domingo, 15 de dezembro de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XLVI (10-2004)



No fim de setembro de 2004 Ariel Sharon desencadeou a Operação Dias de Penitência no norte da Faixa de Gaza.
O nome da Operação foi inspirado do período do ano em que o massacre foi efetuado. O das grandes festas do judaísmo que terminam no Yom Kipur.
Enquanto os israelenses alienados celebravam a aproximação do ano novo judaico e outros como Gideon Levi (artigo baixo) se indignavam com a reação desproporcional do Primeiro Ministro Bulldozer à defesa belicosa do Hamas, a IDF penetrava na Faixa de Gaza com o arsenal mais moderno e potente do mercado de armas.
Os primeiros a mostrarem a cara no solo foram os batalhões permanentes baseados na colônia judia Nissanit, na Zona industrial de Erez Crossing e nas fronteiras noroestinas da Faixa.
Tanques, caterpillars armados e cruéis, como a IDF chama carinhosamente seus outros veículos militares, rebentavam estradas, esmagavam automóveis, lavouras, casas e estacionavam em posições estratégicas em volta dos campos de refugiados Jabalia, Izbet Beit Hanun e Beit Lahia, esperando pelo apoio aéreo.
Nem precisavam, pois sua munição em solo era tamanha que só com ela cometeriam todos os estragos que desejavam.

Porém, a IDF, ou os chefes de Estado israelenses, acham que precisam exibir sua potência sempre que possível para mostrar aos EUA que o dinheiro que recebem de lá é mesmo útil. Por issoquando ataca, ataca como se estivesse combatendo a OTAN e os Estados Unidos ao mesmo tempo em vez de civis desarmados e um punhado de resistentes armados precariamente.
Além disso, os batalhões se colocaram em posições estratégicas que permitiam que vigiassem os campos do alto enquanto cercavam as entradas como haviam feito em Sabra e Shatila no Líbano em 1982. Com a prática de Sabra e Shatila e de outros massacres que haviam protagonizado ou permitido, o sítio foi formado em poucas horas.

Durante os 17 dias seguintes, cerca de 200 veículos militares impuseram seu peso e seus morteiros nestes três campos super-populados atirando em civis, em ambulâncias e voluntários que iam ajudar as famílias sitiadas atingidas por bombas e balas.
Os oliveirais, as hortas, enfim, culturas inteiras eram esmagadas como se fossem ervas daninhas, a infraestrutura pública era destroçada, escolas eram destruídas sala por sala.
O aprovisionamento em água foi danificado assim como foram desmanteladas as redes de esgoto e a fiação elétrica de toda a área.
Como era de praxe quando a IDF invadia cidades e campos de refugiados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

Durante os Dias de Penitência, 36.000 palestinos foram sitiados em condições mais do que precárias: sem provisões, sem eletricidade, sem água.
O objetivo declarado da Penitência imposta pelo deus Sharon era evitar o lançamento dos foguetes artesanais que eram lançados em Sderot dessa área.
Os tais foguetes, até então, ou seja, desde o início da Intifada Al Aqsa em 2000, haviam causado a morte de 4 isarelenses.
No fim da segunda semana de "Penitência", segundo uma investigação instantânea no dia 16 de outubro de 2004,  a IDF já matara 133 palestinos. Dentre eles, 42 menores de 18 anos e ferira gravemente mais de 400 habitantes dos campos sitiados.
Os mortos incluiam nove alunos e dois professores de seis escola da ONU que foram bombardeadas sem aviso prévio em dia de aula.
Do lado dos agressores, cinco pessoas perderam a vida. Três civis e dois soldados.

No dia 02 de outubro, nos primeiros dias do ataque, Yasser Arafat, sitiado e já extremamente debilitado, declarou a Faixa de Gaza zona de calamidade e apelou pela intervenção da ONU para que Sharon parasse a orgia destruidora.
Em vão.
Ariel Sharon só pararia 15 dias mais tarde. Pararia porque já não tinha mais o que derrubar e não podia seguir em frente sem que os colonos judeus sofressem com a operação militar.
Este problema tático deve ter reforçado sua decisão de desmantelar as colônias judias na Faixa e transportar os invasores para outras novinhas em folha na Cisjordânia. Lá ganharia terreno em sua limpeza étnica e deixaria a Faixa de Gaza livre para ser bombardeada à vontade inclusive com armas químicas.

Em 2004, mesmo os colonos ainda estando em invasões idílicas perto dos campos de refugiados, o balanço da intervenção "cirúrgica" foi dramático.  
91 casas foram totalmente destruídas, muitas mais danificadas, 143 famílias ficaram desabrigadas o dobro ficou em casas sem parede, depredadas.
O custo total da reconstrução foi avaliada por alto a mais de US3 milhões de dólares que os refugiados, já despojados de casa e pertences na Naqba, não tinham de onde tirar.
683 pessoas estavam recebendo cuidados médicos de voluntários.
19 repartições públicas foram destruídas assim como a maioria das propriedades comerciais privadas. Estes imóveis estavam perfurados de balas, de buracos de morteiros, esmagados por caterpillars armados, ou bombardeados pelos Apaches dos ares.

E enquanto esta Operação atraía os olhares, Sharon aproveitou para desapropriar com os caterpillars armados 482 palestinos que perderam da noite pro dia tudo o que tinham. Em Rafah. No sul da Faixa.
No fim de outubro, mais de 12.600 gazauís apresentavam sequelas visíveis de ferimentos causados por ataques israelenses. 1.796 haviam perdido a vida durante a Intifada.
O número mensal de gazauís cujas casas haviam sido destruídas atingia o número alarmante de 1.360.
Por dia, mais de 45 pessoas eram expulsas de casa de madrugada e viam nos minutos seguintes suas casas serem postas abaixo. "Por razões de segurança", era a ladainha do serviço de comunicação israelense que os jornais publicavam.
Os desabrigados citados acima eram só os da Faixa de Gaza.
Na Cisjordânia o número era ainda mais alto. Pois desapropriavam a toque de caixa para aumentar as colônias judias que receberiam os que chegariam da Faixa.
Os danos materiais da Operação Dias de Penitência foram desumanos. Os tanques arrancaram o asfalto de todas as ruas, cavaram burados para impedir o trânsito, atiraram nos comércios e residências para aterrorizar, matar ou simplesmente "deixar lembrança".
Um vandalismo físico e moral que realmente deixaria muitas marcas nos sobreviventes jovens e meninos, impotentes diante de tamanha violação física e emocional.
Aliás quase todo menino palestino sofre de PTSD - Estresse Pós-traumático, comum nas vítimas de traumatismos emocionais e físicos muito fortes.

No dia 07 de outubro houve um atentado a bomba no hotel Hilton em Taba, estação balneária no Sinai bastante frequentada por turistas de Israel. Houve 34 vítimas, dentre elas 13 israelenses.
Apesar da tentativa inicial de culpar o Hamas, o desmentido chegou rapidinho. Além do desmentido oficial, era óbvio que o Hamas jamais correria o risco de indispor Hosni Mubarack contra os refugiados palestinos no Egito organizando um ataque em seu território.
Portanto, a distração da atenção dos Dias de Penitência para outro acontecimento foi vã.

Não precisava nem distrair a atenção de ninguém. Pois embora Kofi Annan, então Secretário Geral das Nações Unidas, tenha reclamado e condenado os Dias de Penitência, a comunidade internacional restringiu-se a dar lição de moral ao governo israelense. Que não estava nem aí para a sua imagem.
O importante em Tel Aviv era e é simplesmente a posição de Washington que, graças ao lobby milionário que financia as campanhas presidenciais de ambos partidos, lhe é sempre favorável. Só o grau é que varia conforme o presidente.

No dia 26 de outubro, após a tempestade dos Dias de Penitência, o general Ariel Sharon conseguiria que o Knesset aprovasse seu plano de desmantelamento das invasões idílicas israelenses na Faixa de Gaza.
Na época, ninguém tocou no assunto que queimava as línguas. A da mudança dos invasores para a Cisjordânia. A decisão foi celebrada no mundo dito civilizado como uma prova de boa vontade...

No dia 29, sexta-feira, Yasser Arafat deixaria a Cisjordânia onde estava confinado há mais de dois anos. Foi transportado com urgência para Paris a fim de ser receber tratamento médico especializado. Fazia meses que lutava contra uma doença que nenhum médico árabe conseguia identificar.
A Franca era a última esperança do líder palestino cujo estado se agravava dia a dia e que sentia sua fraqueza aumentar, ao ponto de concordar em correr o risco de não poder retornar à Palestina - sabia que o general Ariel Sharon jamais o deixaria voltar para casa sem grande pressão internacional, mas foi obrigado a aceitar a oferta do Presidente da França porque do jeito que estava, sabia que de qualquer jeito não tinha nenhuma serventia aos seus compatriotas.

Abu Ammar (Yasser Arafat) deixou em seu lugar Abu Mazem, ex-Primeiro Ministro que começaria a ficar conhecido internacionalmente pelo nome de Mahmoud Abbas.


"More than 30 Palestinian children were killed in the first two weeks of Operation Days of Penitence in the Gaza Strip. It's no wonder that many people term such wholesale killing of children "terror." 
Whereas in the overall count of all the victims of the intifada the ratio is three Palestinians killed for every Israeli killed, when it comes to children the ratio is 5:1. 
According to B'Tselem, the human rights organization, even before the current operation in Gaza, 557 Palestinian minors (below the age of 18) were killed, compared to 110 Israeli minors.
Palestinian human rights groups speak of even higher numbers: 598 Palestinian children killed (up to age 17), according to the Palestinian Human Rights Monitoring Group, and 828 killed (up to age 18) according to the Red Crescent. Take note of the ages, too. 
According to B'Tselem, whose data are updated until about a month ago, 42 of the children who have been killed were 10; 20 were seven; and eight were two years old when they died. The youngest victims are 13 newborn infants who died at checkpoints during birth.
With horrific statistics like this, the question of who is a terrorist should have long since become very burdensome for every Israeli. 
Yet it is not on the public agenda. Child killers are always the Palestinians, the soldiers always only defend us and themselves, and the hell with the statistics.
The plain fact, which must be stated clearly, is that the blood of hundreds of Palestinian children is on our hands. 
No tortuous explanation by the IDF Spokesman's Office or by the military correspondents about the dangers posed to soldiers by the children, and no dubious excuse by the public relations people in the Foreign Ministry about how the Palestinians are making use of children will change that fact. 
An army that kills so many children is an army with no restraints, an army that has lost its moral code.
As MK Ahmed Tibi (Hadash) said, in a particularly emotional speech in the Knesset, it is no longer possible to claim that all these children were killed by mistake. An army doesn't make more than 500 day-to-day mistakes of identity. No, this is not a mistake but the disastrous result of a policy driven mainly by an appallingly light trigger finger and by the dehumanization of the Palestinians. 
Shooting at everything that moves, including children, has become normative behavior. Even the momentary mini-furor that erupted over the "confirming of the killing" of a 13-year-old girl, Iman Alhamas, did not revolve around the true question. 
The scandal should have been generated by the very act of the killing itself, not only by what followed.
Iman was not the only one. Mohammed Aaraj was eating a sandwich in front of his house, the last house before the cemetery of the Balata refugee camp, in Nablus, when a soldier shot him to death at fairly close range. He was six at the time of his death. Kristen Saada was in her parents' car, on the way home from a family visit, when soldiers sprayed the car with bullets. She was 12 at the time of her death. 
The brothers Jamil and Ahmed Abu Aziz were riding their bicycles in full daylight, on their way to buy sweets, when they sustained a direct hit from a shell fired by an Israeli tank crew. Jamil was 13, Ahmed six, at the time of their deaths.
Muatez Amudi and Subah Subah were killed by a soldier who was standing in the village square in Burkin and fired every which way in the wake of stone-throwing. Radir Mohammed from Khan Yunis refugee camp was in a school classroom when soldiers shot her to death. She was 12 when she died. All of them were innocent of wrongdoing and were killed by soldiers acting in our name.
At least in some of these cases it was clear to the soldiers that they were shooting at children, but that didn't stop them. 
Palestinian children have no refuge: mortal danger lurks for them in their homes, in their schools and on their streets. 
Not one of the hundreds of children who have been killed deserved to die, and the responsibility for their killing cannot remain anonymous. 
Thus the message is conveyed to the soldiers: it's no tragedy to kill children and none of you is guilty.
Death is, of course, the most acute danger that confronts a Palestinian child, but it is not the only one. 
According to data of the Palestinian Ministry of Education, 3,409 schoolchildren have been wounded in the intifada, some of them crippled for life. 
The childhood of tens of thousands of Palestinian youngsters is being lived from one trauma to the next, from horror to horror. Their homes are demolished, their parents are humiliated in front of their eyes, soldiers storm into their homes brutally in the middle of the night, tanks open fire on their classrooms. And they don't have a psychological service. Have you ever heard of a Palestinian child who is a "victim of anxiety"?
The public indifference that accompanies this pageant of unrelieved suffering makes all Israelis accomplices to a crime. 
Even parents, who understand what anxiety for a child's fate means, turn away and don't want to hear about the anxiety harbored by the parent on the other side of the fence.
Who would have believed that Israeli soldiers would kill hundreds of children and that the majority of Israelis would remain silent? 
Even the Palestinian children have become part of the dehumanization campaign: killing hundreds of them is no longer a big deal."
Gideon Levi. Publicado no jornal israelense Haaretz do dia 17/10/2004.


Documentário da israelo-marroquino-francesa Simone Bitton, 2004
MUR
Parte VI - legendas em português, (10')


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