Na semana passada muitos demonstraram simpatia com a decisão do Brasil de reconhecer o Estado Palestino nas fronteiras anteriores a 1967. Ou seja, a que respeita a linha verde, derruba o muro da vergonha e liberta a Palestina das colônias e do exército israelense de ocupação.
Mais uma vez, tive orgulho de ser brasileira.
É claro que quem não entende a defesa dos palestinos e a decisão brasileira nunca esteve por aquelas terras santificadas e malditas.
Os que já estiveram e em vez de só subir e descer de ônibus nos lugares marcados sem deixar na Cisjordânia uma divisa ou um shekel sequer para os palestinos que cuidam dos sítios cristãos sagrados, jamais perguntaram nada parecido. Estes enxergam o que o Lula viu e que envergonha de Jimmy Carter, Henning Mankell, Desmond Tutu a nós jornalistas, aos militantes de direitos humanos, sobretudo os israelenses, e que embaraça cada dia mais os organismos internacionais que fazem as leis nas quais Israel pisa.
A resposta é simples. Fazer vista grossa e cruzar os braços é a antítese de estender a mão e de dar a outra face. O jornalismo que escolhi já na faculdade não é só o de chegar junto ou de enfocar a pontinha do iceberg, que na nossa profissão corresponde a “editar” press release sem destrinchá-lo.
Minha repulsão à barbárie começou aos 13 anos, na aula de história quando a dona Léa mostrou entre outras coisas os horrores do nazismo, de Hitler e dos campos de concentração em que homossexuais, comunistas, judeus, deficientes mentais e físicos e todos os opositores, eram tratados como lixo e depois gazeados e despejados em covas coletivas. (Com os ciganos nem se davam ao trabalho – eram fuzilados na hora. Isto ela não disse.)
Como foi possível?! Ela culpou a incipiente rede de comunicações, que se fosse como a presente isto jamais teria acontecido. Acho que nem ela acreditava no que dizia.
Até então eu ainda titubeava entre advocacia, psicologia e arqueologia. Foi aí que escolhi juntar as três matérias em uma e ser jornalista. A geopolítica veio com o estudo, o aprendizado das pessoas, dos fatos e a visão em macro da vida e do mundo.
Quanto mais conhecia a situação da Palestina, mais sabia que a questão religiosa era uma cortina de fumaça e que as gerações futuras julgariam a de agora, a nossa, e perguntariam onde estávamos quando os palestinos estavam sendo espoliados, sequestrados, torturados, ocupados, sitiados, concentrados e tratados como animais por um vizinho expansionista - como a nossa geração celebra os Justos e condena os nazistas e seus cúmplices ativos e passivos. No país abençoado por Deus, bonito por natureza e protegido pelo Cristo, tolerar ocupação e limpeza étnica é incabível.
Tenho amigos judeus e israelenses. Não sou pró-Israel e nem pró-Palestina. Sou contra a desinformação que prima e pró-informação cidadã do mundo em que vivo. E no caso da Palestina, são as leis internacionais que ditam o partido da Moral e do Direito, apesar de alguns sionistas integristas discursarem sobre o direito de Israel se proteger a qualquer preço.
Segundo as ONGs israelenses de Direitos Humanos, a melhor defesa de Israel é o respeito destas leis internacionais, o desmantelamento das colônias na Cisjordânia, a retirada do exército de ocupação e o fim dos check points nos quais os palestinos são humilhados e em que o acesso às escolas é bloqueado. Com estas medidas o país obteria a convivência pacífica com que sonha a grande maioria. Esta é a maior vantagem que levarão quando se renderem ao pragmatismo construtivo, dizem os pacifistas.
Eu não tenho mais as mesmas certezas maniqueístas da juventude. Tenho muitas dúvidas. São elas que me conduzem a cavar fundo e largo sem preconceito ou ideia pré-estabelecida e deixar o leitor tomar o seu partido. Neste blog tento informar com uma ótica humanitária e humanista em fase com a ética aprendida no curso de jornalismo, nos livros de filosofia e na convivência com seres humanos que me puxam para cima.
Por isto, antes de resolver traçar-lhes a história de Israel e da Palestina, resolvi presenteá-lo, presenteá-la, com uma pérola de reportagem.
Se puder, compre o DVD que garante remuneração ao imenso trabalho investigativo e tem legenda, que evita mal-entendido.
O documentário vem dos Estados Unidos e é considerado pelos profissionais o melhor que foi feito sobre o assunto. Não é exaustivo e nem abrange os últimos acontecimentos – bombardeio e invasão de Gaza em 2008/09 e ataque da Flotilha humanitária em maio, expansão das colônias e espoliação hídrica desenfreada, mas é o documento visual jornalístico mais completo que existe.
Occupation 101 foi feito por Sufyan Omeish e Abdallah Omeish em 2007. Ganhou vários prêmios internacionais, entre estes, da BBC, de melhor documentário.
A desinformação não é uma sina. Informar-se a fundo é importante antes de tomar partido.
Bom filme.
Site oficial de Occupation 101: http://www.occupation101.com/about.html
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