pelo menos nas democracias ocidentais, é bastante influencida por ela; ela comanda muitos dos canais de divulgação de notícias, e particularmente os dos países anglófonos. Em comparação, a propaganda árabe é primitiva e com muito menos técnica de comunicação, bilinguismo e recursos financeiros, vantagens que garantem a eficiência da propaganda judia. O resultado é que ao longo dos anos o mundo tem enxergado a Palestina com óculos sionistas e tem inconscientemente adquirido o costume de pensar com suas premisas."

A prova da exatidão da análise de Antonius é que no ano seguinte a Comissão Woodhead foi criada para examinar a precedente e recomendar um plano de partição para permitir que a Grã-Bretanha abandonasse o navio o mais cedo possível deixando os imigrantes judeus protegidos.
A Comissão chegou na Palestina em 1938 com três planos.
O que obteve aprovação da maioria desenhava um Estado Judeu de 1.250 km². O que correspondia a 5% do território palestino. Conforme o mapa estabelecido pela Comissão Peel, acima.
Os palestinos conservariam a maioria do seu território e a Grã-Bretanha controlaria o resto, ou seja, Jerusalém e arrabaldes como uma zona internacional, considerando a sensibilidade da área.

Os participantes da conferência de Londres 
no Palácio St James
Entretanto a questão não foi resolvida. No ano seguinte os britânicos estabeleceram um novo documento, conhecido como MacDonald White Paper em que abandonavam a ideia da divisão da Palestina em favor de outra que previa um único Estado co-governado por israelitas e palestinos, com uma garantia de restrição da imigração judia e proibição dos judeus comprarem terra árabe.
A proposta foi recusada por ambos os lados por razões opostas.
Os judeus por considerarem que era uma derrota, em relação à ambição de expansão e criação de seu próprio estado.
Os palestinos porque entenderam que a independência era uma quimera, já que os imigrados podiam bloquear o processo e os britânicos não podiam garantir que a imigração judia não recomeçasse e não aumentasse nos anos seguintes.

Foi o caso.
O controle da imigração foi impossível, sobretudo por causa dos barcos clandestinos.
Em 1945 acabou a Segunda Guerra Mundial e com a libertação dos Campos de Concentração nazistas, a pressão sionista na Europa e os ataques terroristas das organizações para-militares sionistas Irgun e Stern contra os soldados britânicos na Palestina, a Grã-Bretanha começou a pensar seriamente em uma saída do problema em que tinha se metido com o Mandato da Palestina.
Foi então que os Estados Unidos, com toda a corda da vitória, começaram a intervir diretamente na questão. O presidente Harry Truman, após visita do líder sionista Chaim Weizmann, em 1946 pressionou para que fosse criada uma nova Comissão de investigação, mas esta, Anglo-Estadunidense.
No final, a Comissão "recomendou" que a Grã-Bretanha permitisse a entrada de mais cem mil imigrantes judeus, anulasse a proibição de compra de terras árabes, e providenciasse a formação de um estado binacional israelita/palestino sob a tutela da Organização das Nações Unidas.
Foi então que os ingleses começaram a passar a batata quente para a ONU e lavar as mãos.
Enquanto isso, judeus continuavam a imigrar ilegalmente aos montes.

No dia 22 de julho de 1946, o Irgun atacou o Hotel King David jogando bombas que causaram a morte de 91 britânicos, palestinos e judeus e deixaram 46 feridos leves e graves.
O Irgun distribuia panfletos em inglês ameaçando os soldados britânicos e organizava frequentes ataques individuais e coletivos.
Em Janeiro de 1947, durante uma briga entre um operário palestino e um israelita em uma refinaria de petróleo de Jaffa, a luta virou nacionalista com mortos de ambos os lados.
Em represália às perdas judias, na noite de 30 para 31, para-militares atacaram de casa em casa Baldat al-Shaikh e Hawasa, cidades palestinas em que os operários moravam, matando cerca de sessenta pessoas em uma hora, muitas delas mulheres, velhos e crianças, na cama.
Foi o grito de alerta do que seria a Naqba e do Modus Operandis de ataques noturnos que a IDF (Exército israelense) continua mantendo.


No dia 29 de novembro de 1947 a Organização das Nações Unidas aprovou a Resolução 181.
Esta repartia o território da Palestina em dois Estados: um israelita e outro palestino, segundo o mapa ao lado, deixando a área de Jerusalém e Belém sob controle Internacional.
Porém, a decisão tomada em Nova Iorque pelos 51 membros da ONU não foi acompanhada de nenhum gesto no terreno para impor a lei e a ordem.
E os britânicos concordaram com o Plano, mas cansados dos sete anos de guerra e dos assassinatos de seus soldados pelas milícias sionistas, queriam entregar a batata quente e voltar para casa.
Então começaram a repatriar seus soldados anunciando que poriam fim a seu Mandato no ano seguinte, no mês de maio.
A partir de então, os ataques aos ingleses diminuiram e foram fixados em outro alvo, os nativos.
Não é que todos os imigrantes israelitas quisessem briga com os palestinos, muito pelo contrário, na maioria, queriam paz; é que os grupos terroristas Irgun (liderado por Menachen Begin) e Stern eram implacáveis, armados com o que precisavam, muito bem organizados e o discurso de Menachen Begin era inflamável.
Dizia que os palestinos não iam conformar-se e atacariam o que era o" pequeno Estado israelita, na guerra adiante temos de lutar sozinhos pela nossa existência e o nosso futuro."
A liderança palestina, por seu lado, estava preocupada com o número de seus compatriotas que ficariam presos na quantidade de terra dada à comunidade judia, terra que julgavam desproporcional e de melhor qualidade, já trabalhadas e aradas por seus antepassados.
A revolta começou em seguida com passeatas em Jerusalém
E nem bem os britânicos começaram as primeiras etapas de sua retirada as milícias sionistas começaram os massacres nas cidades palestinas.
Doze em um dia, no dia seguinte, uma bomba matou mais sete e feriu 23 na Porta de Damasco, em Jerusalém; outra matou seis e feriu 40 em Jaffa; e em Yehida, soldados britânicos conseguiram restringir o número de vítimas a sete - um carro de patrulha intervindo por acaso. Este dia 13 ficaria na história.
A Naqba estava em marcha.
No dia 18, dois carros carregados de membros do Haganah entraram em Khisas, na fronteira com a Síria, descarregando metralhadoras e jogando granadas. Quando saíram, deixaram vários feridos e dez mortos.
No dia 19, uma casa foi bombardeada em Qazaza, e entre os mortos, tinha cinco crianças.

Em janeiro, no dia 6, com o propósito de forçar os palestinos a abandonarem Jerusalém, o Irgun e a Agência Judia, decidiram bombardear o hotel cristão Semiramis de madrugada provocando a morte de 26 pessoas e ferindo outras tantas.

Outros ataques se sucederam, mas a apoteose foi em abril, na reta final da retirada britânica, durante a noite do dia 9, quando a milícia do Irgun cercou a cidadezinha de Deir Yasin, próxima de Jerusalém, e depois de dar 700 moradores endormecidos 15 minutos para abandonarem suas casas, foram de casa em casa jogando granadas e atirando nos que ficaram.
Mataram 254 mulheres, homens e crianças (jogando corpos em cisternas), feriram 300 e desfilaram pelo setor judeu de Jerusalém com as 150 mulheres e crianças capturadas. Muitos deles seriam levados de volta para Deir Yasin para serem executados.
A Agência Judia, liderada por David Ben-Gurion e o Haganah condenaram a atrocidade, contudo, só permitiram que a Cruz Vermelha acedesse ao local três dias mais tarde.
A indignação dos palestinos foi maior ainda porque os moradores de Deir Yasin tinham assinado um tratado de não-agressão com a colônia judia Giv'at Shaul e tinha recusado proteção armada.
Nos dias 13 e 14 do mesmo mês, membros das milícias Lehi e Irgun entraram em Naser Al-Din (perto de Tiberias) disfarçados com roupas árabes e só pararam de atirar quando todos os habitantes estavam no chão. Só 40 pessoas sobreviveram ao massacre e todas as casas foram derrubadas.
Naqba continuou o ano todo.

No canto do cisne do Mandato Britânico, no dia 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência, sem preocupar-se com a ONU e sua Resolução.
A Declaração de Independência do Estado de Israel foi lida publicamente em Tel Aviv e o Vaad Leumi, Conselho Nacional Judeu, reuniu-se no Museu de Arte da cidade em um local que chamam de Independence Hall para aprovar a proclamação, unilateral.
O novo Estado e governo foram reconhecidos nos minutos seguintes pelos Estados Unidos da América.
O resto foi questão de forma.

Nos dias 21-22 de abril, os palestinos que sobravam dos 75.000 da cidade de Haifa, foram acossados na operação que o Haganah chamou de Bi'ur Hametz ( מבצע ביעור חמץ‎), "Limpeza da Páscoa", e no fim do que ficou conhecido como "Batalha de Haifa", só quatro mil sobravam.
Em julho de 1948, o jornal escocês the Scotsman publicou que "Em Haifa os judeus abriram um gueto para os palestinos. Quatro ruas foram cercadas de arame farpado e, como os judeus em Cracóvia (sob os nazistas), cristãos e muçulmanos têm de viver e dormir sob guarda. Empresários podem solicitar passes para saírem durante o dia... é difícil visualizar uma população mais oprimida e aterrorizada do que os palestinos que ficaram."
Em maio os palestinos de Jaffa tiveram o mesmo destino dos vizinhos. Cerca de 50.000 foram empurrados para o mar e forçados à diáspora.

No dia 11 de dezembro de 1948, com o escândalo internacional da Naqba e do êxodo compulsório dos palestinos, as Nações Unidas publicaram a Resolução 194, tristemente famosa e jamais posta em prática. Esta ordenava a desmilitarização, acesso livre a Jerusalém e aos sítios sagrados, e sobretudo, o retorno dos palestinos expulsos de casa.
Resolução vã, já que não foi acompanhada de nenhum meio de pressão e que no mesmo dia 11, mas de maio do ano seguinte, em outra Resolução, n° 273, a ONU, apesar da Naqba e da "independência" unilateral, reconheceu o Estado de Israel (esquecendo de reconhecer o Estado da Palestina) com uma frase surreal sobre o novo membro da Organização das Nações Unidas: Israel is a peace loving State which accepts the obligations contained in the Charter and is able and willing to carry out those obligations.
Sir John Bagot Glubb, conhecido como Glubb Pasha e por ter sido comandante da Legião Árabe da Transjordânia durante a II Guerra Mundial, chegou a comentar emocionado que "a tragédia judia aconteceu em nações cristãs da Europa e América. Pelo menos a consciência do cristianismo foi despertada. A longa tragédia judia tem de cessar. Mas quando chegou a hora de pagar compensação expiatória, as nações ocidentais decidiram que a conta seria paga por uma nação árabe."    
Os refugiados vítimas da Naqba que passam para seus descendentes a chave da casa ancestral, desapropriada ou destruída, como o bem mais precioso da família que o digam.
Documentário Journeyman: Deir Yassin remembered
Early in the morning of April 9, 1948, commandos of the Irgun (headed by Menachem Begin) and the Stern Gang attacked Deir Yassin, a village with about 750 Palestinian residents. The village lay outside of the area to be assigned by the United Nations to the Jewish State; it had a peaceful reputation. But it was located on high ground in the corridor between Tel Aviv and Jerusalem. Deir Yassin was slated for occupation under Plan Dalet and the mainstream Jewish defense force, the Haganah, authorized the irregular terrorist forces of the Irgun and the Stern Gang to perform the takeover.
In all over 100 men, women, and children were systematically murdered. Fifty-three orphaned children were literally dumped along the wall of the Old City, where they were found by Miss Hind Husseini and brought behind the American Colony Hotel to her home, which was to become the Dar El-Tifl El-Arabi orphanage.


A construção da Naqba

The Promise
I
II
III
IV
Mini-série da BBC: The Promise, de Peter Kominsky
A Promessa retrata o fim do Mandato Britânico e também aspectos atuais do conflito em quatro episódios historicamente realistas.
A parte contemporânea é no início de 2005, e por isto mostra os últimos atentados suicidas palestinos que pararam nesse período.
A parte de 1945 conta a história com a ótica de um soldado britânico, que fez a promessa mais importante que se possa fazer a um palestino.

Documentário canadense de Ronen Berelovich : The Zionist Story

Documentário da BBC: The Birth of Israel

Documentário: Jerusalém 1948 - Yoom Ilak, Yoom Aleik
De Leon Willems e titus Kraner
Tenta explicar a complexidade histórica da Naqba através de entrevistas com sobreviventes e documentos da época.

Livro: O nascimento do problema dos refugiados palestinos,
1947-1949
Do historiador israelense Benny Morris, diplomado na Universidade de Jerusalém e doutorado em Cambridge.
O livro é baseado em arquivos sionistas e do grupo para-militar Haganah.




"...and may I add another similar statement by Erich Fromm, criticizing the Zionist assertion that Palestine is the land of the Jews, noting: "The principle holds that no citizen loses his property or his rights of citizenship and the citizenship right is de facto a right to which (Palestinians in Israel) have much more legitimacy than the Jews.... If all nations would suddenly claim territories in which their forefathers lived two thousands years ago, this world would be a madhouse." (Jewish Letter, February 9, 1959)
Ed Seiler of the Asimov Society responded to a query by Ed Corrigan.

Reservista da IDF, Forças isralenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence

Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Try-not-to-cry, de Yusuf Islam e The Outlandish, sobre o massacre de Deir Yassin